Multiplicar, fortalecer estatais e investir na área social figuram com destaque no discurso político-ideológico do PT, mas as ações marcham no sentido inverso
Os governos Lula e Dilma castigaram a Petrobrás com suas políticas erradas e prejudiciais à empresa. A Eletrobrás tenta sair do fundo do poço, para onde a desastrada queda da tarifa de energia a empurrou em 2013. O dinheiro do BNDES privilegiou grandes grupos, os chamados campeões nacionais, e o S de Social da sigla foi completamente esquecido. Multiplicar, fortalecer estatais e investir na área social figuram com destaque no discurso político-ideológico do PT. Só que as ações marcham no sentido inverso. Seja por incompetência ou por ímpeto populista, a verdade é que as políticas sociais dos últimos 13 anos não se sustentaram e acabaram canceladas ou suspensas porque o dinheiro acabou. Exceção feita ao bem-sucedido Bolsa Família e ao Minha Casa, Minha Vida, que cambaleia.
É verdade que na gestão de Lula milhões de brasileiros saíram da miséria, mas é verdade também que dois anos de recessão econômica, desemprego e queda na arrecadação desmancharam muitos destes ganhos e a população pobre, mais vulnerável à crise, passou a enfrentar o caminho de volta para a miséria. Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a desigualdade social piorou na gestão Dilma: a renda dos trabalhadores mais pobres, que recebem menos de um salário mínimo, caiu 9%, enquanto a renda média total do trabalho se reduziu em menos da metade (4,2%) e a da faixa mais rica aumentou 2,38%.
Na semana passada a Petrobrás divulgou seu plano de negócios para os próximos 5 anos. Entre itens importantes, como focar em exploração e produção de petróleo e gás e sair de outras áreas, uma surpresa: o plano reduziu de US$ 42,6 bilhões para US$ 19,5 bilhões a venda de ativos da estatal. Desmoronou o mito privatista da gestão pós-PT: a Petrobrás vai desestatizar menos da metade do que pretendia a equipe anterior do governo Dilma.
Também o BNDES anunciou seus planos: vai investir pesado em capital humano, atuando em parceria com governadores, abrindo créditos para saneamento, eficiência energética, iluminação pública e infraestrutura e gestão em educação, com ênfase no ensino médio. Acabaram os privilégios às empresas amigas, aos campeões nacionais, e o banco, enfim, dará sentido e conteúdo ao S do Social que carrega no nome.
Pedro Parente e Maria Silvia Bastos pertencem a um grupo de economistas de pensamento econômico liberal, que os petistas propagam só se preocupar com o mercado financeiro e desprezar o lado social da economia. No Ministério da Fazenda do governo FHC, Pedro Parente ajudou a formular as regras e comandou a maior renegociação das dívidas dos Estados com a União de que se tem notícia. Além disso, administrou com sucesso a saída da crise do apagão elétrico de 2001. Maria Silvia foi diretora do BNDES no governo Collor e, em breve passagem pela Secretaria da Fazenda da prefeitura do Rio de Janeiro (1993-1996), tirou as contas do atoleiro e deixou no caixa US$ 1 bilhão. Foi dirigir a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e, depois, ocupou cargos públicos e privados. Os dois têm perfil técnico, são movidos pelo desafio de vencer obstáculos sem preconceitos ideológicos e nunca pensaram em participar da política ou se candidatar em eleições.
No plano de negócios, Parente tenta corrigir os erros de Lula e de Dilma ao transformarem a Petrobrás num braço das políticas do governo ao congelar o preço dos combustíveis, obrigando-a a apresentar planos de investimentos pomposos e irreais, levando-a a um endividamento que rebaixou sua classificação de risco e reprimiu seu crescimento, a aceitar a absurda posição de única operadora do pré-sal e a comprar plataformas e embarcações da hoje fracassada indústria naval pelo dobro do preço externo. Enfim, arrasaram com a empresa. A saída imaginada por Dilma seria vender seus ativos fatiados, fazer o que o PT sempre acusou FHC de ter a intenção de fazer: privatizá-la.
O mensalão e a vasta corrupção na Petrobrás mostraram que o PT enganava o público ao se mostrar como único partido ético e honesto. Sua passagem pelo poder também vai revelando a farsa de seu discurso ideológico.
25 de setembro de 2016
Suely Caldas, Estadão
Os governos Lula e Dilma castigaram a Petrobrás com suas políticas erradas e prejudiciais à empresa. A Eletrobrás tenta sair do fundo do poço, para onde a desastrada queda da tarifa de energia a empurrou em 2013. O dinheiro do BNDES privilegiou grandes grupos, os chamados campeões nacionais, e o S de Social da sigla foi completamente esquecido. Multiplicar, fortalecer estatais e investir na área social figuram com destaque no discurso político-ideológico do PT. Só que as ações marcham no sentido inverso. Seja por incompetência ou por ímpeto populista, a verdade é que as políticas sociais dos últimos 13 anos não se sustentaram e acabaram canceladas ou suspensas porque o dinheiro acabou. Exceção feita ao bem-sucedido Bolsa Família e ao Minha Casa, Minha Vida, que cambaleia.
É verdade que na gestão de Lula milhões de brasileiros saíram da miséria, mas é verdade também que dois anos de recessão econômica, desemprego e queda na arrecadação desmancharam muitos destes ganhos e a população pobre, mais vulnerável à crise, passou a enfrentar o caminho de volta para a miséria. Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a desigualdade social piorou na gestão Dilma: a renda dos trabalhadores mais pobres, que recebem menos de um salário mínimo, caiu 9%, enquanto a renda média total do trabalho se reduziu em menos da metade (4,2%) e a da faixa mais rica aumentou 2,38%.
Na semana passada a Petrobrás divulgou seu plano de negócios para os próximos 5 anos. Entre itens importantes, como focar em exploração e produção de petróleo e gás e sair de outras áreas, uma surpresa: o plano reduziu de US$ 42,6 bilhões para US$ 19,5 bilhões a venda de ativos da estatal. Desmoronou o mito privatista da gestão pós-PT: a Petrobrás vai desestatizar menos da metade do que pretendia a equipe anterior do governo Dilma.
Também o BNDES anunciou seus planos: vai investir pesado em capital humano, atuando em parceria com governadores, abrindo créditos para saneamento, eficiência energética, iluminação pública e infraestrutura e gestão em educação, com ênfase no ensino médio. Acabaram os privilégios às empresas amigas, aos campeões nacionais, e o banco, enfim, dará sentido e conteúdo ao S do Social que carrega no nome.
Pedro Parente e Maria Silvia Bastos pertencem a um grupo de economistas de pensamento econômico liberal, que os petistas propagam só se preocupar com o mercado financeiro e desprezar o lado social da economia. No Ministério da Fazenda do governo FHC, Pedro Parente ajudou a formular as regras e comandou a maior renegociação das dívidas dos Estados com a União de que se tem notícia. Além disso, administrou com sucesso a saída da crise do apagão elétrico de 2001. Maria Silvia foi diretora do BNDES no governo Collor e, em breve passagem pela Secretaria da Fazenda da prefeitura do Rio de Janeiro (1993-1996), tirou as contas do atoleiro e deixou no caixa US$ 1 bilhão. Foi dirigir a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e, depois, ocupou cargos públicos e privados. Os dois têm perfil técnico, são movidos pelo desafio de vencer obstáculos sem preconceitos ideológicos e nunca pensaram em participar da política ou se candidatar em eleições.
No plano de negócios, Parente tenta corrigir os erros de Lula e de Dilma ao transformarem a Petrobrás num braço das políticas do governo ao congelar o preço dos combustíveis, obrigando-a a apresentar planos de investimentos pomposos e irreais, levando-a a um endividamento que rebaixou sua classificação de risco e reprimiu seu crescimento, a aceitar a absurda posição de única operadora do pré-sal e a comprar plataformas e embarcações da hoje fracassada indústria naval pelo dobro do preço externo. Enfim, arrasaram com a empresa. A saída imaginada por Dilma seria vender seus ativos fatiados, fazer o que o PT sempre acusou FHC de ter a intenção de fazer: privatizá-la.
O mensalão e a vasta corrupção na Petrobrás mostraram que o PT enganava o público ao se mostrar como único partido ético e honesto. Sua passagem pelo poder também vai revelando a farsa de seu discurso ideológico.
25 de setembro de 2016
Suely Caldas, Estadão
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