Odebrecht calculava previamente a “expectativa” de parlamentares para aprovação de medidas provisórias. Ao falar sobre as negociações com o Congresso, o empresário Marcelo Odebrecht relata em sua delação premiada que chegou a alertar a Guido Mantega, então ministro da Fazenda, que estava tendo “custos” com a aprovação de medidas por parlamentares. Questionado pelo procurador se esses “custos” eram descontados de algum repasse a Guido, o empresário responde que só falou sobre o assunto com o ex-ministro para que ele não se sentisse “supervalorizado” por ter ajudado a empresa ao enviar medidas provisórias que a beneficiavam.
“Em algumas medidas, as coisas saíam da Fazenda meio desarrumadas, meio dúbias, que podiam gerar questão. No Congresso, você ajustava. Quando você pedia isso aí, o deputado ou o senador criava expectativa” — diz, completando que avisou ao ministro.”Cheguei para o Guido e falei: ‘Teve custo’. É uma forma também de dizer: ‘Você não fez tudo que devia fazer. Então, deixou problema’. É mais uma negociação minha para ele não supervalorizar o que ele fez para a gente” — relatou.
CÁLCULO PRÉVIO – Com medo do apetite de deputados e senadores nas campanhas, a Odebrecht já calculava quanto desembolsaria a eles em troca da aprovação de medidas provisórias durante a tramitação delas, antes do período eleitoral. É o que relata Marcelo, em um dos trechos de sua delação premiada à Justiça. O empresário diz que orientava ao então diretor da construtora responsável pelas tratativas com parlamentares que já contasse com a “expectativa” dos parlamentares e acertasse internamente os valores que seriam pagos pelos “negócios”.
“Mesmo que o compromisso que o Cláudio mencionava não tivesse sido acertado explicitamente ou na hora, é óbvio que, se um deputado ou senador atuou a favor de determinada medida provisória, mesmo que ele não tenha dito que demandaria recurso por conta daquela medida, ele criou expectativa. E lá na frente (nas eleições), ele ia cobrar” — relata o delator.
Marcelo se refere a Cláudio Melo Filho, ex-diretor de relações institucionais da Odebrecht, que fazia a interlocução da empresa com o Congresso.
TER CUIDADO – Nesse trecho da delação, Marcelo diz que orientava o diretor a ter cuidado nas conversas com os parlamentares. “Eu sempre dizia para o Cláudio: Cuidado porque, veja bem, você começa a usar com o (Romero) Jucá, mesmo que você não acerte com Jucá que é R$ 4 milhões por conta dessa medida provisória, lá na frente, ele vai pedir um valor absurdo para a campanha e não vai aparecer ninguém para pagar. Então, já alinhe, já autorize com os negócios que são beneficiários de cada medida aprovada no Congresso, uma expectativa que esses negócios vão bancar lá na frente em relação a candidaturas” — disse o delator.
Líder do governo no Senado e um dos alvos dos inquéritos autorizados pelo ministro Edson Fachin, Jucá (PMDB-RR) é citado apenas como exemplo nesse trecho da delação, no qual Marcelo não entra em detalhes sobre alguma negociação específica com o peemedebista.
PIADA DO JUCÁ — O líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), negou as acusações de que recebeu propina da Odebrecht para aprovar emendas de interesse da empresa. Em entrevista ao jornalista Jorge Bastos Moreno em seu programa ‘Moreno no Rádio’, na ‘CBN’, o senador disse nesta sexta-feira que jamais faria “um absurdo desses”.
“Não tem sentido alguém pensar que se vende emenda por R$ 150 mil. Com R$ 150 mil não se vende (emenda) nem na feira do Paraguai. É uma piada!” — afirmou Jucá.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Afinal, quando custava uma Medida Provisória no balcão de negócios do eixo Planalto/Congresso? Jucá tenta tumultuar o assunto, falando em R$ 150 mil, até porque ninguém conseguiria comprar o Congresso por mixaria. No caso, quem estava totalmente comprado era o governo, que tinha obrigação venal de mobilizar a base aliada para aprovar a MP. O adicional que a Odebrecht gastava eram apenas alguns trocados, claro. O dinheiro grosso ficava no Planalto e na Esplanada dos Ministérios, do outro lado da Praça dos Três Podreres, digo, Poderes. (C.N.)
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Afinal, quando custava uma Medida Provisória no balcão de negócios do eixo Planalto/Congresso? Jucá tenta tumultuar o assunto, falando em R$ 150 mil, até porque ninguém conseguiria comprar o Congresso por mixaria. No caso, quem estava totalmente comprado era o governo, que tinha obrigação venal de mobilizar a base aliada para aprovar a MP. O adicional que a Odebrecht gastava eram apenas alguns trocados, claro. O dinheiro grosso ficava no Planalto e na Esplanada dos Ministérios, do outro lado da Praça dos Três Podreres, digo, Poderes. (C.N.)
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