Parece-me até uma provação! A economia brasileira tem uma
particularidade interessante - sempre que a atividade econômica cresce, a
inflação vem no seu vácuo, forçando o Banco Central (BC) a subir a Selic (taxa
básica de juros), suavizando assim o crescimento a fim de segurar os preços.
Pode ser que atualmente, por uma questão situacional, não venha a ocorrer tal
comportamento, pois ela se encontra determinada, em vigorosa queda, devendo
ficar abaixo do piso da meta em aproximadamente 3% neste exercício, quando a
atividade econômica começa a dar sinais evidentes de que, após quase três anos,
está se desgarrando de uma terrível recessão, uma das mais duradouras e
profundas a que já resistimos.
Alguns analistas admitem uma larga e longa avenida de juros
ineditamente baixos a ser trilhada por um bom período, mesmo com as projeções
do PIB (Produto Interno Bruto) já se mostrando crescentes. Aparentemente,
existem duas justificativas relevantes que têm uma forte conexão com o mercado
de trabalho.
A primeira é que o desemprego vem caindo, apesar de ser num
ritmo lento, mesmo com o PIB despertando para o caminho do crescimento e as
empresas continuando com um alto grau de ociosidade, o que significa que um
possível ímpeto de alta dos preços tende a continuar baixo.
A outra é que o
país pode estar despontando da crise, trazendo consigo maior produtividade,
disposto a produzir mais. Em princípio, sem alterar o mesmo quantitativo de
colaboradores que sobreviveram a ela e a este fenômeno, quando relacionado à
queda das projeções inflacionárias, surge então um cenário propício para a taxa
de juros declinante.
O Relatório Trimestral da Inflação (RTI) foi divulgado há
pouco mais de uma semana pelo BC; nele constam as principais projeções e a
análise do cenário macroeconômico doméstico e internacional que pautam as ações
do órgão regulador do sistema financeiro e tutor da estabilidade monetária. O
referido documento considera diversos cenários para a inflação futura, trazendo
projeções bem mais animadoras para os principais indicadores de desempenho da
economia em 2017.
Sinaliza igualmente que ainda
existe um espaço para a recuperação cíclica da produtividade em várias
atividades que foram altamente penalizadas ao longo do período recessivo, o que
abriria um canal virtuoso para a evolução do produto, sem estar em harmonia com
a expansão da população ocupada.
Mesmo a alteração de composição entre
atividades e tipos de ocupação pode abrigar elemento cíclico, favorecendo a
recuperação da produtividade nos trimestres vindouros. Na
visão do BC, ela insinua incerteza com relação à velocidade de recuperação dos
postos de trabalho durante a retomada do nosso crescimento. A meu ver, este
passa ser um ponto estratégico para os passos futuros da política monetária,
significando uma pressão salarial contida.
Na verdade, já existem algumas evidências que são bastante
favoráveis para uma recuperação da nossa atividade econômica sem ascender à
inflação, mas, nesse início, isso nos anima, embora inexista a expectativa de
geração de mais empregos. O que vejo, na realidade, é uma porta que se abre
para aumentar a produção, mas com uma condição fundamental - saber explorar os
recursos que estão disponíveis.
Diante
desse quadro positivo, ainda não vejo a necessidade do BC ser tão conservador
como talvez esteja pensando, reduzindo a intensidade no corte da Selic de 1 ponto
percentual para 0,75 pp. Caso venha a aplicar esse redutor, isso representaria
um corte significativo.
Os ganhos de produtividade e a elevada ociosidade da
economia permitem tranquilamente ao BC cortar a Selic numa extensão um pouco
maior do que está sendo precificada atualmente. O mercado financeiro vem
admitindo a taxa Selic estabilizada em torno de 7%, ao final da sequência de cortes,
até os primeiros meses do próximo ano, embora os mais otimistas cheguem a
apostar em 6,5%.
O meu sentimento é que uma eventual reforma da Previdência
pode obviamente firmar este cenário, todavia é oportuno lembrar que o Brasil
tem passado por outras mudanças que contribuem para queda dos juros
estruturais, como a reforma trabalhista e a redução do subsídio com a nova TLP
(Taxa de Longo Prazo), sendo esses avanços importantes para convergirmos
para um regime de juros reais de equilíbrio mais baixos. Sem dúvida, este vem a
ser um primeiro grande passo para mudar totalmente o regime de nossa política
parafiscal.
Ainda com relação à alta da produtividade, mesmo levando-se
em consideração a sua característica cíclica, esta reforça o cenário da prática
de taxa de juro menor. Acontece que, numa recessão, as demissões nas empresas
geralmente não são proporcionais à queda de produção e, quando ocorre a
retomada, elas passam a utilizar melhor esta mão de obra, configurando dessa
forma um ganho de produtividade.
O saldo da população desocupada ainda é alto
para ser aproveitado, sem provocar pressão inflacionária e, paralelamente,
existe o aproveitamento cíclico da mão de obra a ser feito.
É importante
considerar que o comportamento da economia começa a se conduzir relativamente
descolado das turbulências políticas por que estamos passando neste instante,
tendo como uma aceitável referência os últimos “rali” que a Bovespa (Bolsa de
Valores de São Paulo) tem proporcionado aos investidores.
Apesar das graves
denúncias abrangendo frontalmente os altos escalões do governo, ainda não
alcançamos o cenário de prosperidade que já se nota na economia. Provavelmente, isso se deva à manutenção de
uma política econômica responsável, aliada à sua boa gestão, o que, para os
agentes econômicos tornou-se um diferencial confortador.
De qualquer forma,
tudo nos leva a crer que a nossa economia está retornando paulatinamente para
os eixos, revelando um crescimento econômico nos próximos trimestres.
Entretanto, diferentemente do que foi verificado em ciclos anteriores, quando a
recuperação era rápida e robusta, tudo indica que a retomada do crescimento no
país será um pouco vagoroso.
Dessa forma, é razoável imaginar que o ano de 2018
registre uma variação positiva do PIB brasileiro, indicando que o pior, de
fato, faz parte de um terrível passado, pois já estamos, certamente, no limiar
da superação.
10 de outubro de 2017
Arthur Jorge Costa Pinto é
Administrador, com MBA em Finanças pela UNIFACS (Universidade Salvador)
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