O senador Renan Calheiros parece convencido de que suas palavras não precisam corresponder aos fatos, o importante, algum marqueteiro deve tê-lo convencido disso, é falar o que o povo quer ouvir, sem que seja necessário acompanhar com ações.
Só isso explica que tenha ido à televisão nos últimos dias do ano passado para falar em “transparência” e “controle social” no momento em que o noticiário denunciava que mais uma vez ele usou um avião da FAB para uso pessoal bizarro: fazer um implante de cabelo em Recife.
É claro que ele gravou a declaração de fim de ano com antecedência, e não poderia imaginar que seria apanhado mais uma vez com a boca na botija antes mesmo de seu pronunciamento ir ao ar. Se desse tempo, poderia ter aproveitado o pronunciamento em rede nacional de rádio e televisão para pedir mais uma vez desculpas ao povo brasileiro.
Renan Calheiros, presidente do Senado. Foto: Pedro França / Agência Senado
Renan parece estar sempre às voltas com incongruências quando se tratam de palavras e ações e mesmo quando cita supostas medidas corretivas ditadas “pelas vozes das ruas”, revela defeitos de nossos congressistas que são consertados apenas quando denunciados pela grande imprensa, como o fim dos 14º e 15º salários dos parlamentares e o fim do voto secreto em casos de cassação de mandato e vetos presidenciais.
Para a fala oficial do presidente do Senado, esses são exemplos de que “a transparência e o controle social ajudam a corrigir erros, eliminar vícios e distorções”. Ele falava como se fosse o boneco do ventríloquo, o marqueteiro Elsinho Mouco, o preferido do PMDB segundo os bastidores de Brasília, enquanto fora de seu mundo virtual as denúncias de sua viagem pelas asas da FAB para o implante capilar corriam soltas.
Pois não passa de um “vício” essa sua mania de andar de avião sem pagar, só o fazendo depois de apanhado em flagrante. E mesmo assim ele e outros colegas seus inauguraram uma nova maneira de enganar o distinto público: pagar o preço de uma passagem comercial pelo “aluguel” de um jatinho exclusivo, o que evidentemente é muito mais caro. Mas quem se atreve a cobrar o devido ao presidente do Congresso?
03 de janeiro de 2014
Merval Pereira, O Globo
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