"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sábado, 17 de dezembro de 2016

O CÉU EM FESTA

Chegou ao céu, destino final de sua viagem terrena, o comandante da esperança que empunhou neste Brasil as mais nobres e corajosas bandeiras por quarenta e cinco anos. Os arautos de Deus cuidaram de fazer troar os canhões, e a música entoou nênias para receber o brasileiro Don Paulo Evaristo Arns, com honras, luzes e palmas. É o que merecia este sacerdote, que por toda sua vida renunciou a confortos e bens e cuidou de aproximar-se do povo com manifestações de destemor e carinho.

A folha corrida de nosso marechal do bem e da virtude é vasta. Ele se comportou em vida como um embaixador do céu, levando a seu povo a verdade evangélica, aproximando-se dos carentes com o abraço sincero, a palavra amiga e a ação concreta da caridade.

Dom Paulo alcançou maior admiração entre os brasileiros quando, em interpelação que visava colocá-lo em hesitação, indagaram-lhe do incômodo que se encontrava o Criador quando do calvário de Tancredo Neves, em que a unanimidade do país orava fervorosamente por sua recuperação. Diante do quadro grave que apresentava o redentor da liberdade, como iria Deus recusar o pedido de nossa imensa população, ainda mais diante daquela hora da vida nacional em que todos o tínhamos por nossa única alternativa ? Respondeu Dom Paulo, de imediato: Meus filhos, as orações junto a Deus não se perdem ! E estava dito.

A dedicação de Dom Paulo aos menos favorecidos não era apenas uma opção preferencial. A missão pelas obras de caridade estava no DNA de Dom Paulo e se estendia à sua saudosa irmã Zilda Arns, também escolhida por Deus para prestar serviços religiosos, patrióticos e sociais. Era assim a franciscana Zilda Arns, fundadora da Pastoral da Criança, que entregou sua vida quando se solidarizava com o povo do Haiti, e em instante que seus protegidos também foram vítimas do terrível acidente que atingiu aquele país.

A vida do ilustre morto foi um compromisso constante e inabalável com o semelhante, até os que se encontravam isolados da família e da sociedade, quando, em situações de perigo pessoal, como foram os anos de chumbo, amparava e defendia presos políticos e outros ameaçados de perda da liberdade. Dom Paulo não conhecia o medo, exercendo seu mister sem medir consequências dos desagrados que lhe rendiam seu protesto e a proteção que julgava merecer os humilhados. Com a partida de Dom Paulo uma janela da ação social intensa se fecha. Porém, a diocese paulistana está pronta a dar continuidade a este sagrado ofício, agora abençoado por seu antecessor.

O papa Francisco, em nota de pesar do Vaticano - quem melhor qualificou a história de Dom Paulo - definiu o cardeal como intrépido. Este é o mais abrangente conceito sobre a personalidade de Paulo Evaristo Arns, que foi, na verdade, um invencível guerreiro do bem.


17 de dezembro de 2016
José Maria Couto Moreira é advogado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário