"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 4 de junho de 2015

DEDO-DURO CONFESSA A REPÓRTER QUE ENTREGOU OS PAIS DELE À REPRESSÃO


REPÓRTER ENTREVISTA HOMEM QUE ENTREGOU SEUS PAIS À TORTURA

MATHEUS LEITÃO COM O PAI, MARCELO NETTO, E A
MÃE MIRIAN LEITÃO, AOS 19 ANOS





MARCELO NETTO E MIRIAN LEITÃO, EM FOTOS DOS
ARQUIVOS DA DITADURA.



Ele não havia nascido quando, em dezembro de 1972, seus pais foram levados para o Forte São Francisco Xavier da Barra, parte do 38º Batalhão de Infantaria, em Vitória, no Espírito Santo.
Lá, Marcelo Netto e Míriam Leitão – ela, grávida do seu primeiro filho, Vladimir -, dois estudantes de 23 e 19 anos, foram separados, presos, torturados física e psicologicamente, submetidos aos horrores da ditadura, escondidos nos porões (sim, eles eram reais, não se trata de uma expressão), sob a capa do patriotismo.

Matheus Leitão Netto, jornalista e – principalmente – filho, conseguiu resgatar,15 anos depois de iniciar a sua pesquisa, o início daquela história de terror que transformou a vida de uma família e marcou de forma desonrosa a memória do Brasil.
Em dezembro do ano passado, no dia 3 – exatos 42 anos da prisão dos seus pais -, depois de longa investigação, conseguiu localizar e entrevistar o traidor, o responsável maior pelo comando regional do PCdoB no Espírito Santo à época.
O homem que foi o delator dos seus pais, que os entregou aos torturadores: Foedes dos Santos, hoje com 74 anos, mora em Cariacica (ES).




MIRIAN E MATHEUS LEITÃO


Além do trabalho minucioso, da pesquisa cuidadosa, a perseverança e dedicação na construção do material, é importante registrar a coragem do repórter ao ficar frente a frente com aquele que não se furtou à confissão. “Entreguei”, disse Foedes. Braços e pernas cruzadas, defronte ao filho dos ex-companheiros, ele se disse arrependido e até enviou um pedido de desculpas. Simplesmente explicou que não suportaria a tortura, que entregou os nomes dos integrantes do partido “sob aquelas condições”. Foram 20 estudantes, jovens sonhadores e idealistas e um dirigente do partido, que morreu. Os pais de Matheus sobreviveram, mas muitos morreram naqueles porões e outros sofrem as consequências dos maus tratos até hoje.

A reportagem, digna de estudo nas salas de aulas das faculdades de jornalismo, é um exemplo de apuração ética. 

Nela, o jornalista não adjetiva, não emite opinião sobre a fonte. Limita-se a narrar e descrever as cenas e os próprios sentimentos do repórter. O material completo está publicado no site brio.media. É um relato emocionante, corajoso e sobretudo histórico.


A ESPERA - BRIO

brio.media/pt/title/212


04 de junho de 2015
diário do poder

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