O momento político brasileiro coloca muitas questões; acredito que uma delas, talvez de mais longo prazo, seja sobre o futuro do lulismo. Pesquisas recentes do Ibope, que perguntaram sobre quem o eleitor escolheria (se a eleição fosse hoje) entre Lula e Aécio e entre Lula e Alckmin, mostraram que as bases sociais e eleitorais que nas últimas três eleições deram seus votos a Lula e depois Dilma (duas vezes) podem estar mudando de sentimento.
Embora batesse Aécio no Nordeste (48% X 35%) e entre os muito pobres (que ganham até 1 salário mínimo de renda familiar), Lula perderia para o tucano nos demais segmentos de renda. Entre os eleitores que ganham entre 1 e 2 mínimos, a preferência seria por Aécio, atingindo uma faixa expressiva do eleitorado e bastante fiel a Lula (mais do que ao PT). Caso a eleição fosse hoje, segundo o Ibope, Lula bateria Alckmin com mais facilidade nas suas bases tradicionais – Nordeste e menor renda –, mas com uma vantagem bastante inferior ao que foi no passado.
Mas, o que seria, afinal, o ‘lulismo’? Se trata da “relação estabelecida por Lula com os mais pobres, os quais, beneficiados por um conjunto de políticas voltadas para melhorar as suas condições de vida retribuíram na forma de apoio maciço e, em algumas regiões, fervoroso da eleição de 2006 em diante”. A definição é do cientista político da USP, André Singer, e está no seu livro Os Sentidos do Lulismo (Companhia das Letras).
Singer não é um analista neutro. Ele foi porta-voz e secretário de imprensa de Lula no primeiro mandato presidencial. Feito o alerta, e me perguntando se existe análise política desinteressada neste mundo, prossigo.
Ao lulismo correspondeu uma “base lulista” incrustada nos mais pobres – 40% da população brasileira vivem com renda familiar mensal de até dois salários mínimos. Esta base, segundo Singer, encontrou no ‘lulismo’ uma plataforma na qual o Estado é “capaz de ajudar os mais pobres sem confrontar a ordem” – um meio termo possível no qual os mais pobres tiram da política o que ela sempre deu a outros.
Esta “base” sócio-eleitoral foi de Collor em 1989 – o “caçador de marajás” – e de FHC, o “responsável pelo Real”, em 1994. Depois, fiel a Lula. Estará de mudança mais uma vez? Se sim, para onde? Quais forças políticas abraçariam seus anseios?
As próximas eleições presidenciais (salvo mudanças bruscas de rota) estão distantes e os problemas atuais, principalmente os econômicos, são urgentes. Ao que tudo indica, são estes problemas que fundamentalmente corroem as bases das preferências que um dia existiram por Lula. As pesquisas mais recentes revelam um grau profundo de pessimismo entre a população.
Na rejeição geral ao governo (apenas 9% acreditam que este seja ótimo/bom, segundo a CNI/Ibope de junho), cresceu de março para cá a desaprovação em dois pontos chave para a sustentação do chamado lulismo: 83% (antes eram 79%) desaprovam a maneira como Dilma combate o desemprego e 68% (antes eram 64%) desaprovam as políticas de combate à fome e à pobreza.
Provavelmente mais do que qualquer outro fator, esteja na economia a resposta para a pergunta que dá título a este post.
17 de julho de 2015
Rogério Jordão
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