— Seria melhor para todos que as delações fossem logo divulgadas, e de uma vez — disse Temer em uma conversa informal de mais de uma hora no fim de semana.
Em dezembro passado, durante um encontro no Palácio do Planalto com Rodrigo Janot, procurador-geral da República, Temer adiantou para ele a mesma opinião. Não houve discordância. Foi a pedido de Janot que a ministra Cármen Lúcia, presidente do STF, apressou-se a homologar as delações na semana seguinte à morte de Zavascki.
— Imagine o que poderia acontecer se as delações demorassem a ser divulgadas. Ou se fossem divulgadas aos poucos, uma por semana, digamos. Seria muito ruim para o país e, é claro, para o governo — calcula o presidente.
E OS OUTROS? – E se o conteúdo das delações produzirem estragos na imagem do governo? Afinal, alguns dos atuais ministros e o próprio Temer são citados em mais de uma delas. Temer responde:
— Quem for atingido pelas delações que se explique e que se defenda. Depois avaliaremos o que fazer. Quanto a mim, minha preocupação com isso é igual a zero.
Temer foi citado 43 vezes no documento do acordo de delação premiada de Cláudio Melo Filho, ex-vice-presidente de Relações Institucionais da Odebrecht. Em 2014, Temer pediu R$ 10 milhões a Marcelo Odebrecht, então presidente da empresa, para a campanha eleitoral do PMDB naquele ano.
— Não foram R$ 10 milhões. Marcelo doou pouco mais de R$ 11 milhões. O dinheiro foi depositado na conta do PMDB e pagou despesas de vários candidatos pelo país. Há comprovantes de tudo — garante Temer.
43 CITAÇÕES – Ele conta que teve a curiosidade de ler com atenção a íntegra da delação de Melo Filho vazada para a imprensa.
— Quem se limita a ler apenas os títulos das matérias publicadas a respeito pode ficar com a impressão de que fui citado por envolvimento em 43 negócios. Mas não. Fui citado 43 vezes porque está escrito ali: Aí Temer me convidou para conversar. Aí Temer me recebeu na sala. Aí Temer perguntou se eu aceitaria um café… Para contar uma única história, meu nome foi mencionado 43 vezes — explica Temer, e até acha graça nisso.
Como presidente do PMDB, uma de suas tarefas era arranjar dinheiro para financiar campanhas. E ele não nega que o tenha feito.
— Isso nada tem a ver com caixa dois ou com a troca do dinheiro por favores do governo — registra. Quanto ao julgamento pela Justiça Eleitoral das contas de campanha da chapa Dilma-Temer na eleição de 2014…
INFRAÇÃO PENAL – A propósito, Temer revela que ganha corpo entre juristas que acompanham as investigações das contas a tese de que pode ter havido ali alguma infração penal, mas eleitoral, não. Se penal, o caso seria arquivado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e dele se ocuparia a Justiça comum.
— Estou muito tranquilo, pelo que ouço dos meus advogados — afirma o presidente.
O fato é que 2016 terminou – se é que terminou – deixando a impressão em muita gente que Temer não concluiria o resto de mandato herdado da ex-presidente Dilma Rousseff.
SEM SURPRESA – Em conversas com políticos em Brasília, mesmo entre aqueles que apoiam o governo, diversas previsões foram feitas a respeito de seu futuro: Temer poderá ser vítima da lentidão do processo de recuperação da economia… A Justiça Eleitoral não tem como separar as contas de Dilma e de Temer, e ele poderá ter que sair… Tem emenda à Constituição no Congresso que, se aprovada, resultará em eleições diretas para presidente ainda em 2017…
Salvo um fato surpreendente, em um país acostumado a conviver com surpresas, Temer completará o mandato de Dilma. Ele não enxerga nenhuma surpresa capaz de desestabilizar seu governo – mas se enxergasse não seria surpresa. E concorda que o pior para ele já passou. Passou o discurso do golpe. Passaram as manifestações de ruas. A economia começou a reagir, embora menos do que ele gostaria. É vida que segue.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – A entrevista a Ricardo Noblat mostra claramente que Temer sabe que não será atingido pela delação do Odebrecht, porque pediu e recebeu doação oficial. E agora ele defende a quebra do sigilo para se livrar de quem esteja realmente envolvido. Essa posição ficou clara e confirma o que temos publicado sobre a disputa de poder que está ocorrendo dentro do Planalto, em meio ao cinismo e à hipocrisia que caraterizam a prática política. Quanto ao fim do sigilo, a bola está com o novo relator Edson Fachin. Só depende dele. (C.N.)
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – A entrevista a Ricardo Noblat mostra claramente que Temer sabe que não será atingido pela delação do Odebrecht, porque pediu e recebeu doação oficial. E agora ele defende a quebra do sigilo para se livrar de quem esteja realmente envolvido. Essa posição ficou clara e confirma o que temos publicado sobre a disputa de poder que está ocorrendo dentro do Planalto, em meio ao cinismo e à hipocrisia que caraterizam a prática política. Quanto ao fim do sigilo, a bola está com o novo relator Edson Fachin. Só depende dele. (C.N.)
07 de fevereiro de 2017
Ricardo Noblat
O Globo
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