Por mais que Bashar Al Assad, o presidente do país, seja um ditador, um tirano, custa crer que seja estúpido a ponto de autorizar um ataque dessa natureza quando está na ofensiva, recuperando terreno. O presidente dos EUA, Barack Obama, já deixou claro que não haverá intervenção no país sem um amplo apoio internacional. Isso significaria, hoje, quando menos, a neutralidade da Rússia, que, por enquanto, se opõe à ação e sustenta a posição de Assad.
O governo sírio finalmente aceitou a inspeção. A caminho do local do suposto ataque, carros em que seguiam os agentes da ONU foram alvos de franco-atiradores. Se um ataque com armas químicas determinado pelo governo — quando representantes das Nações Unidas estavam no país — seria evidência de uma estupidez sem- par, alvejar os inspetores parece ainda mais cretino. Pode-se acusar Assad de tudo, menos de não ser esperto — brutal, mas esperto.
Caberia ainda indagar a efetividade daquele ataque químico, asqueroso em si, mas militarmente irrelevante. Além de matar eventualmente algumas centenas de pessoas, todas civis, serve a que propósito.
Terroristas, especialmente as facções jihadistas ou delas próximas, usam civis, em particular mulheres e crianças, como escudo onde quer que atuem. Isso dá conta da importância que dispensam a essas vidas. A lógica — que pode não funcionar no inferno, sei disso — aponta muito mais para a responsabilidade de que extremistas que compõem a oposição armada. Pesquisem o noticiário: não seria a primeira vez.
Uma intervenção em larga escala na Síria é o barril de pólvora de que precisam os extremistas no Oriente Médio. Liquidado o governo Assad, os grupos que seguirão armados (e a gente sabe que as armas, nesses casos, não são entregues; vejam o caso da Líbia) darão início imediatamente à campanha para que as forças estrangeiras deixem o país. A oposição desarmada, por óbvio, não terá como sustentar um governo.
O Exército regular, comandado pelos alauítas (a minoria a que pertence Assad) vai se desintegrar. A Síria tenderia a se transformar num campo de guerra de facções terroristas, ali mesmo, na fronteira com Israel.
Se a situação hoje é caótica, aí, parece, seria o caos propriamente dito. Pensem na situação anterior ao ataque: dada a guerra civil, quem estava em posição mais confortável e recuperando terreno? A intervenção já havia saído do radar de possibilidades dos países ocidentais; depois dele, voltou a ser debatida.
Nem sempre quem lucra com um determinado evento responde por ele. Nesse caso, é prudente, sim, perguntar a quem interessava o morticínio. Até porque, por óbvio, Assad não teria futuro no caso de uma intervenção. Ele sabe disso. E os que se opõem a ele também.
Não! Não estou afirmando que foi um grupo de oposição. Se os EUA não sabem, não serei eu a saber.
O que afirmo, sim, e que é difícil saber quem é mais asqueroso por ali: Assad ou quem tenta derrubá-lo. E uma coisa dá para saber, aí sem dúvida nenhuma: para o Oriente Médio, os que lutam contra o ditador são muito mais perigosos.
26 de agosto de 2013
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