"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

O PT QUER UMA REFORMA POLÍTICA. ISSO SIGNIFICA QUE A REFORMA POLÍTICA É PÉSSIMA.

O PT quer proibir doações privadas em campanhas eleitorais. Todas as campanhas terão um campeão de verbas a partir de então: o próprio PT.

 
reforma política lula1 505x338 O PT quer uma reforma política. Isso significa que a reforma política é péssima.
 
A visão moderna de democracia (que começa no Iluminismo) tem como tripé fundamental a idéia da “separação de poderes”. Muito antes da democracia, o poder quase sempre foi dividido. É por isso que se fala em poder econômico, poder político, poder produtivo, poder eclesiástico etc: cada um tem o seu papel, são todos interdependentes e podem imiscuir-se uns nos outros ou não (o que a democracia moderna foi 200% incapaz de evitar).
 
É possível evitar o poder político escorando-se no poder econômico ou na agitação das classes baixas com cada vez mais facilidade (também temos o poder comunicativo hoje, numa era informacional). Muito mais facilmente do que podemos tentar encontrar alguma espécie de checks and balances entre Executivo centralizado, Legislativo comprado e aparelhado e Judiciário ativista e indicado pelo Executivo.
Começa-se a votar agora a reforma política que pretende proibir doações de empresas para campanhas políticas. Até o momento, já tem 4 votos a favor no STF.
É algo parecido com as discussões sobre drogas (na verdade, troca-se a categoria da droga): fala-se em “acabar com o tráfico”, que é venda ilegal, legalizando as vendas. Uma discussão atrás do próprio rabo ad nauseam.
O projeto é imensamente imoral: o meu, o seu, o nosso dinheiro vai financiar partidos fazerem política para nós mesmos. Partidos os quais não quero sequer que existam, que dirá que recebam o meu dinheiro para fazer propaganda para mim.
 
Com a eterna ladainha contra o “poderio econômico”, como se ele fosse a nossa grande Nêmesis, e como se Eike Batista, Abílio Diniz, Nizan Guanaes e jornalistas que vão de Bárbara Gancia a José Luiz Datena não fossem todos apoiadores do PT, busca-se concentrar todo o equilíbrio das vontades apenas no poder político à propósito de uma “democratização” . Claro, quem está no poder será o campeão do montante de verbas para propaganda, arrancada dos próprios “compradores”.
 
Assim, a democracia se torna um bom modo de tomar o poder e de governar “legitimamente”, e revela o caráter do antigo termo “democracia” (de Platão até antes do Iluminismo): a tirania da maioria, onde qualquer coisa é aceita, desde que tenha 51% dos votos.
 
Se o PT hoje está no poder, vai querer mesmo estatizar todo o dinheiro e ficar com a maioria. Muito melhor do que o modelo cubano, pode deixar umas migalhas para uma coisa que alguns chamam de “oposição”, que nunca é capaz de legislar nem executar leis (muito menos chegar perto do Judiciário), com uma aparência de forças em disputa, mas que é hegemônica e homogênea, além de hiperconcentrada.
 
Se Noam Chomsky crê, de forma parecida com Michel Foucault, que a sociedade não tem liberdade no capitalismo por causa da força da imprensa e das agências de publicidade em fomentar e dirigir vontades para os mesmos objetivos, sua “saída” é de uma inteligência cavalar: concentrar poder contra os “poderosos”, os “mandarins”, e ao invés de deixar um pingo de liberdade para as pessoas escolherem entre automatismos comportamentais, obrigá-las a votar e aceitar o poder dos políticos, que vão forçá-las a serem livres de suas vontades corrompidas.
 
Com isso sendo discutido e aceito pelo STF, chegaremos facilmente a um novo estágio da “democracia”, ou na verdade seu velho sentido platônico: toma-se o poder com a maioria, e depois apenas manda-se a minoria a obedecê-la – afinal, a maioria é legítima e a minoria tem de aprender a viver sempre de migalhas.
 
Todas as campanhas terão um campeão de verbas a partir de então: o próprio PT. Afinal, um partido viciado em oclocracia como o PT não agiria diferentemente – ou alguém acredita que o PT está interessando em uma reforma para compartilhar o poder, para dar mais espaço para qualquer coisa fora do Estado, contra o Estado dominado por ele? Ele quer o bolo para si.
 
E a conta para nós, que estaremos felizes, “livres do poder econômico”, dando nosso próprio dinheiro não para quem queremos, mas para o PT e quem é a “maioria”.
Como esperar ter alguma mudança social com uma maioria eternamente sendo a mesma maioria?
 
A democracia é linda como uma forma de tomar o poder, mas o PT sempre confirma as previsões dos adoradores da res publica em oposição à ditadura da maioria: assim que o poder é tomado, é apenas concentrado e torna-se discussão bizantina entre os burocratas que legislam toda a nossa vida.
 
03 de janeiro de 2013
Flávio Morgenstern

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