Ontem, Reinaldo Azevedo (clique aqui) e Rodrigo Constantino (clique aqui) teceram rasgados elogios ao artigo publicado pela senadora Kátia Abreu (PMDB), presidente da CNA, na Folha de São Paulo. Este blog sempre soube dividir as coisas no seu apoio a esta brilhante parlamentar e líder setorial. Pelo simples motivo de que esteja onde estiver, a senadora do Tocantins jamais abrirá mão da defesa intransigente das liberdades individuais, da propriedade privada, da democracia, do Estado de Direito.
Quanto a sua aproximação com o governo federal, olhem os resultados do agronegócio. O setor agropecuário é o único no Brasil que espelha a grandeza do nosso país. Há muito trabalho de muitos neste sucesso. Mas também há muita política, muita negociação. Kátia Abreu faz as duas coisas como ninguém, sem jamais dobrar a espinha para quem quer que seja. Querem comprar uma briga boa, chamem Kátia Abreu. Lembrando apenas algumas: CPMF, Código Florestal e MP dos Portos.
Por isso, ontem ela foi elogiada por Reinaldo e por Rodrigo. Por isso, virou um xodó da Dilma. Por isso é o alvo do CIMI, da Funai, do ISA, da SOS Mata Atlântica, de todas estas paraorganizações que desejam fomentar a luta de classes no país. Por isso, é odiada pela esquerda radical e pela direta burra que, aliás, são muito parecidas. De minha parte, penso que ela é uma daquelas políticas que poderiam estar no parlamento de qualquer lugar do mundo. Com brilho e louvor. Abaixo, o artigo da Folha na integra.
CONSPIRAÇÃO: TEORIA E PRÁTICA
"Teoria da conspiração" tornou-se uma espécie de mantra para banir qualquer avaliação mais profunda da conjuntura política. O termo é invocado mesmo quando já se está diante não de uma tese, mas da própria prática conspirativa.
Os fatos estão aí: há um projeto em curso, que pretende restringir e relativizar a propriedade privada e a economia de mercado. Em suma, o Estado democrático de Direito. O setor rural é o mais visado. Usa-se o pretexto da crise social para invasões criminosas a propriedades produtivas: sem-terra, quilombolas e índios têm sido a massa de manobra, incentivada por ativistas, que, no entanto, não querem banir a pobreza.
Servem-se dela para combater a livre iniciativa e estatizar a produção rural. Espalham terror nas fazendas e, por meio de propaganda, acolhida pela mídia nacional, transformam a vítima em vilão. Nos meios acadêmicos, tem-se o produtor rural como personagem vil, egoísta, escravagista, predador ambiental, despojado de qualquer resquício humanitário ou mesmo civilizatório.
No entanto, é esse "monstro" que garante há anos à população o melhor e mais barato alimento do mundo, o superavit da balança comercial e a geração de emprego e renda no campo. Nada menos que um terço dos empregos formais do país está no meio rural, que, não tenham dúvida, prepara uma nova geração de brasileiros, apta a graduar o desenvolvimento nacional.
Enfrenta, no entanto, a ação conspirativa desestabilizadora, que infunde medo e insegurança jurídica, reduzindo investimentos e gerando violência, que expõe não os ativistas, mas sua massa de manobra, os inocentes úteis já mencionados.
Vejamos a questão indígena: alega-se que os índios precisam de mais terras. Ocorre que eles -cerca de 800 mil, sendo 500 mil aldeados- dispõem de mais território que os demais 200 milhões de compatriotas. Enquanto estes habitam 11% do território, os índios dispõem de 13%. Não significa que estejam bem, mas que carecem não de terras, e sim de assistência do Estado, que lhes permita ascender socialmente, como qualquer ser humano.
Mas os antropólogos que dirigem a Funai não estão interessados no índio como cidadão, e sim como figura simbólica. Há o índio real e o da Funai, em nome do qual os antropólogos erguem bandeiras anacrônicas, querendo que, no presente, imponham-se compensações por atos de três, quatro séculos atrás. O brasileiro índio do tempo de Pedro Álvares Cabral não é o de hoje, que, mesmo em aldeias, não se sente exclusivamente um ente da floresta, mas também um homem do seu tempo, com as mesmas aspirações dos demais brasileiros.
Imagine-se se os franceses de ascendência normanda fossem obrigados pelos de descendência gaulesa a deixar o país, para compensar invasões ocorridas na Idade Média. Ou os descendentes de mouros fossem obrigados a deixar a Península Ibérica, que invadiram e dominaram por oito séculos.
A história humana foi marcada por embates, invasões e violência. O processo civilizatório consiste em superar esses estágios primitivos pela integração. O Brasil é um caudal de raças e culturas, em que o índio, o negro e o europeu formam um DNA comum, ao lado de imigrantes mais tardios, como os japoneses. Querer racializar o processo social, mais que uma heresia, é um disparate; é como cortar o rabo do cachorro e afirmar que o rabo é uma coisa e o cachorro outra.
A sociedade brasileira está sendo artificialmente desunida e segmentada em negros, índios, feministas, gays, ambientalistas e assim por diante. Em torno de cada um desses grupos aglutinam-se milhares de ONGs, semeando o sentimento de que cada qual padece de injustiças, que têm que ser cobradas do conjunto da sociedade.
Que país pretendem construir? Não tenham dúvida: um país em que o Estado, com seu poder de coerção, seja a única instância capaz de deter os conflitos que ele mesmo produz; um Estado arbitrário, na contramão dos fundamentos da democracia. Não é teoria da conspiração. É o que está aí.
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