"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

TEMER MENTIU NA ENTREVISTA, AO AFIRMAR QUE A DOAÇÃO DA ODEBRECHT FOI "LEGAL"

Temer avisou que não vai renunciar nem demitir Padilha


O presidente Michel Temer reafirmou na manhã desta quinta-feira, durante café da manhã com jornalistas no Palácio da Alvorada, que não está em seus planos renunciar por conta de delações premiadas da Lava- Jato ou por conta da crise política. Ele afirmou, no entanto, que se a chapa Dilma-Temer for cassada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) cabe a ele seguir a decisão da Justiça. “Se a chapa for cassada respeito a decisão do Judiciário. Claro que antes disso haverá recursos e mais recursos”. Sobre uma possível renúncia, disse apenas: “Confesso não pensar nisso”.

Temer alfinetou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso por ter chamado o governo de “pinguela”, em referência ao documento “Ponte para o futuro”. A peça foi elaborada pelo PMDB no fim do ano passado, com o aumento da possibilidade do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. O presidente disse que a declaração de FH foi “delicada” e baseada em “muitas amarguras e paixões”.

PONTE OU PINGUELA? – Ao comentar o termo usado por FH, o peemedebista fez referência à infância no interior de São Paulo, tempo em que “nunca caiu” de pinguelas e conseguia atravessar riachos com amigos.

“Quando ouvi essa expressão “pinguela”, essa expressão delicada, pinguela, em que há muitas amarguras e paixões por trás, a primeira coisa que lembrei foi da minha infância” — declarou, descontraído. “Quando eu era menino tinha um riacho perto da minha casa onde brincávamos atravessando uma pinguela. Sabia que nunca caí? Se é ponte ou pinguela, não importa. O que importa é atravessar’ — emendou.

Ao comentar a sua baixa popularidade, o presidente disse que seria mais confortável deixar decisões “polêmicas” para o próximo governo. Assim, com a atual impopularidade, ele pode tomar medidas duras.

HERANÇA DE Dilma – Apesar de dizer que não queria comentar o “passado”, Temer atacou a “recessão profunda” e a “situação dificílima” que herdou da ex-presidente Dilma Rousseff, ex-companheira de chapa presidencial por mais de cinco anos. O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e do Planejamento, Dyogo Oliveira, foram mais incisivos nas críticas a políticas econômicas “artificialistas” da última década — período em que Lula e Dilma presidiram o Brasil.

“Jamais afirmei que tão logo eu assumisse o céu ficaria azul” — minimizou Temer, sobre a retomada econômica mais moderada do que a propagada pelo governo interino em maio.

CRÍTICAS A DELAÇÕES – O presidente disse que não tem “nada” contra a Operação Lava-Jato. A primeira colaboração premiada da Odebrecht a ser divulgada — são 77 ao todo — envolveu diretamente o núcleo do governo, incluindo o presidente. Temer criticou que políticos citados por delatores sejam “definitivamente condenados” antes de investigações, o que gera um clima de instabilidade, reclamou.

“Há o fato de que todos que tenham os nomes mencionados viram definitivamente condenados. O delator é alguém que falou de outrem, mas isso aí ainda vira um inquérito” — afirmou Temer, que completou: “Soltam uma delação por semana e cria um clima de instabilidade. Quem for mencionado vai se defender. O que não é possível é levar 70, 80 semanas para as delações virem à luz”.

DOAÇÃO LEGAL – Michel Temer se defendeu dizendo que, no caso da delação do ex-diretor da Odebrecht Cláudio Melo Filho, o dinheiro arrecadado pelo PMDB “entrou e saiu do partido” legalmente.

E sobre a citação do ministro Eliseu Padilha (Casa Civil) por ter intermediado e recebido R$ 1 milhão, Temer disse que não o demitirá. “Não tirarei o chefe da Casa Civil não. Ele continua firme o forte”.

E pela primeira vez, Michel Temer falou publicamente sobre como foi a semana antes da demissão do ex-ministro da Secretaria de Governo e antigo companheiro de Palácio do Planalto, Geddel Vieira Lima: “Foi uma coisa angustiante. Naqueles cinco ou seis dias, houve momentos muito agitados” — declarou o presidente, repetindo que não tem problemas em recuar de decisões.

“MOÇO” E “MENINO” – Temer não entrou em detalhes quando foi perguntado sobre os erros que cometeu desde que assumiu a Presidência da República.

Para referir-se ao ex-ministro da Cultura Marcelo Calero — que acusou Geddel de pressioná-lo a liberar uma licença para um prédio no qual Geddel tem apartamento, em área tombada de Salvador, e iniciou uma crise no governo —, Michel Temer chamou-o de “moço” e “menino”. O presidente também criticou ter sido gravado por Calero.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Trata-se de mais uma entrevista do tipo vôlei, em que os jornalistas levantam a bola para o entrevistado cortar, digamos assim. E Temer foi muito grosseiro ao chamar o ex-ministro de “menino” e “moço”. Imaginem se Calero o chamasse de “velho” ou “idoso”, ao ser entrevistado. No entanto, ninguém contestou Temer, que mentiu mais do que bula de remédio fitoterápico. Disse, por exemplo, que a doação de R$ 10 milhões da Odebrecht foi legal e ninguém lembrou ao constitucionalista que, se não há registro na contabilidade, trata-se de doação ilegal. Nenhum jornalista também se deu ao trabalho de lembrar a Temer que há um processo contra Eliseu Padilha por grilagem de terras públicas, devastação de 1,3 mil hectares de uma reserva ecológica estadual e manutenção de trabalhadores em regime de semiescravidão, e o ministro até com bens bloqueados, inclusive 2 mil cabeças de Nelore. Ou seja, os jornalistas de Brasília parecem tão esquecidos como a ministra da AGU. Mas se o repórter da Al Jazzera estivesse presente, certamente a entrevista tomaria outros rumos. Não entendo por que não o convidaram. (C.N.)

23 de dezembro de 2016
Simone Iglesias e Eduardo Barreto

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