"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

O CANTO DA JARARACA

Lula não reagiu à altura à civilidade de seus adversários por ocasião da morte da esposa. Transformou o velório da ex-primeira-dama em ato político e peça de propaganda do PT

O país saudou o gesto de civilidade demonstrado por adversários de Lula por ocasião da morte da ex-primeira-dama Marisa Letícia, ocorrida na semana passada. Foi uma evidência de que os sentimentos e o respeito humanos estão - ou deveriam estar - acima de preferências políticas ou partidárias. Infelizmente, contudo, o ex-presidente petista não reagiu à altura à atitude de seus antagonistas.

No sábado, o velório de Marisa acabou tornando-se palco para o velho proselitismo de Lula. Transformou-se num show, com superprodução, transmissão ao vivo de toda a cerimônia, que durou cinco horas, direito a claque, palavras de ordem, discursos e encerramento triunfante em tom de palanque do líder petista.

O ex-presidente tomou o microfone e, por mais de 20 minutos, deitou falação sobre sua trajetória à frente de sindicatos, do PT e do país. Nem parecia um funeral - para o viúvo, aliás, era um "ato" em que até os filhos eram "companheiros". 
Lula transformou a morte da esposa em mais uma ocasião para ataques a seus adversários, ameaças aos que hoje detêm o comando do governo, afrontas às instituições.

"Quero que os facínoras que levantaram leviandades contra ela tenham um dia a humildade de pedir desculpas. (...) Se alguém tem medo de ser preso, este que está aqui, enterrando sua mulher hoje, não tem"
,disse ele, sob aplausos de numerosa e entusiasmada plateia petista.

Nem o vestido que serviu de mortalha a Marisa escapou. Rubro, foi transformado em bandeira pela verve do ex-presidente: "A gente não tinha medo de vermelho quando era vivo e não temos medo de vermelho quando morre". 
Mais aplausos. Não faltou, claro, a estrelinha do PT na lapela... O momento exigia consternação e pesar, mas Lula parecia estar numa tribuna. Seria apenas insensibilidade ou a comprovação cabal de que é incapaz de qualquer movimento fora do cálculo político?

O que aconteceu neste sábado serve de alerta para aqueles que, ainda que por breves momentos, possam ter se inebriado pelo canto da jararaca quando, na quinta-feira, Lula ofereceu-se para "debater" saídas para o Brasil com o presidente Michel Temer. 
É evidente que o petista não tem interesse algum em ajudar quem não seja do PT. Sua intenção é tão somente agir de maneira oportunista e aproveitar o momento para tentar reabilitar-se perante a opinião pública.

Se tivesse mesmo convicção em unir-se a oponentes em favor do país, Lula não aproveitaria cada ocasião para pregar contra as reformas estruturais. Não incitaria seus sequazes a resistir contra as mudanças necessárias na Previdência e contra a modernização urgente da legislação trabalhista, ambas para que o país reconquiste equilíbrio e volte a gerar empregos. Não atuaria para parar o país com mobilizações e arruaças. Não teria transformado um velório num comício.

Durante o longo tempo em que o PT foi governo, a então oposição tentou debater com o petista. Jamais foi ouvida ou sequer recebida. Tomou como resposta a incitação ao ódio consignada pelo governo e seus líderes. 
Agora, Lula não tem mais como colaborar com as soluções que o Brasil exige. O que lhe cabe é apenas responder aos crimes previstos nos cinco processos nos quais é réu. 
Que dialogue com a Justiça, porque seu tempo na política, felizmente, passou.
08 de fevereiro de 2017
instituto teotonio vilela

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