"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sábado, 20 de junho de 2015

AGRESSÃO CHAVISTA AO CONGRESSO BRASILEIRO

É característica do chavismo o desrespeito aos poderes republicanos. Mas orquestrar ou permitir um ataque a parlamentares brasileiros em Caracas extrapola as fronteiras venezuelanas e passa a ter outra dimensão, o de um ato hostil ao Legislativo de outro país.

O governo de Nicolás Maduro tem se tornado mais violento à medida que a crise econômica e social da Venezuela aumenta a tensão política e reforça as previsões de uma difícil eleição parlamentar, que por sinal já deveria ter sido marcada.

Maduro mantém presos políticos, entre eles, Leopoldo Lópes, em greve de fome, o que faz crescer a preocupação no exterior de grupos e países com algum tipo de relação com a Venezuela. Neste contexto, um grupo de senadores da oposição — Aécio Neves (PSDB-MG), Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), Sérgio Petecão (PSD-AC), Ronaldo Caiado (DEM-GO), Ricardo Ferraço (PMDB-ES), José Medeiros (PPS-MT) e José Agripino Maia (DEM-RN) — organizou uma ida a Caracas para se encontrar com mulheres e familiares de presos e outros representantes da oposição ao chavismo.

Não conseguiram. Manifestantes barraram e atacaram a van em que estavam os brasileiros, logo após a saída do aeroporto, sob a passividade de batedores e policiais venezuelanos. Os senadores decidiram voltar ao Brasil. Enquanto isso, um grupo de brasileiros simpatizantes do chavismo também desembarcava em Caracas, numa ação provocadora e articulada entre companheiros, e pôde circular com liberdade.

A questão é saber se a reação do governo será a necessária. No primeiro momento, o Itamaraty parece ter agido de acordo com o manual: pediu explicações a Venezuela, mas parece pouco.

O incidente apanha Dilma em mau momento: sob a mira do TCU, fragilizada, debaixo de críticas de sindicatos e de petistas, devido ao ajuste fiscal. Pelo histórico da presidente e do próprio petismo em situações como esta, talvez em tempos melhores o Planalto até criticasse publicamente os senadores, o que teria feito agora intramuros.

Já se sabe que entre os interesses nacionais e a aliança com chavistas e bolivarianos, parentes ideológicos, o PT fica com chavistas e bolivarianos. Lembre-se que, na expropriação de uma refinaria da Petrobras pela Bolívia de Evo Morales, o então presidente Lula nada fez.

Com um Congresso hostil, o governo Dilma poderá ter problemas. Numa reação correta, a oposição se articula para que o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, e o embaixador na Venezuela, Rui Pereira — que não teria dado o devido apoio à comitiva em Caracas —, sejam convocados ao Senado.

Ao mesmo tempo estuda recorrer ao Supremo, devido ao fato de o Brasil nada fazer para punir a Venezuela no Mercosul por descumprir a cláusula democrática. A melhor alternativa para Dilma é tentar esvaziar esta onda com uma atitude firme de repúdio ao ataque aos senadores.


20 de junho de 2015
O Globo

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