“O Brasil saiu da crise mundial muito bem e não se justificam preocupações com sua economia”.
As afirmações são um contraponto às avaliações de especialistas internacionais de que o País faz parte de um grupo de nações frágeis, análise que foi reforçada pelo Federal Reserve, num estudo recente. Ele defende que as preocupações com a economia brasileira não mais se justificam.
“O Brasil tem um desempenho muito bom da economia, em meio à crise internacional”, enfatizou . “Há maior confiança no País e que política fiscal será mais responsável”. Krugman afirmou que a dívida externa do País, “perto de US$ 300 bilhões”, não é mais um fator importante no caso brasileiro, pois seu PIB é bem maior, pouco acima de US$ 2 trilhões, e possui reservas próximas de US$ 370 bilhões.
“Além disso, o País tem hoje uma menor exposição em dívida denominada em moeda estrangeira”. Nem mesmo o câmbio apreciado, que foi objeto das mais fortes críticas de Krugman em outras visitas ao País, foi mencionado como um problema durante palestra promovida pela revista Carta Capital na terça-feira.
CHOQUE DA CHINA???
Krugman disse que é possível que a China, o principal parceiro comercial do Brasil, passe por um movimento de desaceleração do nível de atividade, o que ele classificou com um “choque”, embora afirme que esse não é o principal cenário com o qual trabalha para o país asiático no curto prazo. “E o Brasil sofreria com um choque na China, por causa das exportações de commodities.”
“Estou preocupado com um choque na economia chinesa, mas não seria catástrofe”, disse. “Como proporção do PIB no país, os investimentos atingem 50% e o consumo das famílias chega a 30%. Essa proporção precisa se inverter, para que o nível de atividade na China tenha uma estratégia de expansão mais equilibrada.
Krugman também destacou que os números da economia da China são os que apresentam “o maior nível de ficção” entre os BRICS. “Aliás, o conceito BRICS é muito peculiar. Ele representa um conjunto de países que não têm semelhanças.
Ele se reportou ao acrônimo criado por Jim O’Neill, ex-executivo do Goldman Sachs, que se referia a um grupo formado por Brasil, Rússia, Índia e China. Hoje, a sigla foi expandida e ganhou um “S”, relativo à África do Sul (South Africa, em inglês).
FED E EUA
O Nobel de Economia disse que o Fed, presidido agora por Janet Yellen, tem uma preocupação bem maior com a fraqueza da recuperação da demanda agregada nos Estados Unidos, o que não está sendo ainda registrado por investidores internacionais. “Yellen quer manter a taxa de juros bem baixas por muito tempo.
Os mercados estão errados”, comentou, referindo-se a avaliação que de um segmento de analistas em países avançados, para quem o banco central norte-americano poderia voltar a elevar os juros em 2015. “A política de afrouxamento quantitativo foi uma decepção como política monetária” ressaltando que ela não ajudou a fortalecer o consumo norte-americano nos últimos anos.
Para Krugman, a economia americana está em processo de retomada, mas continua fraca. “Talvez os EUA tenham risco de enfrentar deflação”, declarou, numa referência à fraca realidade de variação média de preços dos EUA, um reflexo direto da dificuldade do PIB voltar a expandir no ritmo de seu potencial.
Afirmou que um indício disso é que a taxa de juros de curto prazo está muito próxima de zero, fato que só aconteceu na história do país ,durante a Grande Depressão de 1930. “Em função dessa realidade, os retornos de investimentos financeiros estão também muito fracos”.
ECONOMIAS FRACAS
Krugman afirmou,que, a fraca recuperação da atividade nos EUA não é um fenômeno isolado, pois é um fato que está sendo registrado em todos os países avançados, que tem um “novo padrão econômico”, de crescimento mais baixo do que o registrado antes da crise internacional ser deflagrada em setembro de 2008. “As economias estão fracas de forma persistentes e há dificuldades para ajustar”.
“Uma indicação disso é que a crise atual mantém um crescimento pequeno no mundo. A Europa, por outro lado, parece que não tem catástrofe, mas também está sem recuperação econômica”. Para ele, contudo, um contraponto a essa realidade é que os países da América Latina, principalmente o Brasil, estão mais “resilientes” do que no passado.
No seu entender, se o mundo está apresentando um ritmo pífio de recuperação, no entanto, há um fator positivo: “As autoridades de países avançados pelo menos evitaram a destruição do sistema financeiro mundial”. E isso aconteceu, sobretudo, com ações coordenadas dos bancos centrais dos EUA, Zona do Euro, Japão e Inglaterra, ao injetarem grande liquidez nos mercados, a fim de diminuir o potencial de quebra de diversos bancos e ajudar a normalizar o fluxo global de capitais, notadamente no final de 2008.
19 de março de 2014
José Carlos Werneck
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