Foi aproximadamente isso que aconteceu em São Paulo na sexta-feira quando o ministro Joaquim Levy anunciou, na sede da ANBIMA novas regras a respeito dos financiamentos a serem concedidos pelo BNDES as empresas que solicitarem seu crédito. Hoje os créditos incluem os juros de apenas 6% anuais, quando os bancos privados cobram, para esse tipo de operação 3% mensais. Mas esta é outra questão . O fato essencial é que, pela nova regulamentação, as empresas para obterem os juros de 6% terão que emitir no mercado aberto 25% do crédito solicitado com a emissão de debêntures ou títulos voltados para captação de recursos. Caso não o façam perderão o direito à taxa de juros subsidiada.
Muito bem. Emitir debêntures não é o problema. A questão, dentro da lógica de Garrincha, é encontrar quem os absorva na prática do mercado de capitais. O volume a ser negociado não pode ser pequeno, já que as operações mínimas de financiamento pela TJLP devem ser de 200 milhões de reais.
O objetivo, disse o ministro da Fazenda, é ampliar o crédito de longo prazo, mas falta certamente combinar com àqueles que se dispuserem a aceitar os papeis, cuja remuneração evidentemente não pode ser de apenas 6% ao ano. Claro. Pois neste caso a rentabilidade seria inferior a que é oferecida pelos títulos que lastreiam a dívida interna do país, regidos pela Selic, agora no patamar de 13,75% a/a.
NO LIMITE
O ministro Joaquim Levy afirmou que os mecanismos antigos de crédito de longo prazo com utilização de recursos da poupança e do FGTS estão no limite, mas existe demanda no mercado para emissões privadas de projetos de longa duração. Fundos de investimentos e de pensão já querem comprar papeis de prazo maior e essa procura – acrescentou – deve crescer com o cenário econômico melhor.
Melhor? Pergunto eu. Como? Por coincidência, o titular da Fazenda responde: Enfrentando a questão fiscal e a confiança voltando, as pessoas vão querer investir. O Brasil amadureceu, tem novos desafios e temos que estar preparados para respondê-los.
A dúvida é se as emissões previstas por Joaquim Levy vão se realizar na prática. Ele parece ter certeza que sim, baseando-se na força teórica de seus amplos conhecimentos econômicos, mas a teoria é uma coisa a prática outra. O papel,da mesma forma que o computador, aceita o que nele se coloca. A realidade, não.
QUESTÃO DE LIQUIDEZ
Dificilmente o mercado de capitais poderá absorver títulos de empresas que buscam financiamentos a longo prazo, trata-se de uma questão de liquidez. A menos, isso sim,que adquiram notas do Tesouro Nacional que são garantidas pelo governo e apresentam remuneração muito acima do índice inflacionário. É só comparar: de um lado 13,75%, de outro 8,2%.
Essa captação, sem dúvida alguma, é atraente. Tanto assim, como revela a reportagem de Lino Rodrigues e Thais Lobo, O Globo edição de sábado,06, a taxa de remuneração pela Selic é, em termos concretos, a maior do mundo. Daí seu poder de atração de grande parte por empresas estrangeiras, conforme divulgou o Financial Times, traduzido pela Folha de São Paulo, também na edição de sábado. O Financial Times assinalou que 20% da dívida pública brasileira, portanto 480 bilhões de reais, estão nas mãos de estrangeiros.
A captação de recursos com base na taxa Selic torna-se, assim, essencial para o Brasil. Cada vez mais. Pois não teria sentido o devedor propor ao credor aumentar a taxa de juros que paga, se não tentasse com esse lance obter novos financiamentos no mercado nacional e também no mercado internacional. Devedor propor ao credor pagar mais pelo financiamento? Essa não. A teoria na prática é outra coisa.
08 de junho de 2015
Pedro do Coutto
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