Está chegando à reta final a batalha travada pelo
impeachment, desenvolvendo otimismo em todos aqueles que alimentam certa
esperança pela continuidade do atual governo, ao associá-lo à retomada da
confiança e à supressão das incertezas.
A única certeza que poderemos ter nisso
tudo é que o impeachment jamais passará o Brasil a limpo.
Uma vez aprovado o impeachment no Senado, este representará
um passo fundamental para que o país volte, paulatinamente, a reconquistar sua
credibilidade no mercado internacional junto a seus investidores.
A verdade é
que no ambiente externo, nota-se certo desconforto e, até mesmo, um pouco de
desconfiança em função da interinidade desse governo.
Talvez porque falte ainda
a percepção de que esse processo pelo qual estamos passando é democrático e
constitucional.
Já sentimos algumas
iniciativas positivas entre os investidores, que já falam em tirar seus
projetos empoeirados das prateleiras, pensando em executá-los, o que resultaria
na geração de emprego e renda e, consequentemente, contribuiria para o
equilíbrio macroeconômico dos próximos anos.
Sinto que quando setembro vier, após o afastamento
definitivo de Dilma, um importante caminho para o ajuste fiscal poderá ser
aberto, o que viria a fortalecer um sentimento latente em muitos brasileiros de
que o pior já passou para a economia brasileira.
Esta aparenta estar bem
próxima do ponto de inflexão. Os resultados do primeiro semestre ainda foram
muito ruins. Todavia, já vemos os primeiros indícios vitais de uma virada de
ciclo econômico para o segundo semestre que poderá ser melhor no nosso ambiente
interno.
No início deste segundo semestre, os indicadores que
envolvem expectativas relacionadas à economia já começam a revelar um ligeiro
otimismo ou, talvez, uma recuada do pessimismo.
Um bom exemplo é a evolução da
pesquisa Focus elaborada pelo BC (Banco Central), reconhecida por expressar as
impressões do mercado financeiro, quando sinalizou outra semana de queda, mesmo
que despretensiosa, nas projeções de inflação e uma ligeira redução no PIB
(Produto Interno Bruto).
Outro indicador relevante divulgado pela FGV (Fundação
Getúlio Vargas) em julho passado, abrangendo o antecedente de emprego,
mostrou-se mais favorável desde 2014.
Ou ainda o índice de confiança dos
empresários ligados ao segmento das pequenas indústrias, elaborado pela Federação
das Indústrias de São Paulo (Fiesp), no mesmo período, revelou seu melhor
resultado desde 2013.
A confiança, entretanto não é duradoura e, por si
só, jamais será a solução para todos os problemas que vêm nos afligindo.
Inicialmente, é bom que fique claro sobre qual espécie de confiança estou me
referindo. Além disso, até que ponto cada segmento poderá contar com o governo
para manter esse ambiente.
O ajuste fiscal tem que ser profundo e rápido,
apoiado com total responsabilidade no corte dos gastos, já que este é o
principal desejo dos grandes agentes econômicos e, especialmente, do mercado
financeiro, que já vem censurando os excessos de “flexibilidade” praticados
pela atual equipe econômica.
Para os mais ansiosos, o que existe de mais
concreto, na realidade, é a questão da renegociação das dívidas dos Estados,
quando foi aplicado aquele velho comportamento do “pressionou levou”. Apesar disso,
nota-se uma prudência do BC quanto à sua política de juros.
O setor produtivo está ansioso por esclarecimentos
mais consistentes sobre as reformas trabalhista e previdenciária e reza
diariamente para que a queda dos juros seja rápida e duradoura. Mas existe uma
coisa que impressiona: ele não aguenta ouvir falar sobre aumento de impostos.
Os brasileiros torcem fervorosamente para que o País
vire a página do ajuste fiscal e retorne ao caminho do crescimento sustentável,
promovendo o emprego, o aumento da renda e, outros aspectos que tenham pleno
direito. Enquanto isso, a classe média sempre imagina uma recuada no dólar,
capaz de vir novamente a favorecer suas viagens e consumo no exterior.
A esta altura deixo uma curiosa pergunta: será que é
possível harmonizar rapidamente todos esses propósitos? Qual seria o prazo?
Caso tudo venha a correr bem com o impeachment favorável a Temer e as surpresas
com o Lava Jato não passarem de meros sustos, julgo que o fator tempo poderá
ser seu principal adversário.
As eleições municipais já estão bem próximas e, como
todos sabem, período de campanha eleitoral e trabalho no Congresso são
absolutamente inconciliáveis. Aliás, não adianta cultivar a ilusão de que as
pressões contra o ajuste vão arrefecer.
Penso que ainda falta um elo na cadeia que venha
unir a confiança à retomada do crescimento econômico. As empresas, no geral,
encontram-se com baixa rentabilidade e elevado endividamento; elas precisam de certo
tempo para se oxigenarem e partirem com determinação em busca de novos
investimentos.
Precisamos também entender que esse tipo de
caminhada não é exatamente perfeita, até porque as passadas são lentas e
existirão momentos de avanço e também de retrocesso ao longo da jornada. Mesmo
assim, é possível enxergar uma lógica e é provável que o Brasil já
esteja um pouco antes da metade desse tortuoso caminho que é indispensável percorrer.
18 de agosto de 2016
Arthur Jorge Costa Pinto é Administrador, com
MBA em Finanças pela UNIFACS (Universidade Salvador).
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