"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

UM SÉCULO DE ISLAMISMO AFRICANO AMERICANO

           
          Artigos - Religião 
Nobre Drew Ali, fundador do Moorish Science Temple of America.
O ano de 2013 marcou o centenário da fundação divulgada do Templo Canaanita em Newark, Nova Jersey. Foi uma das primeiras formas nativas do islamismo africano americano, totalmente distinta do islamismo padrão, a religião de 1.400, fundada por Maomé na Arábia. Desse movimento veio Elijah Muhammad, Malcolm X e Louis Farrakhan.

O século pode ser dividido em dois grandes períodos: a invenção de uma nova religião (1913 a 1975) e a mobilização para a normatização do Islã (1975-2013).

Timothy Drew (1886-1929), americano afro-descendente, autodenominado Nobre Drew Ali, fundou o templo de Newark. Em 1925 fundou mais um, melhor organizado, com o nome de Moorish Science Temple of America. Suas ideias derivam de quatro fontes não muito plausíveis, pan-africanistas, Shriners, Muçulmanos Ahmadiyya e racistas brancos.

Ele se apropriou das noções do cristianismo de pan-africanistas como Edward Wilmot Blyden e Marcus Garvey, como religião dos brancos e o Islã como dos não brancos. Como shriner praticante, Nobre Drew Ali tomou para si traços dessa organização, como o uso do termo "Nobre" antes do nome, a necessidade dos homens usarem barretes cônicos e uma rede de alojamentos.
Dos ahmadis tomou os nomes em árabe, o tema do crescente e da estrela, a proibição de comer carne suína e a noção de Jesus ter ido à Índia.
Dos racistas brancos veio a ideia de que os já assentados afro-americanos não são sequer africanos e sim "mouros", "mouros-americanos" ou "asiáticos", um povo mítico do noroeste da África, moabitas, que migraram para a África subsaariana.

Livro sagrado do Nobre Drew Ali, O Sagrado Alcorão do Moorish Science Temple of America.
A partir dessa combinação única, o Nobre Drew Ali idealizou o livro sagrado de 64 páginas da sua religião, O Sagrado Alcorão do Moorish Science Temple of America (Chicago, 1927) que, apesar do nome, não tem quase nada a ver com o Alcorão islâmico, normativo, sendo amplamente plagiado com base em dois textos, um cristão oculto, o outro tibetano. O mais estranho é que o seu Alcorão se concentra, não na figura de Maomé, mas na de Jesus.

Nobre Drew Ali esperava que ao evitar a associação com a África, inventando uma nova identidade para os americanos afro-descendentes, insistindo para que sejam leais aos Estados Unidos, aparentariam ser novos imigrantes e como outros recém-chegados, passariam despercebidos evitando os estereótipos racistas arraigados e a segregação.

Mas não é o que iria acontecer. Segundo o historiador Richard Brent Turner, "Nobre Drew Ali não entendia que o caldo cultural não se estendia aos negros dos anos de 1920".

O MSTA entrou em declínio após a morte de Nobre Drew Ali em julho de 1929. A organização ainda existe com cerca de mil devotos. Um dos membros, Clement Rodney Hampton-El, foi condenado pela participação no atentado do World Trade Center em 1993, sentenciado a 35 anos de prisão. Outro membro, Narseal Batiste, foi condenado a treze anos e seis meses por planejar explodir a Sears Tower em Chicago.

O Templo teve um papel decisivo como precursor da Nation of Islam (Nação do Islã  - NoI), fundada em julho de 1930. O MSTA deu início a dupla tradição, subsequentemente apossado pela NoI, apropriando-se da imagística do Islã normativo despido de seu conteúdo, usando essa religião popular como veículo para se livrar do racismo branco. Ambos dedicavam-se acima de tudo aos americanos afro-descendentes não praticantes servindo como ponte para que se convertessem ao Islã normativo.

Muitas características do MSTA, o termo "nação", a identidade "asiática", a rejeição do negro e da África, a identificação do Islã com "pessoas de pele escura", a previsão de que todos os brancos seriam destruídos e a pretensão de profetizar e às vezes até de divindade, sobreviveu na NoI.

Clement Rodney Hampton-El, terrorista condenado pelo atentado ao World Trade Center.
Muitos dos primeiros membros da NoI pertenciam ao MSTA e era comum verem a Nação como sucessora do Templo. Elijah Muhammad, efetivo fundador da NoI, elogiava o precursor MSTA e às vezes retratava modestamente o movimento como "tentativa de terminar o que os antecessores começaram".

Desde 1975, a força motriz estava longe do MSTA enquanto a NoI favorecia o Islã normativo, com mais de um bilhão de seguidores. Nem o MSTA nem a NoI tem condições de competir com a profundidade, peso e recursos dessa fé mundial.
A NoI tem perdido membros para o Islã normativo, a ponto de continuar, graças principalmente à importância dos membros mais antigos e ao já doente Farrakhan (nascido em 1933).
Quando ele sair de cena, a NoI irá provavelmente seguir os passos do MSTA, ou seja, rápido declínio, seguindo a adoção do Islã normativo pela maioria esmagadora dos muçulmanos americanos afro-descendentes.

Apesar de seu futuro insignificante, o MSTA e a NoI preservam sua importância, porque praticamente todos os 750 mil muçulmanos americanos afro-descendentes de hoje, e uma comunidade potencialmente bem maior nos anos vindouros, remontam suas raízes ao Templo Canaanita do século passado, em Newark.

Publicado no The Washington Times
Original em inglês: A Century of African-American Islam
Tradução: Joseph Skilnik

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