"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 14 de junho de 2015

É UM FIM DE CAMINHO, NÃO SÓ DO ATUAL PROJETO BRASIL, MAS DO MUNDO




“É pau, é pedra, é o fim de um caminho: um projeto Brasil”. Esse é o título de um artigo do editor César Benjamin na revista “Piauí” de abril de 2015. Talvez seja uma das mais instigantes interpretações da megacrise brasileira, fora do arco teórico do repetitivo e enganoso discurso a partir do PIB. Afirmam-se aí, no meu entender, dois pontos básicos: o esgotamento da forma de fazer política do PT (lulismo) e a urgência de se pensar um projeto de Brasil, a partir de novos fins e de novos valores.
Face à crise atual ganham força as palavras severas de Celso Furtado num livro que vale ser revisitado: “Brasil: A Construção Interrompida” (1993): “Falta-nos a experiência de provas cruciais, como as que conheceram outros povos cuja sobrevivência chegou a estar ameaçada. E nos falta também um verdadeiro conhecimento de nossas possibilidades e, principalmente, de nossas debilidades. Mas não ignoramos que o tempo histórico se acelera e que a contagem desse tempo se faz contra nós. Trata-se de saber se teremos um futuro como nação que conta na construção do devenir humano. Ou se prevalecerão as forças que se empenham em interromper o nosso processo histórico de formação de um Estado-nação”. E conclui pesaroso: “Tudo aponta para a inviabilização do país como projeto nacional”.
PROVA CRUCIAL
Estimo que a grande e decisiva “prova crucial” chegou. Tenho colocado com frequência esta alternativa: ou nos propomos refundar o Brasil sobre uma nova visão de mundo e de futuro, ou seremos condenados a ser um apêndice do projeto-mundo que entrou em crise nos países centrais, alastrando-se por todo o sistema e que não consegue encontrar uma saída viável.
O meu modesto sentimento do mundo me diz que importa realizar as seguintes transformações se quisermos sair bem da crise e ter um projeto autônomo de nação:
1) Assumir o paradigma contemporâneo, que já possui um século de formulação: o eixo estruturador não serão mais a economia sustentável e o PIB, mas a vida. A vida da Terra viva, a diversidade da vida e a vida humana. O capital material esgotado dará lugar ao capital humano cultural inesgotável, permitindo-nos ser mais com menos e integrar todos na mesma casa comum. Tudo o mais deve colocar-se a serviço dessa biocivilização, chamada também de “terra da boa esperança”. A continuar, o paradigma atual nos levará fatalmente ao pior dos mundos.
2) Fazer uma verdadeira reforma política, pois a que foi feita não merece esse nome e é fruto de reles fisiologismo.
3) Fazer uma reforma tributária para diminuir as desigualdade do país, um dos mais desiguais do mundo, vale dizer, em termos ético-políticos, também dos mais injustos.
4) Fazer uma reforma agrária e urbana, já que a ausência da primeira levou a que prevalecesse o agronegócio exportador em detrimento da produção de alimentos e fizesse que 83% da população migrasse para as cidades, geralmente para as periferias, com má qualidade de vida, saúde, educação, transporte e infraestrutura.
PROJETO-MUNDO
Retomo o título de Benjamin: “É pau, é pedra, é um fim de caminho”, não só o fim do atual projeto Brasil, mas o fim do projeto-mundo vigente. Dentro de pouco, a economia se orientará pelo ecológico e pelos bens e serviços naturais. Nisso, podemos ser a grande potência pelos imensos recursos que temos. O mundo precisará mais de nós do que nós do mundo.
Para quem toma a sério a reflexão de uma ecologia integral – praticamente ausente nas discussões econômicas –, o aquecimento global e os limites físicos da Terra, estas minhas palavras não soam apocalípticas, mas realísticas. Temos que mudar se quisermos continuar sobre este planeta, pois, por causa de nossa irresponsabilidade e inconsciência, ele já não nos suporta mais.
14 de junho de 2015
Leonardo BoffO Tempo

Nenhum comentário:

Postar um comentário