Vejam como os fatos confirmam a definição legada por Magalhães Pinto de que a política é como a nuvem: muda de forma e direção a todo instante. Quinta-feira, 03/03, eu ia escrever sobre a anunciada disposição do empresário Leo Pinheiro de revelar novos detalhes sobre a participação da OAS, sua empresa, em relação a Guarujá e Atibaia. Mudei de ideia, ao receber de Virgílio Tamberlini, companheiro deste site, que Andreza Matais, Vera Rosa e Fausto Macedo divulgaram no site de O Estado de São Paulo reportagem sobre trechos fortíssimos da delação premiada proposta pelo senador Delcídio Amaral à Operação Lava Jato.
Por sua vez, eis a importância da Internet, os repórteres de OESP tiveram acesso ao texto-bomba por intermédio de mais um site, o da Revista Isto É, com o documento completo de Delcídio Amaral, de 400 páginas. Ricardo Boechat, na BandNews, apontou a existência do relato, destacando sua importância. O excelente jornalista Gerson Camarotti fez longa análise da bomba chamada Delcídio, no longo Jornal da GloboNews.
Estilhaços atingiram o ex-presidente Lula, a detonação atinge em cheio a presidente Dilma Rousseff, que teve seu espaço de ação acentuadamente reduzido. Pois, se acatada a proposta de delação, outros episódios além dos já abordados entrarão em cena. A presidente da República, de fato, não poderá se esquivar de responder a diversas questões colocadas pelo ex-líder do governo no Senado Federal.
ABANDONADO PELO PT
Poder-se-á dizer que Delcídio Amaral praticou uma retaliação em resposta ao fato de, segundo ele, ter sido abandonado por Lula e pelo PT. Mas a motivação, em caso, pouco importa. A mágoa que se impôs, levando-o à emoção total, não altera o conteúdo de suas afirmações. Elas têm que ser respondidas e, se possível, esclarecidas. Tal tarefa está colocada à frente da mesa de Dilma Rousseff no Palácio do Planalto. Sobretudo porque Delcídio Amaral não tinha recuo. Para ele, essa hipótese é impossível. Claro que ele jogou seu mandato pela janela do Senado. Dificilmente poderá recuperá-lo, já que sua presença na Casa passou a ser execrada, agora até pelo PT. Ficou solitário no tiroteio. Não há saída possível em matéria de permanecer no Parlamento.
Perdido por um, perdido por dois, como se diz. Nesta altura dos acontecimentos, ele já se vê sem mandato. Sua meta efetiva é a de não se ver na prisão. A delação premiada é seu último lance de dados para obter prisão domiciliar, já que não espera contar mais com a perspectiva de foro privilegiado permanente. Vendo-se no fato, e não apenas o fato, o ainda parlamentar por Mato Grosso do Sul, já sem vinculação partidária, imagina-se imobilizado na teia, mas de uma possível prisão domiciliar.
QUAL A SAÍDA?
Parte ele do princípio, a ser confirmado, de que sua proposta de colaborador da Justiça (termo adotado por Rodrigo Janot em relação ao processo Eduardo Cunha) será aceita. É provável, uma vez que não teria lógica a Procuradoria-Geral da República recusar a adição de documentos e versões, cuja procura faz parte de seu trabalho, de suas investigações, na trilha das confirmações.
Este prisma interpretativo agrava o panorama político em volta do Palácio do Planalto. Qual poderá ser a saída, agora, para Dilma Rousseff?
05 de março de 2016
Pedro do Coutto
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