"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 4 de junho de 2015

ATRÁS DE UM MOTIVO

A discussão é antiga, mas está de volta agora, depois da série de ataques praticados por jovens assaltantes no Rio. São muitas as questões. Como se explica esse fenômeno em que a violência vem acompanhada de ódio gratuito e requintes de crueldade? 
Os ladrões roubam e muitas vezes, mesmo sem resistência, esfaqueiam as vítimas, em alguns casos até a morte. 
Alega-se que esses quase meninos são o resultado de desajustes sociais e emocionais — ausência do Estado, famílias desestruturadas, pais problemáticos, desemprego, falta de escola. 
Até que ponto somos nós os responsáveis por essas condutas delituosas? 
Quem faz o criminoso, a sociedade ou o indivíduo? 
Aprendi na faculdade, lendo o filósofo Jean-Jacques Rousseau, que “o homem nasce bom, mas a sociedade o corrompe”. 
Antes de ser pervertido pela civilização, ele vivia em harmonia com a natureza, livre de baixos sentimentos como o egoísmo. Esse famoso princípio foi depois reforçado pela teoria marxista de que “o ser humano é produto do meio”. 
Dessa forma, o homem é, inseparavelmente, consequência do ambiente em que vive, que, por sua vez, é construído a partir das relações sociais de cada pessoa. Há um determinismo histórico.
São teses consagradas, mas que sempre suscitaram dúvidas e questionamentos. Se somos moldados pelo meio em que vivemos, se estamos todos sujeitos à sua influência, por que os comportamentos são diferentes, e mesmo antagônicos, uns escolhendo o bem e outros, o mal? Por que só alguns se dedicam à delinquência? Ao fazer pesquisa de campo para um livro, conheci a história de dois rapazes de uma favela — nascidos e criados sob idênticas condições socioeconômicas, amigos, colegas de escola. Um foi ser chefe do tráfico local e o outro, sociólogo e líder comunitário.

Negar a importância dos fatores sociais pode ser tão equivocado quanto supervalorizá-los ou, ao contrário, atribuir tudo à herança genética. O importante é medir o peso de cada uma das influências. 
Uma pesquisa publicada recentemente pela “Nature Genetics” e revelada aqui pelo colunista Helio Schwartsman talvez traga a resposta correta. 
Ao avaliar estudos com gêmeos nos últimos 50 anos, envolvendo mais de 14 milhões de pares de irmãos, a revista concluiu que a parte atribuível ao genes seria de 49%, significando então que 51% de todas as características humanas podem ser debitadas ao ambiente. 
Ou seja, deu empate técnico, encerrando a disputa.

O escândalo da Fifa, com prisão do ex-presidente da CBF José Maria Marin, e o indiciamento de Ricardo Teixeira, também ex-presidente, ofuscou o noticiário sobre o petrolão. Em outras palavras, os cartolas, acusados de tantos desvios, “roubaram” a cena também.


04 de junho de 2015
Zuenir Vetura

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