Todos ficaram sabendo que François Hollande pagou suas estrepolias extraconjugais com moeda forte: sua companheira deixou-o falando sozinho.
Depois que todos se inteiraram de que o presidente costumava abandonar o Palácio do Eliseu numa garupa de moto para encontrar-se com uma jovem atriz 15 anos mais nova que ele, a companheira fixa foi-se embora. A França perdeu sua primeira-dama e ficou órfã de mãe.
Florent Pagny, cantor e figurinha carimbada da cena artística do país, é conhecido por não ter papas na língua. Provocado, botou fora, em linguagem chã, o que achava do acontecido.
«Para quem está num nível de responsabilidade tão elevado, das duas uma: ou tem a capacidade de se organizar para que ninguém fique sabendo ou tem de ter o poder de bloquear toda informação, como Mitterrand.»(*)
E disse mais: «Peraí, meu caro, presidente é presidente 24 horas por dia durante cinco anos. A vida privada, pode esquecer!»
Estive pensando que, guardadas as devidas proporções, as mesmas reflexões se aplicam a nossa presidente. Haja vista a excursão gastronômica dela e de sua corte por terras lusitanas.
Quem não tem o poder de bloquear a informação tem de andar na linha ou se aplicar para que ninguém fique sabendo.
Quem é presidente tem de deixar de molho sua vida privada. Pelo menos, durante o mandato.
Taí um consolo para dona Dilma: ela não é a única a ter tido de aprender a lição na base da bordoada. Esperemos que tenham aprendido, tanto ela quanto ele.
(*) Durante os 14 anos em que exerceu a função de presidente da França, François Mitterrand manteve duas famílias. A oficial (e conhecida por todos os cidadãos) residia no palácio presidencial. A oficiosa (conhecida pelos medalhões do regime e por praticamente todos os jornalistas) residia num apartamento parisiense. O presidente tinha dois filhos com a matriz e uma filha com a filial.
A verdade só veio à tona depois do falecimento do líder. Enquanto ele viveu, nenhum jornalista jamais ousou revelar a realidade, tamanho era o temor que o personagem infundia a todos.
31 de janeiro de 2014
José Horta Manzano