Michel Temer jamais foi tipo galã de cinema. Pelo contrário, melhorou muito depois da plástica no nariz, implante de cabelos e lentes de contato. Hoje é até um senhor de boa aparência, mas na verdade se transformou num personagem arrogante, esnobe e presunçoso. É fechado, de pouca conversa, um orador enfadonho e sem carisma, parece um milagre que tenha se tornado político e chegado à Presidência. No entanto, Temer se acha o máximo e adora exercitar a vaidade.
No final de semana, abriu um espaço na agenda para dar entrevista a Ricardo Noblat, de O Globo, e fez revelações interessantes e ardilosas. Ao dizer que tinha 27 nomes de candidatos à vaga no Supremo, por exemplo, induziu a erro o jornalista, com quem mantém relações pessoais há décadas. Na entrevista, Temer indicou que, entre os 27 aspirantes, um deles poderia ser afastado – justamente Alexandre de Moraes, atual ministro da Justiça, sob a falsa alegação de que dele não poderia prescindir no governo.
NOBLAT ACREDITOU – É claro que Ricardo Noblat confiou no velho amigo e acabou pagando um grande mico, ao postar a entrevista exclusiva no site de O Globo, na qual anunciava que Alexandre de Moraes estaria descartado.
O pior é que o experiente jornalista continuou acreditando no que lhe dissera Temer e nem ligou para a notícia de que o ministro da Justiça tinha sido indicado, um belo furo da colunista Vera Magalhães, do Estadão. Por insistir em confiar na palavra de Temer, Noblat demorou muito até corrigir a informação totalmente equivocada, que ficou exposta por horas no site de O Globo. Agora, Noblat sabe que o presidente só tem um amigo, que se chama Michel Miguel Elias Temer Lulia, conforme já ficara no episódio em que o chefe do governo usou a amizade com Jorge Bastos Moreno e também o colocou numa fria, em setembro do ano passado.
De toda forma, esta foi uma segunda-feira de muitas notícias, com a política em ebulição, e a informação errada que Temer forneceu a Noblat foi apenas um detalhe, como diria a ex-ministra collorida Zelia Cardoso de Mello.
“ILIBADA REPUTAÇÃO” – Na realidade, o fato mais importante da indicação de Moraes foi a inexistência de um dos requisitos constitucionais – “ilibada reputação”. Conforme o jurista Jorge Béja destacou aqui na Tribuna da Internet, com absoluta exclusividade, Moraes não poderá aceitar a indicação de Temer, caso contrário será desmoralizado pela oposição na sabatina do Senado.
É interessante notar que O Globo publicou, mas o Jornal Nacional omitiu a existência da tese de doutorado de Moraes, na Universidade de São Paulo, na qual defendeu a brilhante e inquestionável tese de que assessores do presidente da República não podem aceitar nomeação para o Supremo, porque isso significa “uma dívida de gratidão política” a ser paga em julgamentos futuros.
Como explicou Jorge Béja na TI, a importante tese defendida na USP significa que, se aceitar a nomeação, Moraes estará demonstrando não ter ilibada reputação, e essa realidade pode fazer com que sua indicação seja recusada pelos senadores, conforme determina a Constituição.
POLÍTICO NÃO TEM AMIGO – O episódio envolvendo Temer e Noblat demonstra ser ingenuidade pensar que políticos possam ter amigos. Como diria o jornalista e filósofo espanhol Ortega Y Gasset, as amizades dos políticos dependem das circunstâncias.
Justamente por isso, quando comentaristas alegam que o presidente Michel Temer e o ministro Eliseu Padilha continuam amigos, com essa suposta circunstância eliminando a veracidade das informações divulgadas aqui na Tribuna da Internet sobre a disputa de poder que ocorre nos corredores do Planalto, essa justificativa é motivo de boas risadas, e pode até disputar o troféu Piada do Ano.
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PS – Esse imbroglio faz lembrar um conselho que recebi do grande jornalista Antonio Vianna de Lima, lendário editor de Política de O Globo, que enfrentou Roberto Marinho em plena redação, no dia 12 de dezembro de 1968, véspera do Ato Institucional nº 5, e Marinho botou o galho dentro. Eu estava lá e assisti à impressionante cena. Aprendi com Vianna que jornalista não deve ser amigo de político, porque fica refém e não pode falar mal dele. (C.N.)
PS – Esse imbroglio faz lembrar um conselho que recebi do grande jornalista Antonio Vianna de Lima, lendário editor de Política de O Globo, que enfrentou Roberto Marinho em plena redação, no dia 12 de dezembro de 1968, véspera do Ato Institucional nº 5, e Marinho botou o galho dentro. Eu estava lá e assisti à impressionante cena. Aprendi com Vianna que jornalista não deve ser amigo de político, porque fica refém e não pode falar mal dele. (C.N.)
07 de janeiro de 2017
Carlos Newton
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