"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

A ASSOMBRAÇÃO ALGEMADA

Na visita à Pasárgada dos vampiros de verbas federais, Dilma garante ter algemado a assombração que fingia não enxergar


Nos últimos dez meses, enquanto recitava que a inflação estava sob controle, Dilma Rousseff rebaixou a “pessimistas de plantão” ou “pessoas que torcem para que o Brasil dê errado” todos os que enxergaram o perigo escancarado pela altitude dos índices. Nesta segunda-feira, durante a discurseira na cerimônia festiva promovida por uma revista estatizada, a presidente enfim admitiu ter visto o que até agora jurava não enxergar. Mas a assombração apareceu-lhe uma vez só e já foi algemada, mentiu a supergerente de araque.

“A inflação que no início do ano se mostrava alta e incomodava a todos foi enfrentada sem tréguas”, decolou a oradora. Outra salva de palmas reiterou que Dilma estava em casa. Se houvesse no local da celebração um único e escasso jornalista de verdade, a presidente não se atreveria a usar verbos no passado ─ “mostrava”, “incomodava” ─ para tratar de um problema presente que tende a agravar-se no futuro imediato. Muito menos teria confinado “no início do ano” a sequência de porcentagens preocupantes que ainda não foi interrompida.

Em junho, a inflação anual (medida por organismos governamentais) alcançou 6,7% ─ bem acima da meta de 4,5%. Como sempre, a presidente e seu ministro da Fazenda recorreram à taxa de tolerância de dois pontos percentuais, para cima ou para baixo, para fixar em 6,5% a fronteira do perigo. Guido Mantega apressou-se a ensinar que 0,2% além do limite era igual a nada. Dilma repetiu que o velho fantasma continuava sob controle. Em setembro, o índice foi de 5,86. De novo acima da meta. Mas abaixo dos 6,5%, festejou o neurônio solitário, dando por  resolvido o problema que “incomodava a todos”.

O surto triunfalista não parou por aí. “Nunca é demais lembrar que temos apresentado sistematicamente um dos melhores desempenhos fiscais no mundo já ao longo de alguns anos”, foi em frente a gestora incomparável. Mais aplausos referendaram a réplica fraudulenta às críticas feitas pelo FMI aos truques tributários e maquiagens malandras a que têm recorrido os alquimistas federais para fechar contas que não fecham e esconder buracos no superavit fiscal. Como a companheira Cristina Kirchner, Dilma e Mantega acham que o resto do mundo não sabe o que fizeram no mês passado e farão no próximo.

“Nós vencemos a inflação, estabilizamos as contas públicas, pagamos a dívida externa, saímos da supervisão do FMI e emergimos neste século como uma das maiores economias do planeta”, flutuou na estratosfera a presidente que festeja até leilão de um lance só. Se melhorar, estraga, concordou a ovação dos áulicos. Eufórica com a visita a uma Pasárgada forjada por vampiros de verbas federais, Dilma nem precisou do Aerolula para voltar a Brasília. Mandou chamar o trem-bala.

30 de outubro de 2013
Augusto Nunes, Veja

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