"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 18 de agosto de 2016

NÃO É SÓ CONFIANÇA



Está chegando à reta final a batalha travada pelo impeachment, desenvolvendo otimismo em todos aqueles que alimentam certa esperança pela continuidade do atual governo, ao associá-lo à retomada da confiança e à supressão das incertezas. 
A única certeza que poderemos ter nisso tudo é que o impeachment jamais passará o Brasil a limpo.

Uma vez aprovado o impeachment no Senado, este representará um passo fundamental para que o país volte, paulatinamente, a reconquistar sua credibilidade no mercado internacional junto a seus investidores. 
A verdade é que no ambiente externo, nota-se certo desconforto e, até mesmo, um pouco de desconfiança em função da interinidade desse governo. 
Talvez porque falte ainda a percepção de que esse processo pelo qual estamos passando é democrático e constitucional.  

Já sentimos algumas iniciativas positivas entre os investidores, que já falam em tirar seus projetos empoeirados das prateleiras, pensando em executá-los, o que resultaria na geração de emprego e renda e, consequentemente, contribuiria para o equilíbrio macroeconômico dos próximos anos.

Sinto que quando setembro vier, após o afastamento definitivo de Dilma, um importante caminho para o ajuste fiscal poderá ser aberto, o que viria a fortalecer um sentimento latente em muitos brasileiros de que o pior já passou para a economia brasileira. 
Esta aparenta estar bem próxima do ponto de inflexão. Os resultados do primeiro semestre ainda foram muito ruins. Todavia, já vemos os primeiros indícios vitais de uma virada de ciclo econômico para o segundo semestre que poderá ser melhor no nosso ambiente interno.

No início deste segundo semestre, os indicadores que envolvem expectativas relacionadas à economia já começam a revelar um ligeiro otimismo ou, talvez, uma recuada do pessimismo. 
Um bom exemplo é a evolução da pesquisa Focus elaborada pelo BC (Banco Central), reconhecida por expressar as impressões do mercado financeiro, quando sinalizou outra semana de queda, mesmo que despretensiosa, nas projeções de inflação e uma ligeira redução no PIB (Produto Interno Bruto). 

Outro indicador relevante divulgado pela FGV (Fundação Getúlio Vargas) em julho passado, abrangendo o antecedente de emprego, mostrou-se mais favorável desde 2014. 
Ou ainda o índice de confiança dos empresários ligados ao segmento das pequenas indústrias, elaborado pela Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), no mesmo período, revelou seu melhor resultado desde 2013.

A confiança, entretanto não é duradoura e, por si só, jamais será a solução para todos os problemas que vêm nos afligindo. Inicialmente, é bom que fique claro sobre qual espécie de confiança estou me referindo. Além disso, até que ponto cada segmento poderá contar com o governo para manter esse ambiente.

O ajuste fiscal tem que ser profundo e rápido, apoiado com total responsabilidade no corte dos gastos, já que este é o principal desejo dos grandes agentes econômicos e, especialmente, do mercado financeiro, que já vem censurando os excessos de “flexibilidade” praticados pela atual equipe econômica. 
Para os mais ansiosos, o que existe de mais concreto, na realidade, é a questão da renegociação das dívidas dos Estados, quando foi aplicado aquele velho comportamento do “pressionou levou”. Apesar disso, nota-se uma prudência do BC quanto à sua política de juros.

O setor produtivo está ansioso por esclarecimentos mais consistentes sobre as reformas trabalhista e previdenciária e reza diariamente para que a queda dos juros seja rápida e duradoura. Mas existe uma coisa que impressiona: ele não aguenta ouvir falar sobre aumento de impostos.

Os brasileiros torcem fervorosamente para que o País vire a página do ajuste fiscal e retorne ao caminho do crescimento sustentável, promovendo o emprego, o aumento da renda e, outros aspectos que tenham pleno direito. Enquanto isso, a classe média sempre imagina uma recuada no dólar, capaz de vir novamente a favorecer suas viagens e consumo no exterior.

A esta altura deixo uma curiosa pergunta: será que é possível harmonizar rapidamente todos esses propósitos? Qual seria o prazo? Caso tudo venha a correr bem com o impeachment favorável a Temer e as surpresas com o Lava Jato não passarem de meros sustos, julgo que o fator tempo poderá ser seu principal adversário.

As eleições municipais já estão bem próximas e, como todos sabem, período de campanha eleitoral e trabalho no Congresso são absolutamente inconciliáveis. Aliás, não adianta cultivar a ilusão de que as pressões contra o ajuste vão arrefecer.

Penso que ainda falta um elo na cadeia que venha unir a confiança à retomada do crescimento econômico. As empresas, no geral, encontram-se com baixa rentabilidade e elevado endividamento; elas precisam de certo tempo para se oxigenarem e partirem com determinação em busca de novos investimentos.

Precisamos também entender que esse tipo de caminhada não é exatamente perfeita, até porque as passadas são lentas e existirão momentos de avanço e também de retrocesso ao longo da jornada. Mesmo assim, é possível enxergar uma lógica e é provável que o Brasil já esteja um pouco antes da metade desse tortuoso caminho que é indispensável percorrer.

18 de agosto de 2016

Arthur Jorge Costa Pinto é Administrador, com MBA em Finanças pela UNIFACS (Universidade Salvador).

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