O ano começou, e para muitas pessoas se inicia um novo ciclo. Na cultura celta o ano não tem começo nem final, ele segue o ritmo contínuo da natureza e as marcações no calendário são as mudanças mais evidentes na própria natureza. A cada nova estação, ocorre uma festividade, geralmente com significado associado à agricultura e durante essas celebrações as fronteiras entre os mundos material e sobrenatural desaparecem, e o reino dos vivos se mistura com o outro mundo.
A natureza dá e tira a vida e nada pode nascer sem antes ser destruído, podendo dar vazão à sua força regeneradora, mas o seu potencial para a destruição precisa ser mantido e controlado. Para auxiliar esse equilíbrio existem os intermediários, como os deuses da natureza, os druidas e os bardos ou poetas. Todas as divindades do mundo celta encarnam o paradoxo da vida e da morte, sempre de acordo com a regra do morrer para nascer. Naquela época, a ciência não buscava explicar todas as coisas, e os animais, as plantas e as forças da natureza eram as fontes de toda a magia.
As árvores são símbolos importantes da sabedoria celta. Suas raízes penetram fundo na terra, para os mundos de baixo, enquanto seus galhos crescem em direção ao céu, ou seja, ao mundo de cima; elas fazem a ligação entre o mundo inferior e o mundo superior e, quando mudam de folhas anualmente, evocam o ciclo infinito de nascimento, vida, morte e renascimento. Enquanto isso, a própria árvore, perene, reflete a vida eterna.
Também são importantes na cultura celta, as tríades de conhecimento, que são um verdadeiro veículo de transmissão de sua sabedoria. Por exemplo, as três fontes de conhecimento: pensamento, intuição e aprendizado; os três motivos para o riso de um tolo: rir do que é bom, rir do que é ruim e rir do que não entende; os três tipos de homem: os homens bons, que retribuem o mal com o bem, os homens do mundo, que retribuem o bem com o bem e o mal com o mal, e os homens maus, que retribuem o bem com o mal.
Este tipo de filosofia de vida continua adequado mesmo nos tempos ditos modernos, pois nada acaba no último dia de dezembro, a não ser uma marcação no calendário criado pelo homem, quando, na verdade, o importante é utilizarmos esta data para celebramos alguma decisão que possa provocar alguma mudança. O Novo Ano que começou serve para nos lembrar destes ciclos e que tudo continuará exatamente igual se não tomarmos algumas atitudes de mudanças.
Serve para uma reflexão sobre todos os nossos erros, acertos e, principalmente, para nossos projetos de mudanças para melhor. O ano, na verdade, não tem começo nem fim e tudo é exatamente como os antigos celtas acreditavam ser. Festejamos, comemoramos, mas não podemos esquecer que se não fizermos algo de real este ano, o próximo ano será igual, ao sabor dos ventos bons e dos ventos ruins.
11 de janeiro de 2014
Célio Pezza é escritor e autor de diversos livros, entre eles: As Sete Portas, Ariane, A Palavra Perdida e o seu mais recente A Nova Terra - Recomeço.
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