"e o mundo descobriu problemas não visíveis em 2007" : PADRÃO PETRALHA - Em sete anos Brasil passa do clima de festa à desconfiança
O momento era perfeito.
Sete anos depois, o clima é bem diferente.
— É preciso distinguir os ganhos políticos e econômicos. Para os investidores, certamente o país não ficou mais atraente. Politicamente, a imagem ainda pode ser outra. A democracia é um atributo muito positivo, que outros países emergentes, inclusive China e Rússia, não têm — diz Christina.
O momento era perfeito.
Naquela tarde de 2007 na Suíça em que o então presidente Lula ouviu que a Copa de 2014 se realizaria no Brasil, foi dado o primeiro passo para coroar uma nova forma de o país se posicionar no cenário internacional. A economia crescia 6%, o país era festejado como potência do Brics e as políticas de redistribuição de renda fortaleciam o mercado interno e inspiravam outros países em desenvolvimento.
— Estejam certos de que o Brasil saberá, orgulhosamente, fazer a sua lição de casa — discursou Lula após o anúncio.
Sete anos depois, o clima é bem diferente.
A economia desacelerou e o país desperta desconfianças no mercado financeiro internacional, além de sofrer com uma onda de greves e protestos, agravados pela inflação em alta e a falta de soluções para problemas como segurança e transporte. Sem falar dos sinais de corrupção e desperdício de dinheiro público que desmoralizam políticos e inflam orçamentos, como o custo dos estádios, que consumiu mais de R$ 8 bilhões financiados pelo governo. A imprensa internacional veio conferir “o que o Brasil é capaz de fazer” e ficou com a sensação de “dever de casa” não feito.
— O Brasil soube muito bem se vender e emergiu no cenário internacional de maneira inédita — analisa Oliver Stuenkel, professor de relações internacionais da FGV, que cita diferenças na gestão política: — Dilma, por uma série de razões, não mostrou interesse pela política externa, mas o país ficou no centro das atenções pela Copa, e o mundo descobriu problemas não visíveis em 2007.
Eventos esportivos mundiais são considerados instrumentos do soft power, forma sutil e eficaz de exibir poder. Para Christina Stolte, pesquisadora do Instituto Alemão de Estudos Globais e do Centro Brasileiro de Relações Internacionais, o Brasil não conseguiu animar os investidores com a vitrine da Copa, e atrasos e orçamentos nas obras chamaram a atenção para a baixa competitividade do país, somado ao baixo crescimento de 2% da era Dilma. Por outro lado, a repressão às manifestações, que não atingiu a violência vista na Turquia e Venezuela, pode demostrar um país com a democracia amadurecida.
— É preciso distinguir os ganhos políticos e econômicos. Para os investidores, certamente o país não ficou mais atraente. Politicamente, a imagem ainda pode ser outra. A democracia é um atributo muito positivo, que outros países emergentes, inclusive China e Rússia, não têm — diz Christina.
O Globo
Em sete anos, Brasil passa do clima de festa à desconfiança
27 de maio de 2014
27 de maio de 2014
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