"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sexta-feira, 14 de março de 2014

COMPROMETIMENTO MÚTUO ASSEGURADO


 Artigos - Globalismo 
“Ignore os projetos estratégicos russo e chinês por sua conta e risco.”
– Anatoliy Golitsyn, Memorando para a CIA. 1993


A manchete do Japan Times no dia 8 de março noticia: China sinaliza que será mais dura na questão territorial. É dito na notícia que a China está investindo mais dinheiro em armas de alta tecnologia e na prontidão militar. Em outro artigo do Foreign Policy, intitulado A caixa preta da força militar chinesa, afirma-se que “Beijing está investindo centenas de bilhões de dólares em defesas, mas ninguém sabe ao certo o que eles estão preparando”.
Os experts no assunto dizem acreditar que a China gasta muito mais na área militar do que o montante oficialmente declarado. De acordo com o artigo, “a maior lacuna não preenchida no entendimento americano da força militar chinesa parece ser sobre como ela toma suas decisões”. Um oficial é citado falando sobre o assunto: “Basicamente não fazemos a mínima ideia sobre como o ESP (Exército de Libertação Popular) toma decisões”.

Essa confissão mostra nossa bancarrota estratégica. O famoso estrategista chinês Sun Tzu disse uma vez: “Se você conhece o inimigo e conhece a si mesmo, não precisa temer o resultado de cem batalhas. Se você se conhece mas não conhece o inimigo, para cada vitória ganha sofrerá também uma derrota. Se você não conhece nem o inimigo nem a si mesmo, perderá todas as batalhas”. Isso me leva a perguntar:
Qual tomador de decisões nos EUA de fato conhece a si mesmo ou seu país? Quem fala honestamente e realisticamente acerca desse assunto? E qual estadista, falhando em saber o que lhe é imediato, é capaz de analisar objetos distantes? Deveríamos, talvez, nos reportarmos à sabedoria estratégica de Hillary Clinton ou John Kerry?
O que dizer então da intrepidez de Barack Obama? Em 2008, a suposta “soccer mom sem noção”, a governadora Sarah Palin, disse que o Senador Obama havia reagido à invasão russa de 2008 à Georgia com “indecisão e equivalência moral – o tipo de resposta que só poderia encorajar a Rússia de Putin a invadir a Ucrânia”. Evidentemente, opiniões de experts taxaram Palin como uma ignóbil por emitir tal opinião.

Como servos de um público que implora pela ficção, nossos líderes (com poucas exceções) tornaram-se provedores de fantasia política. Desde 1991 nos alimentamos de uma dieta à base de mentiras sobre a Rússia e China que, embora direcionadas ao mundo dos negócios, colocaram a América em uma posição de inferioridade estratégica. “Falsas e ingênuas suposições sobre o ‘progresso rumo a democracia’ russo-chinês e sobre a ‘amizade [deles] com os Estados Unidos’ ameaçam a política de defesa”, escreveu o desertor da KGB Anatoliy Golitsyn em 1995. “A ameaça não é apenas associada à redução de gastos militares, mas também relacionada à questão de prioridades. O envolvimento em conflitos regionais e locais [...] na base da ideia de que ‘a Guerra Fria acabou’, e a luta contra cartéis de drogas na América Latina, distraem a atenção da verdadeira ameaça estratégica vinda da Rússia e da China”. [The Perestroika Deception, p. 231]

Como nação – e também como civilização – caímos numa armadilha. Acreditamos nas mentiras russas e agora temos de pagar o preço. “Seja extremamente sutil”, escreveu Sun Tzu, “tão sutil que ninguém possa achar qualquer rastro.
Seja extremamente misterioso, tão misterioso que ninguém possa ouvir qualquer informação”. E o que deveríamos pensar, agora que o silêncio foi quebrado na Ucrânia? O que devemos dizer quando o mistério da China for revelado? “A velocidade é a essência da guerra”, escreveu Sun Tzu. “Tome vantagem do despreparo inimigo; viaje por rotas inesperadas e ataque-o por onde ele não tomou precaução”.
Qual então deve ser a leitura dos atuais eventos?

O problema de começar uma Terceira Guerra Mundial (para Rússia e China) é o problema de dois parceiros desleais se comprometendo em uma ofensiva militar simultânea. Ambos os parceiros têm de se mover juntamente de modo coordenado.
Se um arriscar e o outro hesitar, o lado que se arriscar antes da hora pode se ver isolado e em desvantagem em relação ao mundo civilizado. Portanto, na questão de duas potências começarem uma guerra juntas, o caminho a se seguir é o Comprometimento Mútuo Assegurado.
A partir de hoje, 10 de março de 2014, se a Rússia está planejando ir mais a fundo na Ucrânia, então a China e/ou a Coreia do Norte devem criar problemas no extremo oriente. Conforme a Rússia se arrisca, a China também deve se arriscar.
Se um parceiro vai muito adiante sem o outro, ele arrisca ser abandonado em um caminho irrevogável. E assim, para que se possa construir um edifício de credibilidade, eles devem ir juntos ou não devem ir de maneira alguma.

Somos então levados a considerar a atual crise militar entre China e Japão um prólogo necessário, assim como a incursão russa na Geórgia em 2008. Todos esses prólogos podem ser parte de uma sequência cuidadosamente construída.
A Geórgia foi um ensaio geral para a Ucrânia e a Ucrânia é muito possivelmente o prólogo de algo maior. No extremo oriente, o conflito sobre as Ilhas Senkaku é absurdo a menos que ela seja visto como um prólogo do estouro de uma guerra no Pacífico, que incluiria uma guerra entre as duas Coreias.
Em relação à estratégia sino-russa de longo prazo, o desertor da KGB Anatoliy Golitsyn escreveu o seguinte parágrafo em fevereiro de 1993 em seu memorando para a CIA:

Os Estados Unidos não entende a verdadeira natureza das relações entre a Rússia e os líderes comunistas chineses. Washington acredita que houve uma genuína melhora nas relações entre chineses e russos nos anos 1980. Eu vejo esses contatos como evidência de que a ‘perestroika’ russa não tomou os chineses de surpresa. Além disso, eles têm o completo entendimento das realidades por trás dela e a cooperação estratégica com os russos continua como sempre foi desde o fim dos anos 1950, embora agora com reconhecimento aberto das boas relações. Os Estados Unidos vê a venda russa de fábricas inteiras e novos sistemas de armamentos aos chineses como ações ditadas pelo desejo russo de abrandar as atuais dificuldades econômicas. Na minha maneira de pensar, isso significa a deliberada transferência de tecnologia para um velho e confiável aliado.

Conforme as tensões crescem na Europa, as tensões necessariamente crescerão no Pacífico. Esse será o sinal que a Rússia e a China estão entrando na fase de “um só punho fechado”. Os dias que estão por vir são importantes.
Ou os russos tentarão amedrontar a Europa para que ela crie novas estruturas de defesa que substituam a OTAN ou, falhando nessa tentativa, eles invadirão o leste da Ucrânia, Odessa ou até mesmo a porção ocidental da Ucrânia.
É improvável que o Kremlin recue e livre os ucranianos dos grilhões russos. A liberdade, afinal, é uma doença que mata um governo autocrático centímetro a centímetro, ano após ano. Se a Ucrânia está infectada hoje, a Rússia pode vir a estar infectada amanhã. Mas uma doença é uma rua de duas mãos.

Os líderes russos fazem tudo na base de políticas cuidadosamente construídas. Eles normalmente não gostam de improvisos. Eles contam, como sempre, com exércitos secretos – redes de agentes – profundamente infiltrados nos EUA e na Europa Ocidental (e também na Ucrânia). Como explicou Sun Tzu, “dentre todos das forças armadas que estão próximos ao comandante, nenhum é mais familiarizado a ele que os espiões; de todos os assuntos, nenhum é mais confidencial que aqueles relacionados às operações secretas. De acordo com Sun Tzu, “a espionagem é essencial para as operações militares, e os exércitos dependem dela para levar a cabo suas ações”.

14 de março de 2014
Jeffrey Nyquist

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