O país vive um caos jamais registrado, com problemas gravíssimos em 12 Estados que estão em situação falimentar, e a violência já invade as ruas, porque sem salário ninguém trabalha, especialmente quem é policial e tem de arriscar a vida. A cidade de Vitória é apenas a ponta do iceberg. Apesar dessa crise gravíssima, em Brasília os políticos parecem viver candidamente no melhor dos mundos, só se preocupam em se livrar da Lava Jato e liquidar importantes conquistas sociais, como as leis trabalhistas e a previdência social, mas não falam em modificar as próprias regras de aposentadoria dos parlamentares, com apenas oito anos de serviço, enquanto o brasileiro comum terá de trabalhar 49 anos até se aposentar.
Em meio a essa esculhambação institucional, em que o Executivo não executa o que deve, o Legislativo não cuida de proteger o cidadão da ditadura dos banqueiros e o Judiciário não demonstra empenho em acelerar a prestação judicial, as grandes atrações da mídia são a delação do ex-deputado Eduardo Cunha, a nomeação de Alexandre Moraes para o Supremo e a blindagem do foro especial de Moreira Franco.
CUNHA EM AÇÃO – Antes de perder o mandato, quando sentiu que não iria se livrar da Lava Jato, que passou a ameaçar sua mulher e os filhos, Eduardo Cunha começou a preparar a defesa com auxílio do doleiro Lúcio Funaro, um de seus operadores na corrupção, que é muito organizado e guardava todos os comprovantes.
Os dois trabalharam nisso durante semanas a fio. O objetivo inicial era obrigar Michel Temer e os caciques do PMDB a pressionarem a Polícia Federal e os tribunais, para evitar que fossem presos. Foi uma embromação danada, Temer até chegou a receber Cunha no Palácio Jaburu, mas era tudo conversa fiada, Cunha e Funaro foram presos pela força-tarefa.
Agora, os documentos vão servir para a delação premiada que os dois parceiros estão negociando com a Lava Jato, cujas consequências são imprevisíveis, aguardem os próximos capítulos.
MORAES SEM MORAL – O presidente Temer, que parece fã de Voltaire e se tornou uma espécie de professor Pangloss em versão tropical, comemorou a escolha de Alexandre de Moraes, dizendo que não houve críticas.
Caramba, Temer está delirando… A indicação do nome de Moraes foi repudiada por todas as pessoas de bem que tiveram acesso à informação sobre a tese de doutorado dele, baseada em projeto de Temer para moralizar a nomeação de ministros do Supremo, que realmente é um acinte à independência dos Poderes da República e nada tem de democrática. Os dois defendiam uma tese brilhante e necessária, mas mudaram de ideia, em nome do culto ao Poder.
O resultado dessa pantomima é que nenhum dos dois – Temer e Moraes – pode ser merecedor de crédito e inspirar confiança. Pelo contrário, ambos são amorais – ou até mesmo imorais.
FORO PRIVILEGIADO – A terceira atração da mídia é a blindagem de Moreira Franco, que passou a ter foro privilegiado. O próprio neoministro alegou que “era necessário robustecer a Presidência da República recriando a Secretaria-Geral e, na Secretaria-Geral, tendo a Assessoria de Comunicação, que no passado foi um ministério e, ao lado da assessoria, o Cerimonial para que tivéssemos condições de organizar de maneira muito mais integrada todo o trabalho do presidente da República”. Mas nada disso justifica a blindagem, que agora está sendo investigada pelo Supremo, a pedido de parlamentares da oposição.
É claro que a Presidência de Michel Temer foi robustecida e a Casa Civil de Eliseu Padilha foi esvaziada. Na teoria, não há dúvida de que isso ocorreu, mas na prática Eliseu continuou mandando na Assessoria de Imprensa e nem permitiu que o neoministro Moreira Franco se instalasse no prédio do Planalto, mantendo-o no ostracismo do Anexo I, esta é a realidade concreta.
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PS – Temer até hoje não assumiu de fato a Presidência da República. Sonha em se livrar de Padilha, mas não tem coragem de demiti-lo, enquanto Moreira Franco finge que agora manda na Assessoria de Imprensa, mas é mentira. O neoministro só passou a comandar o Cerimonial, que é um setor chatíssimo e fica por conta dos diplomatas, não interessa a ninguém, e a Administração do palácio, que é tarefa de burocratas. E por isso la nave va, fellinianamente ensandecida. (C.N.)
PS – Temer até hoje não assumiu de fato a Presidência da República. Sonha em se livrar de Padilha, mas não tem coragem de demiti-lo, enquanto Moreira Franco finge que agora manda na Assessoria de Imprensa, mas é mentira. O neoministro só passou a comandar o Cerimonial, que é um setor chatíssimo e fica por conta dos diplomatas, não interessa a ninguém, e a Administração do palácio, que é tarefa de burocratas. E por isso la nave va, fellinianamente ensandecida. (C.N.)
08 de fevereiro de 2017
Carlos Newton
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