"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

terça-feira, 26 de novembro de 2013

"NUCLEAR E HISTÓRICO"

Acordo preliminar entre Irã e potências ocidentais é avanço inegável; resta saber se as partes estarão dispostas a torná-lo definitivo
 

Irã, Estados Unidos, Rússia, China, Reino Unido, França e Alemanha alcançaram um feito histórico neste final de semana. Em Genebra, anunciaram um acordo preliminar sobre o programa nuclear persa, no intuito de distanciar Teerã da produção de armas atômicas.
 
Trata-se do primeiro pacto entre americanos e iranianos desde a Revolução Islâmica de 1979. É, além disso, um passo significativo para pôr fim a uma tensão atômica que persiste há mais de dez anos.
 
Pelos termos do acordo, válido pelos próximos seis meses, Teerã submeterá suas instalações nucleares a inspeções mais rigorosas, suspenderá a construção de centrífugas, diminuirá o grau de pureza de enriquecimento do urânio a 5% --percentual adequado apenas à produção de energia-- e extinguirá seu estoque de material acima desse limite.
 
Em compensação, serão suspensas algumas das sanções econômicas que, por exemplo, incidem sobre a indústria automobilística, limitam a venda de produtos petroquímicos e restringem transações de metais preciosos. O Irã receberá, além disso, cerca de US$ 8 bilhões em pagamentos congelados em bancos no exterior.
 
Será um alívio, ainda que modesto, para uma economia esmagada pelas sanções. Dono de uma das maiores reservas mundiais de petróleo e gás natural --setor que representa 60% das receitas do governo--, o Irã registrou queda de 60% nas vendas desses produtos nos últimos dois anos.
 
Somadas à depreciação do petróleo no mercado internacional, as restrições derrubaram o PIB (contração de 2% em 2012 e estimada em 1,5% neste ano) e fizeram a inflação anual passar de 40%.
 
Entende-se por que o Irã mostra-se aberto ao caminho diplomático. Menos mal para a população que o presidente Hasan Rowhani, eleito em junho, seja moderado o suficiente para perceber a gravidade da situação. Setores ultraconservadores ainda resistem ao acordo.
 
Não só no Irã. Também nos EUA o presidente Barack Obama, apesar de seu sucesso diplomático, tem de lidar com a oposição de parte da opinião pública.
 
Obama precisará, de resto, administrar a vigorosa reação de Israel, tradicional aliado na região. Para o premiê Binyamin Netanyahu, o acordo é um "erro histórico".
 
Exagero, embora convenha, sobretudo a Israel, manter a cautela. Aspectos militares do programa nuclear iraniano permanecem desconhecidos. Autoridades internacionais ainda buscam esclarecer, por exemplo, se houve testes desse tipo na base de Parchin, à qual não têm acesso desde 2005.
 
Nada indica, além disso, que a elite local esteja disposta a se privar, de forma definitiva, do poderio bélico e da capacidade de dissuasão oferecidos por uma bomba nuclear --ou pelo simples fato de ela poder ser fabricada.
 
O Irã e as potências ocidentais terão seis meses para dirimir essas dúvidas e atestar seu compromisso com os termos do acordo --que, se espera, possa se tornar definitivo.

26 de novembro de 2013
Editorial da Folha

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