"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 15 de setembro de 2013

"EXERCÍCIO DE INTOLERÂNCIA E AUTORITARISMO"

‘Anarcofascistas’ esvaziaram as manifestações melhor que qualquer tropa do Choque. São inimigos da democracia travestidos de progressistas


Desde meados de junho, quando se ergueu a onda de manifestações de rua, este ciclo de protestos cumpriu uma trajetória específica e com diferentes fases. Recorde-se que a centelha partiu de um grupo ligado a frações de esquerda radical, sob o abrigo da bandeira pelo passe livre no transporte público, o MPL. Uma ação de violência despropositada da PM de São Paulo, contra um grupo de jovens do movimento, funcionou como segunda e mais poderosa centelha, para atrair a simpatia e a participação de uma nova, e maior, leva de manifestantes, com a visível participação de extratos das classes médias, a “nova” e a “velha”.
 
Ganhou força a defesa do apartidarismo nos protestos, e a pauta levada às ruas, antes centrada nos transportes públicos, terminou ampliada e, por isso, ganhou importância política. Deficiências generalizadas na infraestrutura, a má prestação de serviços na Educação e Saúde, a corrupção, muitas dessas denúncias resumidas na reivindicação de uma ação do Estado no “padrão Fifa”, frequentaram manifestações então já estendidas às capitais e cidades importantes do interior. Coerentes com este clima, cresceram protestos contra os gastos no projeto da Copa do Mundo.
 
No auge do apartidarismo do movimento, forças políticas com tradição de rua — sindicatos, PT, UNE e outras organizações — chegaram a ser impedidas de entrar em passeatas.
 
Toda essa histórica demonstração de vitalidade da sociedade brasileira, a ponto de surpreender correntes político-partidárias ligadas a mobilizações ditas de massa, tomou outro rumo, e se enfraqueceu, com a crescente atuação de vândalos, biombo para saqueadores do comércio.
 
Eles foram decisivos para esvaziar as ruas dos manifestantes da fase de crescimento dos protestos, quando a agenda de reivindicações cresceu. No Rio, os ataques à prefeitura, à Assembleia Legislativa (Alerj) e a depredação do Leblon se constituíram no marco desta última fase de recuo dos protestos.
 
Críticas a políticas públicas foram substituídas pela violência em estado bruto — a violência pela violência. Alguns segmentos da chamada esquerda chegaram a simpatizar com os black blocs da vida, inicialmente autointitulados “seguranças” das manifestações. Até “famosos” trocaram acenos com a turba de preto.
 
Na verdade, o fenômeno nada mais é do que mais uma ameaça à democracia e às liberdades civis vindas de forças progressistas apenas na aparência. Às vezes, nem isso.
 
O nacional-socialismo também oferecia o paraíso na terra, e o desfecho é bem conhecido. Uma espécie de “anarcofascismo” — autoritário na essência, como teria de ser — sufocou as manifestações com mais eficiência que qualquer tropa de choque.
 
Serve de demonstração em tempo real da existência de inimigos da democracia e da tolerância disfarçados de forças renovadoras.

15 de setembro de 2013
Editorial d'O Globo

Nenhum comentário:

Postar um comentário