Predominava, entre os donos do poder econômico e seus porta-vozes a mentira vinda dos Estados Unidos, de que a América Latina encontrava-se à mercê da guerra revolucionária e da guerra psicológica adversa. Simples artifício para impedir mudanças políticas, econômicas e sociais necessárias à população. Da determinação de manter Jango prisioneiro, passaram à tentação de expurgá-lo da presidência da República, o que fizeram pouco depois, a 31 de março. É claro que a equação não se desenvolveu de forma tão simples assim.
Do lado do chefe do governo existiam forças imaginando transformar as reformas em mudança das instituições. Marinheiros infiltrados por agentes provocadores tentaram a quebra da hierarquia militar e falsos líderes sindicais imaginavam reproduzir sovietes nas fábricas por eles controladas. João Goulart buscava a justiça social e o avanço institucional, mas não podia controlar parte dos que, aliados às suas propostas, pretendiam virar o país de cabeça para baixo. Acabou prevalecendo a força bruta, falaram as armas, impulsionadas pelas elites.
Por que se recordam aqueles tempos bicudos de meio século atrás? Primeiro porque os vivemos. Depois, porque o cenário mudou apenas pela metade. Continuam atentas e influentes as forças empenhadas em manter o predomínio de seus interesses econômicos e de seu controle sobre as arcaicas instituições de sempre. Apesar das reviravoltas no processo político, permanecem impondo suas diretrizes. Tentam, agora, buscar identidades entre Jango e Dilma, ou seja, ameaçando a presidente da República de aceitar sua prevalência ou…
Ou o quê? Porque agora não dispõem mais da capacidade de manipular as forças armadas, recolhidas à penitência de haverem imposto 21 anos de ditadura. Muito menos enfrentam a confusão de sindicatos de trabalhadores em ebulição, ou de ideólogos furibundos do passado. Mas mantém-se na mesma intenção de impor seus privilégios à maioria da população, frágeis carentes que somos das reformas de que carecíamos e continuamos carecendo.
Dizem que o mundo anda para a frente. É verdade. Só que fica complicado quando a gente vê os mesmos de sempre tentando impedir a evolução. Se não há mais militares para respaldá-los, não seria a hora de rejeitá-los? De relegá-los às profundezas, por conta do mal que já praticaram contra todos nós? Que tal se fossem as forças armadas a promover esse expurgo imprescindível, ainda que sem empalmar o poder, mas subordinando-se às necessárias instituições democráticas? Hoje, como há 50 anos atrás, os militares não provém das elites. Não integram aquela minoria de privilegiados pelo berço ou pelas malandragens financeiras. Sofrem, como a maioria da população. Um dia podem despertar. Mas do lado certo…
11 de janeiro de 2014
Carlos Chagas
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