"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

terça-feira, 26 de novembro de 2013

A ENTREVISTA DE REINALDO AZEVEDO À EDIÇÃO AMERICANA DA "FORBES"

 

Caros,
concedi uma entrevista a Anderson Antunes, repórter da edição americana da “Forbes”. Ele está produzindo um artigo sobre blogs brasileiros. Na versão eletrônica da revista, está boa parte da conversa que tivemos. Segue uma imagem da página com a introdução da entrevista.
Volto depois.
 
Forbes - entrevista
Leiam lá e comentem. Seguem, em inglês e em português, a segunda pergunta e a segunda resposta.
 
Forbes – Do you think Veja, based on its coverage — which is considerably more anti-government than pro-government — is under such fire because it actually does a better job in opposing the government than the current opposition?
 
Reinaldo Azevedo - I cannot speak on behalf of Veja. I will speak as a reader of the magazine. Veja was an ardent advocate of the measures adopted by the government of former President Luiz Inacio Lula da Silva in the economic area, especially in the first two or three years of his government, when the credibility deficit of the Workers Party was still great. Antonio Palocci, a former finance minister, threw in the trash the party program and adopted the fundamentals that the left wing of the Workers Party called neoliberal. That was great! It was just common sense, but in the framework of a free market. If Veja was against the government, the magazine would have criticized the measures, regardless of their content. That didn’t happen. Veja is not against the government, it is only against corruption, which I think is positive. Veja is not against the government, but against the machinery of the state, which is also good. Veja is not against the government, but instead it is against the assault of some principles of a free society.
Yes, the fact that we have a weak opposition to the current government creates the false impression that the press, while doing its job of reporting the news, ends up becoming the only relevant source of criticism in the country. In the United States is different. Since the New Deal, I believe, there is not a single force of such hegemonic power able to impose its worldview unchallenged. That’s good! In Brazil and abroad, Republicans, for instance, were demonized because they took to the limit their fight with President Barack Obama’s debt-ceiling. I would have stopped before them for strategic reasons.
Where many saw a problem, however, I saw a solution. What do I mean by that? If American laws give the Congress the prerogative, then just exercise it is part of the democratic game. Since in the U.S. there are no parties on rent for co-optation on the basis of vicious exchanges, there can be a halt. But it is an impasse that prevents the formation of a harmful hegemony for democracy. Thus, the left in the U.S. — the country is lucky that it is not a Marxist left — and the fanatics of the Democratic Party barely know that the Republicans they both demonize so much, especially the Tea Party, are actually the ultimate evidence that they live in a free society. More than that, to some extent, this more radical wing is a kind of guarantor of the system. While there, the contradiction is assured, which is part of the game. Moreover, no one there acted outside the law. Democracy must accept all opinions and must be tolerant — less with those who do not accept the very values of democracy. Or rather: to tolerate practices that undermine democracy is not a democratic behavior, it’s just a behavior of fools that resembles the Weimar Republic.
 
Forbes – Você acha que a VEJA, por conta de sua cobertura mais contra o governo do que a favor, é criticada porque, de fato, faz um trabalho oposicionista melhor do que a oposição que aí está?

Reinaldo Azevedo - Não posso falar em nome da VEJA. Falarei como leitor. A revista foi, por exemplo, uma ardorosa defensora das medidas adotadas pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na área econômica, em especial nos dois ou três anos iniciais do governo, quando o déficit de credibilidade do Partido dos Trabalhadores ainda era grande.
Antonio Palocci, ex-ministro da Fazenda, jogou no lixo o programa do partido e adotou os fundamentos que a ala esquerda do PT chamava de neoliberais.
 
Ainda bem! Era o bom senso nos marcos de uma economia de mercado. Se VEJA fosse contra o governo, a revista teria criticado as medidas, independentemente de seu conteúdo. E isso não aconteceu. VEJA não é contra o governo; é contra a corrupção, o que me parece muito positivo. VEJA não é contra o governo, mas contra o aparelhamento do Estado, o que também é bom. VEJA não é contra o governo, mas contra o assalto a alguns princípios de uma sociedade livre.
 
Sim, o fato de a gente ter uma oposição fraca cria a falsa impressão de que a imprensa, ao noticiar o que apura, é a única fonte relevante de crítica no país. Nos EUA, é diferente. Desde o “New Deal”, creio, não existe uma força de tal sorte hegemônica que consiga impor a sua visão de mundo sem contestação. E isso é bom! No Brasil e mundo afora, os republicanos, por exemplo, foram demonizados porque levaram ao limite o seu braço-de-ferro com Obama no caso do limite do endividamento. Eu teria parado antes deles por razões estratégicas.
 
Onde muitos viram um problema, no entanto, eu vi uma solução. O que quero dizer com isso? Se as leis americanas dão ao Congresso uma prerrogativa, exercê-la é parte do jogo democrático. Como, nos EUA, não existem partidos de aluguel para a cooptação na base de trocas viciosas, pode-se chegar a um impasse. Mas é um impasse que impede a formação de uma hegemonia danosa para a democracia.
Assim, a esquerda dos EUA — o país tem a sorte de ela não ser marxista — e os fanáticos do Partido Democrata mal sabem que os republicanos que eles tanto demonizam, em especial o Tea Party, são, na verdade, a evidência definitiva de que eles vivem numa sociedade livre.
Mais do que isso: em certa medida, essa ala mais radical é uma espécie de garantidora do sistema. Enquanto existirem, estará assegurada a contradição, que é parte do jogo.
De resto, ninguém ali atuou à margem da lei. A democracia tem de aceitar todas as opiniões e tem de ser tolerante — menos com aqueles que não aceitam os próprios valores da democracia.
Ou por outra: tolerar práticas que sabotam a democracia não é um comportamento democrático; é só um comportamento de tolos, como sabe a República de Weimar.
 
*
Para ler a íntegra (em inglês), clique aqui. A Forbes, daqui a pouco, começa a ser invadida pelos petralhas…
 
26 de novembro de 2013
Reinaldo Azevedo

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