"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sábado, 17 de dezembro de 2016

CRÔNICAS DE LIMA BARRETO MOSTRAM QUE A POLÍTICA BRASILEIRA AINDA É A MESMA...


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O prefeito do Rio de Janeiro faz propaganda da obra e, pouco tempo depois de inaugurada, ela desaba. Foi assim em 1921, quando Carlos Sampaio divulgava a construção da gruta da Imprensa, abaixo de onde hoje fica a Avenida Niemeyer, na capital fluminense. Peritos da polícia viram no desabamento “causa natural”, por conta das características do terreno (além de ser uma encosta, é um local com frequência atingido por ondas). Um detalhe: a gruta fica no local exato –exato mesmo– onde desabou a ciclovia, em abril deste ano.
É um cipoal de ironias históricas sobre os problemas da república, dessas de se ler com um sorrisinho de lado, o que emerge de “Sátiras de Outras Subversões”, volume de 164 textos inéditos publicados por Lima Barreto em revistas satíricas como “Careta” e “Fon-Fon”, na Primeira República, que chega agora às livrarias.
São crônicas descobertas por Felipe Botelho Corrêa, professor do King’s College, no Reino Unido. Em sua pesquisa, ele ainda revela alguns pseudônimos do autor desconhecidos até hoje.
MUITOS PSEUDÔNIMOS – O pesquisador também checou os pseudônimos atribuídos a Lima Barreto por Francisco Assis Barbosa, seu primeiro biógrafo, e Carlos Drummond de Andrade, que cresceu lendo tais revistas e, mais tarde, se aventurou a escrever o “Dicionário de Pseudônimos Brasileiros”, nunca publicado.
A crônica sobre a obra da Gruta da Imprensa, por exemplo, é assinada por tal de Jonathan, que era o escritor carioca. A lista de Drummond já trazia, agora confirmados, Aquele, Inácio Costa, Ingênuo, J. Hurê e Xim, entre outros. Da lista de Francisco Assis Barbosa, Corrêa afirma que só são Lima Barreto os nomes J. Caminha (ou I. Caminha), Lucas Berredo, Phileas Fogg e S. Holmes, além do próprio Jonathan.
Da lavra do pesquisador, são revelados pela primeira vez Leitor, Amil, Eran, Pingente, Barão de Sumaret, Mié e Totalista. Parte significativa dos textos é uma prova que a história se repete. A pena de Lima Barreto se volta com frequência aos políticos da Primeira República.
CRÔNICAS ATUAIS – “Cem anos depois, você começa a ver que as crônicas ainda são muito relevantes. Quando caiu a Gruta da Imprensa, ninguém sabia se tinha sido dinamitada ou se havia sido uma onda”, diz Corrêa.
Em 1915, Lima Barreto, como Inácio Costa, disparava um petardo contra parlamentares que brigavam para não perder benefícios financeiros pagos pelo Estado.
Numa crônica em que imagina políticos falando dos cortes, o autor mostra um político protestando: “Querem tirar o pão da boca dos meus filhos”.
E que tal a história do rodolfinho? Era a palavra que servia tanto para descrever a propina paga a funcionários públicos quanto um mensalão para comprar apoio político. Um sinônimo era a palavra “reservado”.
CHEQUE DO MINISTRO – “Quando Xandu foi ministro, era fazer-se uma revistinha, era publicar-se um jornaleco, estampando-lhe o retrato, (…) e logo o dono (…) recebia das mãos dadivosas do grande ministro uma espécie de cheque”, escreve o autor.
Também já estavam ali os partidos criados sem solidez ideológica, apenas para arrumar benefícios. O cronista reclamava que, a cada eleição, as legendas fragmentavam-se ao infinito.
Há ainda o ajuste fiscal que acaba não dá certo pela necessidade de conciliar interesses. Em outro texto, Lima Barreto fala de uma repartição pública “fictícia” onde o chefe resolveu sanear as fianças. Até receber um bilhete de um escalão superior: “Peço-te com todo o empenho colocares aí o meu sobrinho Homero”.

17 de dezembro de 2016
Ednei Freitas

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