"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 18 de outubro de 2015

PAI-HERÓI (A NOVA BIOGRAFIA DE LUIZ CARLOS PRESTES)


O pai foi o maior líder comunista que o Brasil já pariu, coletando êxitos e fracassos em uma atuação pública –ainda que em alguns momentos clandestina– que se estendeu por sete décadas, consolidando-o como um dos brasileiros com maior projeção internacional no século 20.
A filha, fruto de uma incendiária relação com a agente comunista alemã Olga Benario, nasceu em um campo de concentração nazista e só foi conhecer o pai aos nove anos. Mais tarde, se tornariam praticamente inseparáveis, construindo uma relação (ela seria também sua secretária por 32 anos) que só terminou com a morte dele, em 1990.
Historiadora por formação e aspirante a revolucionária comunista no século passado, por herança familiar, Anita Leocadia Prestes, 78, apresenta na próxima semana o seu “Luiz Carlos Prestes – Um Comunista Brasileiro” (ed. Boitempo), livro em que trabalhou por mais de três décadas e que classifica como uma biografia política.
ADMIRAÇÃO E CRÍTICAS
Evitando destrinchar detalhes da vida pessoal de Prestes, alguns deles espinhosos para a própria autora, como a ruidosa relação com a segunda e última mulher do pai, Maria do Carmo Ribeiro, Anita refaz a trajetória do personagem com uma inegável admiração que enfatiza a imagem mitológica do Prestes herói, embora também não o poupe de críticas.
“Mesmo quem não gosta dele reconhece que ele foi uma das lideranças mais importantes do século 20. Não dá para negar isso”, afirma a historiadora à Folha.
Calcada em pesquisa documental e inúmeros depoimentos gravados no fim da vida de Prestes, a biografia aborda o período que moldou o Brasil moderno, que começa nas primeiras revoltas tenentistas, no início dos anos 1920, e termina na eleição de 1989, a primeira após a redemocratização, quando o comunista, ainda que relutante com o PT, declarou apoio a Lula no segundo turno da disputa contra Collor.
SEM ILUSÕES COM O PT
“Se há alguém que nunca se iludiu com o PT foi Prestes. Ele nunca considerou o PT um partido socialista ou revolucionário, ele achava o partido burguês. Inclusive o Lula, em quem ele reconhecia talento e inteligência, mas dizia a ele que era preciso estudar, pois só talento, sem conhecimento, não resolve nada”, diz.
Segundo a historiadora Anita Leocadia Prestes, foi intencional a sua opção por ignorar aspectos da vida pessoal do pai, biografado em “Luiz Carlos Prestes – Um Comunista Brasileiro”.
“Só entrou o necessário da vida pessoal para montar o quadro da participação dele em determinados episódios. Prestes não se distingue por ter sido, por exemplo, um excelente pai de família”, diz.
Anita e as tias nunca tiveram boa relação com a segunda mulher de Prestes, que a conheceu nos anos 1950, durante um período em que vivia na clandestinidade. Ela iria acompanhá-lo até o fim da vida. Nas 560 páginas, Maria do Carmo Ribeiro só é citada uma vez – ela ao menos aparece em uma das fotos. “No meu livro, [ela] não interessava muito. Mesmo sobre Olga, minha mãe, só falei o indispensável”, conta.
COM VARGAS
Fatos polêmicos da vida política de Prestes também foram ignorados, como a participação do comunista em um ato político em São Paulo, em 1947, no mesmo palanque de Getúlio Vargas.
Na década anterior, ao liderar o fracassado levante comunista que tentara derrubar Getúlio, Prestes foi preso e condenado, enquanto sua mulher – alemã, judia e grávida– fora enviada por determinação do então presidente a um campo de concentração na Alemanha de Hitler. Olga morreu anos depois do nascimento de Anita.
A historiadora afirma que, ao escrever, optou pelos momentos mais importantes. “Prestes nunca fez aliança com Getúlio, nunca apertou sua mão. O que houve foi uma contingência política. Cirilo Júnior era candidato a vice-governador em São Paulo e era apoiado por Getúlio, líder maior do PTB, e por Prestes, líder do PCB. Eles apareceram juntos. Não achei que houvesse necessidade de escrever esses detalhes”, ressalta a filha, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro e autora de outros livros sobre o pai (como um que aborda a Coluna Prestes) e a história do comunismo no Brasil.
JUSTICIAMENTO
Anita, contudo, critica a atuação de Prestes em certos episódios, como no justiçamento realizado pelos revolucionários, em 1936, contra a namorada de um dirigente do Parido Comunista. Prestes foi um dos defensores da punição, e a jovem falsamente acusada pelos camaradas acabou executada.
“Meu objetivo era deixar registrada para as futuras gerações a atuação dele durante quase todo o século 20. Ser filha me ajudou a ter acesso a ele, mas fiz o livro como historiadora”, defende-se.
Anita, pelo menos, não escreve em nenhum momento na primeira pessoa – forma utilizada em algumas poucas notas biográficas, segundo ela, por solicitação da editora.

(artigo enviado pelo comentarista Mário Assis)
18 de outubro de 2015

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