"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

terça-feira, 10 de outubro de 2017

O "DRAGÃO" ADORMECE E A ECONOMIA CRESCE


Parece-me até uma provação! A economia brasileira tem uma particularidade interessante - sempre que a atividade econômica cresce, a inflação vem no seu vácuo, forçando o Banco Central (BC) a subir a Selic (taxa básica de juros), suavizando assim o crescimento a fim de segurar os preços. 
Pode ser que atualmente, por uma questão situacional, não venha a ocorrer tal comportamento, pois ela se encontra determinada, em vigorosa queda, devendo ficar abaixo do piso da meta em aproximadamente 3% neste exercício, quando a atividade econômica começa a dar sinais evidentes de que, após quase três anos, está se desgarrando de uma terrível recessão, uma das mais duradouras e profundas a que já resistimos.

Alguns analistas admitem uma larga e longa avenida de juros ineditamente baixos a ser trilhada por um bom período, mesmo com as projeções do PIB (Produto Interno Bruto) já se mostrando crescentes. Aparentemente, existem duas justificativas relevantes que têm uma forte conexão com o mercado de trabalho.

A primeira é que o desemprego vem caindo, apesar de ser num ritmo lento, mesmo com o PIB despertando para o caminho do crescimento e as empresas continuando com um alto grau de ociosidade, o que significa que um possível ímpeto de alta dos preços tende a continuar baixo. 
A outra é que o país pode estar despontando da crise, trazendo consigo maior produtividade, disposto a produzir mais. Em princípio, sem alterar o mesmo quantitativo de colaboradores que sobreviveram a ela e a este fenômeno, quando relacionado à queda das projeções inflacionárias, surge então um cenário propício para a taxa de juros declinante.

O Relatório Trimestral da Inflação (RTI) foi divulgado há pouco mais de uma semana pelo BC; nele constam as principais projeções e a análise do cenário macroeconômico doméstico e internacional que pautam as ações do órgão regulador do sistema financeiro e tutor da estabilidade monetária. O referido documento considera diversos cenários para a inflação futura, trazendo projeções bem mais animadoras para os principais indicadores de desempenho da economia em 2017.  
Sinaliza igualmente que ainda existe um espaço para a recuperação cíclica da produtividade em várias atividades que foram altamente penalizadas ao longo do período recessivo, o que abriria um canal virtuoso para a evolução do produto, sem estar em harmonia com a expansão da população ocupada. 
Mesmo a alteração de composição entre atividades e tipos de ocupação pode abrigar elemento cíclico, favorecendo a recuperação da produtividade nos trimestres vindouros. Na visão do BC, ela insinua incerteza com relação à velocidade de recuperação dos postos de trabalho durante a retomada do nosso crescimento. A meu ver, este passa ser um ponto estratégico para os passos futuros da política monetária, significando uma pressão salarial contida.

Na verdade, já existem algumas evidências que são bastante favoráveis para uma recuperação da nossa atividade econômica sem ascender à inflação, mas, nesse início, isso nos anima, embora inexista a expectativa de geração de mais empregos. O que vejo, na realidade, é uma porta que se abre para aumentar a produção, mas com uma condição fundamental - saber explorar os recursos que estão disponíveis.  
Diante desse quadro positivo, ainda não vejo a necessidade do BC ser tão conservador como talvez esteja pensando, reduzindo a intensidade no corte da Selic de 1 ponto percentual para 0,75 pp. Caso venha a aplicar esse redutor, isso representaria um corte significativo.

Os ganhos de produtividade e a elevada ociosidade da economia permitem tranquilamente ao BC cortar a Selic numa extensão um pouco maior do que está sendo precificada atualmente. O mercado financeiro vem admitindo a taxa Selic estabilizada em torno de 7%, ao final da sequência de cortes, até os primeiros meses do próximo ano, embora os mais otimistas cheguem a apostar em 6,5%. 
O meu sentimento é que uma eventual reforma da Previdência pode obviamente firmar este cenário, todavia é oportuno lembrar que o Brasil tem passado por outras mudanças que contribuem para queda dos juros estruturais, como a reforma trabalhista e a redução do subsídio com a nova TLP (Taxa de Longo Prazo), sendo esses avanços importantes para convergirmos para um regime de juros reais de equilíbrio mais baixos. Sem dúvida, este vem a ser um primeiro grande passo para mudar totalmente o regime de nossa política parafiscal.

Ainda com relação à alta da produtividade, mesmo levando-se em consideração a sua característica cíclica, esta reforça o cenário da prática de taxa de juro menor. Acontece que, numa recessão, as demissões nas empresas geralmente não são proporcionais à queda de produção e, quando ocorre a retomada, elas passam a utilizar melhor esta mão de obra, configurando dessa forma um ganho de produtividade. 
O saldo da população desocupada ainda é alto para ser aproveitado, sem provocar pressão inflacionária e, paralelamente, existe o aproveitamento cíclico da mão de obra a ser feito.

É importante considerar que o comportamento da economia começa a se conduzir relativamente descolado das turbulências políticas por que estamos passando neste instante, tendo como uma aceitável referência os últimos “rali” que a Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo) tem proporcionado aos investidores. 
Apesar das graves denúncias abrangendo frontalmente os altos escalões do governo, ainda não alcançamos o cenário de prosperidade que já se nota na economia.  Provavelmente, isso se deva à manutenção de uma política econômica responsável, aliada à sua boa gestão, o que, para os agentes econômicos tornou-se um diferencial confortador.

De qualquer forma, tudo nos leva a crer que a nossa economia está retornando paulatinamente para os eixos, revelando um crescimento econômico nos próximos trimestres. Entretanto, diferentemente do que foi verificado em ciclos anteriores, quando a recuperação era rápida e robusta, tudo indica que a retomada do crescimento no país será um pouco vagoroso. 
Dessa forma, é razoável imaginar que o ano de 2018 registre uma variação positiva do PIB brasileiro, indicando que o pior, de fato, faz parte de um terrível passado, pois já estamos, certamente, no limiar da superação.

10 de outubro de 2017

Arthur Jorge Costa Pinto é Administrador, com MBA em Finanças pela UNIFACS (Universidade Salvador)

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