"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 6 de abril de 2014

CARTA ABERTA A MIRIAM LEITÃO


 
 
Cara Miriam Leitão: Não obstante a abissal distância existente entre uma profissional que, por vocação, aptidão e, mais adiante, por dever de ofício, exerce há tempos a arte de escrever e um obscuro e ocasional escriba, quase bissexto, permito-me comentar dois artigos recentes de sua autoria, cuja motivação, acredite, não vai além de um desabafo.
 
Refiro-me, inicialmente, apenas por cronologia, ao publicado no sábado (29/03), que, na minha acanhada percepção, poderá se constituir pela simplicidade, talvez por isso ainda não tenha acometido outros intelectos, na solução para a maioria, se não todos, dos males que nos afligem.
Nele, ao condenar, no silêncio, a atitude dos militares na ativa, com relação aos atos repudiados à luz do conceito moderno de direitos humanos atribuídos aos participantes dos órgãos de repressão, militares ou não, a Srª. conclama os militares “de hoje” (?) a revelar ocorridos sobre os quais há evidências, suspeitas, comentários, denúncias (algumas controvertidas e fantasiosas), mas, na realidade, não se consegue provar. Talvez aí se origine seu apelo à delação.
 
Considerando, por isenta e acima de qualquer suspeita, a sinceridade de sua proposição, imaginei quão profícuas e eficazes seriam as consequências, se procedimento idêntico ao acima sugerido fosse adotado, também, pelos funcionários públicos, de autarquias e, também, das empresas estatais de hoje que, direta ou indiretamente, se envolvem com gestão de recursos públicos, para ferir de morte a ilação de que nunca se roubou tanto neste país.
 
Vejamos, por concreto, o “case” Petrobras, que jorra dinheiro (para os ladrões) ao invés de petróleo.
 
Criada ao embalo do sonho do petróleo é nosso, graças (sem trocadilho), única e exclusivamente, à dedicação, espírito de corpo, perseverança e, acima de tudo, competência daqueles que “vestiram o macacão”, mergulharam fundo e, para orgulho dos brasileiros, emergiram e dominaram a tecnologia para exploração e produção em águas profundas, uma contribuição para todo o mundo, cujo impacto e consequências, no curto prazo, só pode ser comparada à conquista do espaço, porquanto postergou as previsões dos “experts” sobre o esgotamento das fontes de petróleo nas próximas duas ou três décadas, um mito fantasmagórico reinante desde os anos 50.
Lembro-me do empenho de meus contemporâneos de juventude frequentando cursinhos especializados para adequada preparação para o vestibular de admissão àquela empresa, para o qual o mérito e a capacitação eram os únicos padrinhos para acesso.
Seria justo essa imensa legião de abnegados e vitoriosos profissionais, muitos merecidamente aposentados, carregarem a mancha de partícipes dessas práticas de corrupção ora nas manchetes, no país e no exterior? Por que não estimular os bons petroleiros, a facção majoritária, a colaborar com os órgãos, que supomos dispostos a apurar responsabilidades, abrindo arquivos, armários e gavetas, puxando ela memória e assim se distinguirem de meia de acumpliciados e coniventes com governantes, atuais e antecessores, corruptos e mal intencionados?
 
E, por que não no BNDES, onde montanhas de dinheiro público são transferidas para bateladas de papéis fazendo de contas que são projetos , única e simplesmente porque os favorecidos mantém bom relacionamento com os políticos corruptos, responsáveis pela indicação de seus dirigentes?
 
Assim como na estatal de petróleo, convivi com profissionais desse banco, de diversos níveis, quando no mercado financeiro. Era prazeroso e enriquecedor analisar créditos, em nome dos clientes, com técnicos do BNDES, bem como com seus advogados, quando eventuais pendências de pagamento ocorriam.
Eram, com raríssimas exceções, pessoas capacitadas para o exercício das funções e cargos a elas confiadas. Havia lisura no trato das operações, via de regra, discutidas em colegiado; era visível e louvável o orgulho que exibiam por integrarem aquela família.
 
Por que calar e admitir pactuar com esses escândalos que são clichês de nosso noticiário? Quem pariu Matheus que o embale!
Quem sabe de sua brilhante sugestão, não se consiga o tão desejado e distante crescimento do nosso pibinho e, mostrar ao Estado um caminho seguro, decente e direto para cumprimento de sua missão constitucional?
 
O segundo artigo, mencionado ao inicio, refere-se ao seu comentário sobre o secular Colégio Militar, onde tive a felicidade de estudar, quando a senhora ainda engatinhava em Caratinga.
Fiquei triste e decepcionado com sua colocação. O Colégio Militar, desde suas origens, tem sido excelência no ensino de nível médio em nosso país, enquanto, a  senhora conhece e isso não é privilégio de jornalista bem informado, Educação e o MEC, seu principal responsável, são, quase à unanimidade, as causas maiores de nosso atraso.
 
A presidente Dilma tem se esforçado para acabar com os Colégios Militares mas, enquanto isso não acontece, tendo a senhora a penetração que tem, em benefício de muitas gerações vindouras, que tal invertermos sua pergunta:
Quando é que o MEC vai atingir a qualidade de ensino dos Colégios Militares?
Aí sim, esse país se tornará gigante.
 
05 de abril de 2014
Carlos Alberto Orofino Souto, ex-militar, é empresário na área de comércio exterior.

Nenhum comentário:

Postar um comentário