O PT e a Fifa foram feitos um para o outro.
Nunca antes na história deste país uma Parceria Público Privada funcionou tão azeitadamente.
Se para as práticas e as habilidades que se requer para conquistar o poder nos grotões do mundo onde ainda são aceitos truques e expedientes postos fora dos limites do receituário democrático nos países centrais o PT é professor e pontifica para todo aventureiro disposto a lançar mão deles de cima da tribuna do Foro de São Paulo em cuja platéia sentam-se disciplinadamente ouvintes do quilate de Fidel Castro, ninguém bate a Fifa em matéria do que pode-se acumular de conhecimentos ao longo de toda uma vida mandando incontestavelmente no “esporte das multidões”.
É das melhores provas disponíveis depois do fim do absolutismo monárquico para a verdade da máxima de lord Acton: “Se o poder corrompe, o poder absoluto corrompe absolutamente”.
A Copa do Mundo da Fifa, afirmam alguns observadores em cujo critério confio, é um negócio que fatura “por dentro” algo como cinco a seis bilhões de euros por edição.
Não é pouca porcaria para quem não tem nenhum mandato para nada e conseguiu criar essa rede aparentemente indestrutível de interesses apoiada exclusivamente nos poderes da lábia e do dinheiro mas sem exércitos nem bancos centrais com que sustentar seus delírios de poder.
Não é pouca porcaria para quem não tem nenhum mandato para nada e conseguiu criar essa rede aparentemente indestrutível de interesses apoiada exclusivamente nos poderes da lábia e do dinheiro mas sem exércitos nem bancos centrais com que sustentar seus delírios de poder.
Mas minha intuição diz que esse valor é troco perto do que realmente se movimenta por trás do pano, sobretudo se for incluído aí o tráfico internacional de passes de jogadores que dão saltos estratosférios a cada convocação.
Vende-se tudo no evento de Joseph Blatter& Amigos, a começar pela escolha de quem serão os Amigos de cada edição, conforme está sendo apurado neste momento com relação aos Amigos de Catar, que virão depois de Putin, este que esboça no momento a urdidura de uma União das Republicas Bandidas. Mas fiquemos só no que é mais diretamente palpável.
Pelo que se pode constatar pelo que está rolando no Brasil, a coisa evoluiu praticamente para o “aluguel” de um país inteiro pela empresa de Joseph Blatter & Amigos onde eles – e apenas eles e mais quem lhes outorga tais poderes – ganham pelo que o evento “acrescentar de movimento” às industrias nacionais coadjuvantes do acontecimento.
Essa lista de afinidades e de troca de amabilidades inclui:
1 – A exclusividade da geração de todas as imagens e entrevistas dos atletas participantes o que, além da chave para a valorização de passes, garante que somente as perguntas adequadas serão dirigidas aos participantes adequados e somente as imagens convenientes serão repassadas aos telespectadores.
Ter o controle absoluto das informações em torno do evento, nos limites do possível para quem está em terras estrangeiras e não dispõe de tropas nem de armamento pesado, é tão necessário para quem aborda a questão com as intenções que Blatter & Amigos aborda quanto é para o político mal intencionado, e pelas mesmas razões.
O que ele exige quanto a essa questão não é, portanto, nada que os políticos brasileiros também não exijam, por enquanto só nos períodos que antecedem as eleições o que, pelo calendário vigente, deixa-nos um ano “livre” a cada ano censurado. O PT, aliás, declara todos os dias que quer acabar com essa exceção e passar a exigir a censura sobre seus atos e os de seus associados em qualquer dia de qualquer ano.
2 – Não é preciso lembrar que a transmissão do evento é também o mais suculento “filé” que ele serve. É essa a plataforma de toda a publicidade que sustenta o circo. Pegar uma beira nesse direito é coisa tão cobiçada, portanto, quanto ganhar um ministério no governo do PT. Mas custa aos candidatos nacionais à retransmissão o mesmo compromisso de cumplicidade com o “poder concedente” para que haja as mesmas garantias de “governabilidade” de todo o evento e do que mais possa ser incluído no aparentemente inesgotável saco de lesa-contribuinte/espectador que gira em torno dele.
Conforme ao clima geral de “explicitude” deste governo, chegou-se, no Brasil, ao extremo de modificar leis nacionais de segurança pública para não perder “bifes” grandes o suficiente nesse campo, como foi o caso da lei sobre consumo de álcool nos estádios.
Sobre as outras regras draconianas impostas aos co-participantes nacionais ainda haveremos de saber um dia. Os comentaristas das TVs brasileiras, encurralados, as têm mencionado indiretamente a toda hora durante as transmissões, com indisfarçável tom de irritação.
3 – O contrato de aluguel do país sede inclui também as mais “icônicas” praias e praças públicas de cada capital ou cidade importante para a montagem dos Fifa Fan Fest’s, os telões, acompanhados ou não de shows, que extendem as platéias dos estádios reservadas aos VIPs e aos aspirantes a VIPs para a gente das ruas. Nós construímos; eles vendem. Em algumas, montadas em estádios de futebol, cobra-se ingresso. Em todas vende-se milhões em publicidade, não tendo sido informado se os “entes de governo” abaixo do federal também levam “algum” nessa.
4 – Não sei o que acontece com relação a passagens aéreas, mas os hotéis brasileiros foram constrangidos por prefeituras e ministérios a vender para a Fifa, pela interposta pessoa do mesmo senhor Ray Whelam, da subsidiária Match Services, preso ontem e solto hoje por venda de ingressos no câmbio negro, todas as suas reservas para o período do evento a preço de temporada baixa. Todo o sobrepreço fica para Joseph Blatter & Amigos, aí incluídas as autoridades nacionais outorgantes e, como estamos constatando agora, esse sobrepreço é nada menos que abusivo, ficando para o Brasil e para os brasileiros a pecha de exploradores de turistas.
5 – Com os ingressos é a mesma coisa perpetrada pela mesma interposta pessoa. A Fifa não se contenta com vendê-los a preços apenas exorbitantes. Quer “privatizar” também as vendas no câmbio negro onde pratica-se a exorbitância da exorbitância da exorbitância. Assim o sr. Whelam fixa-se nos territórios-alvo com meses, às vezes anos, de antecedência para montar a necessária rede de varejo de distribuição da sua mercadoria ilegal, tomando o cuidado de construir uma “escada” de testas-de-ferro entre ele e o cambista da porta do estádio, de modo a dificultar a ligação entre uma coisa e outra.
A Fifa posa de “democrática” vendendo ingressos a preço oficial pela internet e ajudando aos demagogos locais com um “corte” para vendedores de carteirinhas de estudantes, de vantagens para “idosos” e para donos de outras searazinhas particulares com alguma importância eleitoral mas, pelas costas, pega tudo isso de volta e muito mais explorando os US$ 200 ou 300 milhões do “mercado” de ingressos no câmbio negro.
No país do livre-grampo, deu-se mal. Está tão flagrado na falcatrua quanto 90% dos nossos políticos. Em compensação, contratando bons advogados ligados a ex-ministros, ainda é capaz de, como eles, sair como herói.
6 – Shows de abertura e encerramento também correm por conta de Joseph Blatter & Amigos. O de abertura, de qualidade abaixo da crítica, foi atribuído a “uma empresa belga” cuja ligação com Blatter nenhum jornalista brasileiro se preocupou em desvendar mas que certamente existe para fazer com que U$ 18 milhões (oficiais) fossem entregues a eles para um espetáculo de dar sono em histérico no país mais festeiro do mundo e que tem à mão gente como o carnavalesco Paulo Bastos capaz de fazer o mundo tremer de encantamento por uma fração desse valor.
7 – Acrescente-se a isso o que deve estar rolando pelo direito de vender comidas e bebidas nos estádios, no transporte dos VIPs e não VIPs e até, quem sabe, na indicação “preferencial” de restaurantes e casas de divertimento e se terá uma idéia do porque os tais Amigos fizeram de Joseph Blatter um intocável, até pelas autoridades suíças que sabem quanto, de fato, ele fatura.
Os sinais são de que poder-se-ia encher uma biblioteca inteira com a história dos bilhões laterais e sub-laterais que rolam em torno da Copa, se houvesse tempo, dinheiro e disposição para por jornalistas infensos aos efeitos ideológico-eleitoreiros do evento e policiais dispostos no seu encalço. Isso sem contar, é claro, com a parte do leão de que muito já se falou, que são os “por fora” que os políticos corruptos sempre fazem nos estádios, aeroportos, estradas, viadutos e o mais que, adquirida a condição de amigos preferenciais de Joseph Blatter, eles conseguem colher em tempo recorde o que, de outro modo, levariam décadas para amealhar.
09 de julho de 2014
Fernão Lara Mesquita é Jornalista. Originalmente publicado no site Vespeiro em 8 de Julho de 2014.
Fernão Lara Mesquita é Jornalista. Originalmente publicado no site Vespeiro em 8 de Julho de 2014.
Nenhum comentário:
Postar um comentário