"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 19 de janeiro de 2014

PEQUENAS EMBALAGENS COM PREÇOS EXORBITANTES... UMA ESPERTEZA QUE NINGUÉM PERCEBE.!

Gastos com produtos usados no dia a dia, vendidos em volumes reduzidos, assustam quando se considera o valor por quilo

Gel mata-barata custa R$ 11,99. Um quilo custaria R$ 1.199, preço de uma lava-louças Brastemp Foto: Divulgação
Gel mata-barata custa R$ 11,99. Um quilo custaria R$ 1.199, preço de uma lava-louças BrastempDIVULGAÇÃO
 
As embalagens são pequenas, mas o preço é king size. Não são trufas raras, temperos exóticos ou produtos de alta tecnologia que podem assustar o consumidor, mas itens do dia a dia.
Um cartucho de tinta de módicos 2ml para uma impressora HP em cores sai por R$ 25. A princípio, nada de mais. O assombro surge quando se calcula o preço da tinta por litro: R$ 12.500, montante suficiente para comprar mais de cem gramas de ouro ou dois bilhetes de ida e volta Rio-Paris, além de duas garrafas de champanhe Veuve Clicquot (adquiridos no Brasil), com direito a algumas comprinhas.
 
Contrariando a lógica mercantil, o preço da tinta é de tal ordem que, com o valor de um litro, pode-se comprar 50 impressoras para a qual ela é feita.
 
Para o gerente técnico do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), Carlos Thadeu de Oliveira, disparidades de preços como esta são injustificáveis:
 
- A tecnologia que está na impressora é infinitamente maior que a do cartucho. Só que, sem ele, a impressora não vale nada. É uma prática no mercado que deve ser combatida.
 
A tinta de impressora não é o único exemplo de preço disparatado. As gotas de esmalte que caíram no gosto da brasileira também pesam no bolso. Os 8ml do frasco do Colorama efeito ultraverniz saem por R$ 8,39. O que pode passar despercebido é que pelo litro do produto, paga-se R$ 1.048,75. A consumidora poderia trocar de adereço e escolher um par de brincos de ouro branco 18 quilates com diamantes, da MyCollection H.Stern, por R$ 996.
 
Até mesmo o orégano, tempero habitual da pizza de fim de semana, ganha status de iguaria requintada a julgar pelo preço. O quilo do produto chega a R$ 305. Com a mesma quantia, o consumidor pode se deliciar com macarons da Boulangerie Guérin, onde o quilo da preciosidade sai a R$ 249 ou experimentar um menu fechado do restaurante do incensado chef Claude Troigros.
 
Mas os preços estratosféricos não se restringem a cosméticos ou comida. Na família das supercolas, também há surpresas. Pela Araldite Hobby Cola Epóxi 16g, paga-se R$ 22. Considerando o valor do quilo, a conta chega a R$ 1.375. O quilo da gelatina sem sabor, usada em dietas, vale dois dias de spa no Espaço Nirvana, na Gávea, para horas de massagens, aula de ioga, tratamentos corporais. Que tal?
 
Para aqueles que acham que a embalagem justifica a cifra alta, não é bem assim. Ela pode compor o preço, mas não é a causa dele, afirma o presidente da Associação Brasileira de Embalagem (ABRE), Mauricio Groke:
 
- Existem embalagens que precisam ser maiores que o produto porque dependem da condição de exposição e, às vezes, elas também ajudam a vender a mercadoria.
 
O Idec fez um levantamento no ano passado e constatou que nem sempre a embalagem menor é mais cara. Ela poderia ser uma opção mais econômica que as maiores para algumas marcas de café solúvel, produtos de limpeza e cereal para criança. Oliveira, do Idec, diz que é preciso fazer distinção entre as medidas. Ele não vê abuso no preço se o consumidor não ficar preso a uma marca e tiver mais opções. Se preferir comprar o produto a granel, o comprador paga menos por um quilo em lojas especializadas. Ele lembra, ainda, que a indústria tem investido em embalagens de todos os tamanhos para se adequar a diferentes perfis de consumo e que fica cada vez mais difícil comparar preços.
 
- Constatamos que os fabricantes têm muitas estratégias de mercado, e para alguns produtos há um mix de até dez embalagens diferentes. São estratégias de mercado que são lícitas, mas que dificultam a comparação de preços e pegam o consumidor desavisado - afirma Oliveira.
 
Rotulagem transparente
 
Fato é que as relações de consumo ainda carecem de transparência. Para tentar ajudar o consumidor na hora de comparar preços, diversos supermercados do Rio assinaram termo de cooperação, em 2009, em que se comprometem a estampar o valor por quilo, litro ou metro nas gôndolas. Para Maria Inês Dolci, da Proteste, o ideal seria ver o preço total na etiqueta do produto e substitui-los quando as cifras são abusivas:
 
- Temos que lutar por uma etiquetagem adequada, com o preço por litro ou quilo e o valor daquela embalagem. Isso é importantíssimo para comparar preços.
 
A HP argumenta que vende para consumidores páginas impressas e não somente tinta. Segundo a empresa, dentro da linha de produtos HP, há impressoras a jato de tinta que imprimem páginas a um custo de R$ 0,03. No caso de uma impressora de entrada, a linha Ink Advantage oferece cartuchos a partir de R$ 19,90.
A Brascola, responsável pela cola Araldite, diz que tem um produto diferenciado no mercado e que está alinhada ao posicionamento de preço global. E acrescenta que, na França, produto semelhante é comercializado a € 7. A Kitano prefere não comentar. A Colorama foi procurada e não se pronunciou. Outras empresas não responderam aos pedidos de entrevista ou não foram localizadas.
 
19 de janeiro de 2014
CLARICE SPITZ - O Globo

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