Ortodoxos, como a denominação indica, escolhem as políticas mais tradicionalmente adotadas nos demais países.
Os heterodoxos propõem políticas alternativas que, caso se revelem eficazes, podem se tornar a nova ortodoxia.
Assim ocorreu, por exemplo, com o keynesianismo em meados do século 20. De proposta heterodoxa nos anos 1930, tornou-se a nova ortodoxia nas décadas seguintes.
Existe muita incerteza sobre as implicações da política econômica, dependente das condições particulares, ainda mais na macroeconômica em que a evidência empírica costuma ser parcimoniosa.
Exatamente porque a ciência é pequena e a incerteza é grande, espera-se cuidado redobrado com experimentos na política econômica, pois, nestes casos, há ainda menos evidências do que para as medidas usuais.
A boa heterodoxia passa pela estatística, dialoga com a ortodoxia e pode ser útil, sobretudo, para enfrentar momentos que fogem da normalidade econômica.
O inovador plano real foi precedido pelo equilíbrio das contas públicas, incluindo o Programa de Ação Imediata (PAI), em 1993, com diversas medidas de ajuste fiscal.
Reconhecer o sucesso de medidas inovadoras não significa salvo conduto para que tudo seja aceitável. O experimentalismo não deve ser irresponsável. Não se distribuem medicamentos sem testes preliminares, nem se inova na política econômica sem embasamento e a previsão de correção de rota em caso de frustração com os resultados.
O Brasil já experimentou as consequências de muita criatividade na condução da política econômica. Os fracassos foram demasiados, sobretudo entre 1975 e 1992. O segundo PND, a prefixação do câmbio e da correção monetária no começo do governo Figueiredo, a lei de informática e os planos econômicos dos anos 1980 marcaram 17 anos de uma política econômica tão criativa quanto incompetente, com graves danos econômicos e sociais.
Surpreende como os erros foram sistematicamente repetidos, como se quem tivesse que aprender fosse a realidade, não os gestores da política econômica.
Depois de 2009, vivemos um novo período de grande experimentalismo na economia. A política monetária reduziu significativamente as taxas de juros, intervenções setoriais foram utilizadas para controlar a inflação, subsídios foram distribuídos a roldão para estimular o investimento privado e a produção em diversos setores foi protegida da concorrência externa.
A criatividade à larga resultou em uma das piores recessões da nossa história desde 1900. Os curandeiros, transvestidos de heterodoxos, prometeram novidades e apenas repetiram os fracassos de décadas passadas.
25 de setenbri de 2016
Marcos Lisboa, Folha de SP
Os heterodoxos propõem políticas alternativas que, caso se revelem eficazes, podem se tornar a nova ortodoxia.
Assim ocorreu, por exemplo, com o keynesianismo em meados do século 20. De proposta heterodoxa nos anos 1930, tornou-se a nova ortodoxia nas décadas seguintes.
Existe muita incerteza sobre as implicações da política econômica, dependente das condições particulares, ainda mais na macroeconômica em que a evidência empírica costuma ser parcimoniosa.
Exatamente porque a ciência é pequena e a incerteza é grande, espera-se cuidado redobrado com experimentos na política econômica, pois, nestes casos, há ainda menos evidências do que para as medidas usuais.
A boa heterodoxia passa pela estatística, dialoga com a ortodoxia e pode ser útil, sobretudo, para enfrentar momentos que fogem da normalidade econômica.
O inovador plano real foi precedido pelo equilíbrio das contas públicas, incluindo o Programa de Ação Imediata (PAI), em 1993, com diversas medidas de ajuste fiscal.
Reconhecer o sucesso de medidas inovadoras não significa salvo conduto para que tudo seja aceitável. O experimentalismo não deve ser irresponsável. Não se distribuem medicamentos sem testes preliminares, nem se inova na política econômica sem embasamento e a previsão de correção de rota em caso de frustração com os resultados.
O Brasil já experimentou as consequências de muita criatividade na condução da política econômica. Os fracassos foram demasiados, sobretudo entre 1975 e 1992. O segundo PND, a prefixação do câmbio e da correção monetária no começo do governo Figueiredo, a lei de informática e os planos econômicos dos anos 1980 marcaram 17 anos de uma política econômica tão criativa quanto incompetente, com graves danos econômicos e sociais.
Surpreende como os erros foram sistematicamente repetidos, como se quem tivesse que aprender fosse a realidade, não os gestores da política econômica.
Depois de 2009, vivemos um novo período de grande experimentalismo na economia. A política monetária reduziu significativamente as taxas de juros, intervenções setoriais foram utilizadas para controlar a inflação, subsídios foram distribuídos a roldão para estimular o investimento privado e a produção em diversos setores foi protegida da concorrência externa.
A criatividade à larga resultou em uma das piores recessões da nossa história desde 1900. Os curandeiros, transvestidos de heterodoxos, prometeram novidades e apenas repetiram os fracassos de décadas passadas.
25 de setenbri de 2016
Marcos Lisboa, Folha de SP
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