A juíza uruguaia da Vara do Crime Organizado, Beatriz Larrieu, interrogou neste sábado os brasileiros Vinícius Claret – também conhecido como Juca Bala – e seu sócio, Cláudio Fernando Barbosa, ambos envolvidos em operações de lavagem de dinheiro do esquema do ex-governador do Rio Sergio Cabral e detidos ontem no Uruguai. Segundo confirmou ao Globo a juíza, a partir de hoje começam a contar os 40 dias que a Justiça brasileira tem para solicitar ao Uruguai a extradição dos dois detidos. Durante todo o processo, eles ficarão presos em Montevidéu.
— Eu determinei a prisão preventiva de ambos. Durante a audiência expliquei a eles o procedimento e as causas da investigação — disse a juíza Larrieu, afirmndo que Claret e Barbosa “negaram qualquer vínculo (com as operações de lavagem de dinheiro) e todas as acusações”.
PRISÃO PREVENTIVA – “Nada disso vem ao caso neste momento, o objetivo desta audiência era notificá-los das denúncias e explicar o que vai acontecer com eles a partir de agora. Mas eles negaram tudo. O que nós fizemos foi ordenar a prisão preventiva e iniciar o processo que levará à extradição — confirmou Larrieu, encarregada dos principais casos de crime organizado no Uruguai.
Ela explicou que, de acordo com os protocolos do Mercosul, o Brasil tem 40 dias para solicitar formalmente a extradição. “Quando pode demorar a extradição não sei, é muito difícil poder saber isso neste momento” — assinalou a juíza.
Claret foi preso em Maldonado, cidade próxima ao balneário de Punta del Este. Já Barbosa foi detido no aeroporto internacional do Montevidéu quando voltava de viagem ao Chile. Ele tinha deixado o Uruguai na sexta-feira antes do carnaval.
CODINOMES – Segundo a investigação, Barbosa atendia pelos codinomes Tony ou Peter. Ele foi citado por dois delatores da Operação Calicute, os irmãos Renato e Marcelo Chebar. Doleiros, eles revelaram que, quando o esquema de propina de Cabral ficou grande demais, em 2007, tiveram de chamar Juca Bala para assumir as operações de lavagem. Até então, Renato e Marcelo usavam operações dólar-cabo (entrega de valores em reais no Brasil para que fossem creditados recursos em dólar no exterior) usando a própria clientela.
Os irmãos Chebar revelaram a existência de um total de US$ 100 milhões escondidos por Sérgio Cabral no exterior. Obrigados, pelo gigantismo do esquema, a procurar outro doleiro que tivesse maior capacidade operacional para a lavagem, eles transferiram as operações para Juca Bala.
POR MENSAGENS – Os delatores garantiram que não tinham nem sequer o telefone de Juca, pois falavam com ele através do programa de mensagens Messenger, usando um sistema de criptografia. Renato disse que se encontrou com Juca em pelo menos três ocasiões, mas sempre no hotel onde se hospedava em Montevidéu.
Juca, segundo ele, tinha uma estrutura no Rio para o recebimento em espécie dos valores da propina de Cabral. O esquema de lavagem, segundo os delatores, ocorrida da seguinte forma: de posse dos reais enviados por Cabral através de Carlos Miranda, Renato e Marcelo entravam em contato com Juca pelo Messenger, usando o programa Pidgin, para fechar a taxa de câmbio. O megadoleiro, segundo eles, também usava os codinomes Ana Holtz e Peter.
05 de março de 2017
Janaína Figueiredo
O Globo
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