Se verdadeira ou inventada, divulgou-se a versão de que o Lula, em Roma para cumprimentar José Graziano por sua recondução na diretoria-geral da FAO, teria comentado com a presidente da Argentina que “os países não podem contar com a área econômica de seus governos para realizar programas sociais”. Teria acrescentado que “se cada presidente ficar esperando que o ministro da Fazenda diga estar sobrando dinheiro, nunca fará um programa de transferência de renda”.
Cristina Kirchner pode ter concordado ou não, mas o alvo desse comentário, vale repetir, se verdadeiro, foi a presidente Dilma. Assim como seu ministro da Fazenda, Joaquim Levy. Sinais existem de que o Lula não engoliu as propostas de ajuste fiscal apresentadas pelo novo ministro. Em especial no que se refere às restrições aos direitos trabalhistas, como seguro desemprego, abono salarial e as pensões das viúvas. O diabo é que Dilma não apenas autorizou, mas defendeu e defende publicamente o retrocesso. Embarcou nas restrições neoliberais de Levy, que a Câmara dos Deputados aprovou.
Precisará sustentá-las a partir de quinta-feira, em Salvador, diante de um PT insatisfeito, no V Congresso Nacional do partido. Acrescente-se, na presença do Lula. Grandes esforços vêm sendo feitos pelos companheiros dirigentes para evitar críticas ostensivas à política do ajuste fiscal, mas se o antecessor discorda dos planos neoliberais adotados pela sucessora, no mínimo a temperatura vai subir na reunião. Mesmo que o Lula se cale, ou até figuradamente peça apoio do plenário a Dilma, não haverá como evitar o racha. Porque a maioria do PT, com seu fundador à frente, sabe estar perdendo e mais perderá o respaldo de suas bases. Não faltarão vozes para a discordância.
DE OLHO EM 2018
Os companheiros pensam longe. Estão de olho nas eleições presidenciais de 2018, passando pelo ano que vem, quando das escolhas de prefeitos e vereadores. Sabem que não será andando de bicicleta que Madame evitará a rejeição do eleitorado ou irá recuperar a popularidade. Muitos já duvidam da disposição do Lula de candidatar-se. Tinha uma reeleição certa antes dos panelaços, mas não esquece que por três vezes foi derrotado na disputa pela presidência, mesmo tendo vencido duas.
Em suma, a convenção deste fim de semana na capital baiana servirá de termômetro. Um teste fundamental dentro de casa. Dilma e Lula poderão até entrar juntos no auditório, com os aplausos abafando o silêncio. A discordância estará do lado de fora, na Bahia e no país inteiro, se o ministro da Fazenda continuar sustentando não haver dinheiro para o trabalhador…
08 de junho de 2015
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