"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sábado, 1 de março de 2014

GILBERTO FREYRE, LISBOA E BATINAS


Sou dos que sentem em Lisboa a falta de padres magros e frades gordos a descerem pacatamente ladeiras, a saírem docemente de igrejas, a atravessarem hieraticamente praças e não apenas a dizerem burocraticamente missas no interior de igrejas e capelas. Padres e frades fazem falta à Lisboa de hoje: aos conventos secularizados e às ruas aburguesadas

Não é que a sua ausência seja absoluta. Aparecem. Mas tão rara é sua presença que também neste particular a Lisboa de hoje nos dá a impressão de vir sofrendo uma reforma suíça nos seus hábitos e nos modos de ser. Uma reforma suíça que fosse também uma Reforma Protestante; e que viesse diminuindo o número de padres católicos nas ruas, depois de ter fechado os conventos e acabado com os frades e as freiras.

Sem frades a saírem dos conventos e sem padres a atravessarem as ruas, Lisboa nos dá a impressão de incompleta, de deformada, de mutilada. Os raros padres que hoje se vêem na capital portuguesa, outrora tão opulenta deles, são poucos para darem a Lisboa a nota pitorescamente clerical que a sua paisagem pede, que sua tradição católica exige.

É que, dos padres que se avistam hoje em Lisboa, quase todos parecem ser padres apenas pela metade, trajados, como são, à maneira protestante. Os tradicionais hábitos talares substituídos por simples sobrecasacas ou mesmo burguesíssimos casacos. Um ar burocrático, e de modo algum teocrático ou sequer clerical, é o desses padres com aparências de semipadres. Só sé excetuam os “inglesinhos”.

Fazem falta a Lisboa boas e completas figuras de padres e de frades. Padres ortodoxamente vestidos de padres. Frades na sua variedade de hábitos e insígnias. 

01 de março de 2014
Gilberto Freyre em "Aventura e Rotina"
in acarajé conservador

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