PLANALTO ARMA CAMPANHA PARA LIMPAR A IMAGEM DE PADILHA, MAS É MISSÃO IMPOSSÍVEL
Citado na Lava Jato como responsável pela operação e pelo recebimento do Caixa 2 do PMDB em dinheiro vivo ofertado pela Odebrecht, o ministro Eliseu Padilha, da Casa Civil, está com bens bloqueados pela Justiça do Mato Grosso, como réu em processo por grilagem de terras públicas e devastação de 1,3 mil hectares de reserva ecológica estadual, além de manter trabalhadores em regime de semi-escravidão. Houve filmagens e tudo o mais, com apreensão de 18 armas de fogo.
SUMIU DO PLANALTO – No meio do tiroteio midiático, Padilha sumiu do Planalto e tirou uma estratégica licença de uma semana, para deixar a poeira baixar, como se dizia antigamente, e alegou problemas de hipertensão.
Apesar do escândalo, o presidente Michel Temer não pode demitir o ministro, por motivos óbvios. Dos cinco amigos que conduziam os destinos do PMDB desde quando Temer se tornou presidente do partido, o único que restou ao lado dele é Eliseu Padilha, porque Henrique Eduardo Alves teve de se demitir do Ministério, Eduardo Cunha foi cassado e preso, e Romero Jucá acabou se limitando à liderança do governo e à presidência do PMDB.
“REABILITAÇÃO” – Como não tem força para demitir Padilha, Temer deixou passar alguns dias e às vésperas do Natal ofereceu um café da manhã aos jornalistas, quando afirmou que não demitirá o chefe da Casa Civil e outros ministros por causa da Lava Jato. Na ocasião, nenhum repórter se lembrou de que na Justiça de Mato Grosso existe contra Padilha e seus sócios um processo muito mais degradante do que receber propinas eleitorais.
Iniciada pelo próprio Temer, essa campanha para “reabilitação” de Padilha prosseguiu com uma “entrevista exclusiva” do ministro a O Globo, intermediada pelo secretário de Comunicação do Planalto, Márcio de Freitas Gomes. Foi concedida à distância. A repórter enviou as perguntas, e Padilha (leia-se: a assessoria de Imprensa) respondeu por e-mail. O jornal publicou com destaque no domingo, dia 25, dando chamada na primeira página. Foi um presentão de Natal, e o chefe da Casa Civil até pensou estar se recuperando.
A FRIA DO SORVETE – Aconteceu que Padilha não contava com o faro jornalístico do colunista Lauro Jardim, que dois dias depois publicou no site de O Globo uma explosiva notícia sobre compra de lanches a serem servidos ao presidente Temer e comitiva nas viagens do Aerolula, com superfaturamento no sorvete importado. Apanhado de surpresa, o presidente, que estava em Maceió, ficou furioso e mandou suspender a escandalosa e inoportuna licitação, que tinha sido organizada pela equipe de Padilha e por ele autorizada.
Mesmo assim, o chefe da Casa Civil não foi demitido, porque é “imexível”, como diria o ex-ministro Rogério Magri, que na era Collor fez sucesso dizendo que sua cadela podia andar de carro oficial, por se tratar de “um ser humano como outro qualquer”.
A campanha para melhorar a imagem de Padilha foi imediatamente retomada, com outra entrevista à distância, desta vez ao Broadcast Político do Estadão, a pretexto de confirmar o que todos já sabiam – o veto parcial ao projeto de renegociação da dívida dos Estados.
O esforço do Planalto nessa campanha pró-Padilha é comovente, mas inócuo. Na verdade, trata-se de missão impossível, porque o ministro é autocarburante e se consome sozinho.
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PS – O chefe da Casa Civil agora só dá entrevista assim, à distância, porque tem medo que perguntem sobre o desmoralizante processo em que é réu na Justiça do Mato Grosso, em que foram seqüestradas 2 mil cabeças de gado Nelore, sem falar no bloqueio de outros bens de Padilha, que já recorreu à segunda instância, mas foi derrotado. (C.N.)
30 de dezembro de 2016
Deu em O Tempo(Agência Estado)
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