"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

CHESF NÃO CONCLUI SISTEMA DE TRANSMISSÃO, MAS EMPLACA 25 NOVOS PROJETOS DE EÓLICAS

Chesf leva eólicas sem entregar linhas.  Empresa não concluiu sistema de transmissão de dezenas de parques, mas emplacou 25 novos projetos de usinas movidas a vento
 
 
O leilão de energia eólica realizado na sexta-feira chamou a atenção por três motivos. Primeiro, pela agilidade no bater do martelo. Durou 40 minutos, quando normalmente as disputas duram por horas. Segundo, pela parca presença dos investidores privados. A terceira surpresa foi a agressividade da Chesf. Em parceria com outras empresas e fundos de investimento, emplacou 25 dos 66 projetos vencedores - 38% do total.
 
Não haveria estranhamento não fosse a mesma Chesf uma referência negativa na energia movida a vento. A empresa venceu muitos leilões de linhas de transmissão para parque eólicos no Nordeste, mas até hoje não concluiu os projetos.
 
As empresas do sistema Eletrobrás, Furnas e Chesf, habilitaram 38 dos 66 projetos - 58% do total. Pelos cálculos da Thymos, consultoria do setor de energia, a presença das estatais superou a média. Nos dois últimos leilões de parque eólicos, realizados em 2011, elas detinham 25% e 50% dos projetos vencedores. A líder disparada era a Eletrosul e a Chesf, apenas a lanterninha. No leilão de sexta-feira, a Eletrosul nem sequer participou.
 
Thaís Prandini, diretora executiva da Thymos, tem duas leituras para a supremacia das estatais no leilão de eólicas. "De um lado há o aspecto positivo: apesar de a Eletrobrás estar num processo de reestruturação, mostra que ainda pode investir e buscar alternativas para melhorar as receitas", diz Thaís. "Por outro lado, dá um pouco de medo ver a Chesf, que tem um histórico ruim no setor de eólicas, com tantos projetos: a empresa se enroscou na construção de linhas de transmissão e não há garantias de que não fará o mesmo na geração."
 
A Chesf entrou com força nos recentes leilões de transmissão e arrematou a maioria das linhas no Nordeste, a sua área de atuação. Levou, mas tem dificuldade para entregar. Os projetos estão atrasados, o que criou um efeito dominó de prejuízos e distorções no mercado de eólicas.
 
Efeito dominó. Por causa da Chesf, o governo reviu as regras e prazos para a expansão dos parques eólicos. Como o investidor tem direito de receber o pagamento quando conclui o parque - haja ou não conexão à rede -, o atraso faz com que os consumidores paguem por uma energia que não recebem. Estima-se que a conta chegue a R$ 800 milhões neste ano.
 
Para evitar o aumento desse gasto e o transtorno para a imagem do governo, foi oferecido aos investidores a possibilidade "concatenar" os projetos: atrasar o parque para que seja inaugurado com a linha.
 
Mudou-se também a regra para a expansão das linhas de transmissão. Inicialmente, ficou definido que os parques não arcariam com a conexão com a rede. Grupos de parques seriam ligados a estações coletoras, chamadas ICGs, que, por sua vez, seriam ligadas à rede.
 
Para definir o número e a localização das ICGs, o governo primeiro fazia os leilões de geração e, depois, os de transmissão. Como a Chesf não conseguiu cumprir o cronograma, a ICG foi estigmatizada e abandonada. A partir do leilão de sexta-feira, quem vence precisa arcar com o custo da conexão a uma rede já existente. Não serão feitos leilões para a construção de novas linhas por enquanto.
 
Especialistas avaliam que o governo adotou "gambiarras" para contornar os contratempos criados pela estatal. "O problema foi a Chesf entrar em todos os leilões porque queria o domínio do Nordeste", diz Adão Linhares Muniz, presidente Câmara Setorial de Energia Eólica do Ceará. "Mas em vez de punir a empresa, o governo fez como o marido da piada: ao descobrir que estava sendo traído, tirou o sofá da sala."
 
Romeu Rufino, diretor da Agência Nacional de Energia Elétrica discorda. "A Chesf causou um enorme transtorno e foi punida: recebeu multa e teve a participação nos leilões limitada", diz Rufino. A Aneel agora estuda com a Advocacia-Geral da União entrar com uma ação de reparação de danos.
 
Enquanto isso, porém, o investidor se mostra mais arredio. O baixo quórum das empresas privadas no leilão, em parte, é atribuído às mudanças das regras. Além de estudar a posição dos cataventos, o investidor agora precisa fazer um projeto de conexão à rede mais próxima, o que demanda tempo para avaliar riscos e retornos. Poucas privadas arriscaram voos solos, como Enerfin, Wobben e Renova, que juntas tiveram 13 projetos vencedores. Grandes empresas, como a CPFL, não participaram.

26 de agosto de 2013
Alexa Salomão - O Estado de S.Paulo

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