Acusado de se lambuzar no propinoduto da Petrobras, lavar o dinheiro sujo no exterior e intimidar testemunhas da Lava Jato, o deputado Eduardo Cunha está próximo de perder o mandato por um delito menor: mentir a uma CPI.
Em 12 de março, ele disse aos colegas que não tinha “qualquer tipo de conta em qualquer lugar” além da que declarou à Justiça Eleitoral.
Foi desmentido por extratos bancários, assinaturas e documentos pessoais enviados por procuradores suíços.
As provas remetidas ao Supremo indicam que a decantada esperteza do deputado tinha limites.
Ele cometeu erros primários, como apresentar o passaporte diplomático para abrir uma conta secreta. Também usou sua empresa de comércio religioso, a Jesus.com, para ocultar uma frota de carros de luxo. O Porsche em nome de Jesus inaugura uma nova fronteira na exploração da fé para fins patrimoniais.
RELIGIOSIDADE
Cunha existe eleitoralmente graças à aliança com igrejas pentecostais. Aos fiéis, apresenta-se como voz “em defesa da vida e da família”. Agora sabe-se que ele interrompia reuniões com Fernando Baiano para pregar em uma rádio evangélica.
Na sexta-feira, a tropa do deputado trocava ligações para discutir a sucessão na presidência da Câmara.
O tom das conversas lembrava uma velha máxima de Brasília: políticos podem chorar no velório e até ajudar a carregar o caixão de um aliado, mas nunca se jogam na cova com ele.
ÚLTIMO CARTUCHO
Ao alquebrado Cunha, restaria uma última bala: anunciar, nos próximos dias, o recebimento de um pedido de impeachment de Dilma Rousseff.
Para um peemedebista, seria a única forma de empurrar o foco da pressão para o Planalto.
A ideia enfrenta ao menos dois obstáculos. Primeiro, a oposição teria que fechar um novo e perigoso acordo com o deputado, que perdeu de vez o “benefício da dúvida”.
Depois, o Supremo teria que cruzar os braços diante de outra manobra dele, o que a corte já indicou que não fará.
18 de outubro de 2015
Bernardo Mello FrancoFolha
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