A crise econômico-financeira de 2007/2008 estremeceu os fundamentos da economia capitalista e do neoliberalismo. A tese básica era dar primazia ao mercado, à livre iniciativa, à acumulação privada, à lógica da competição em detrimento da lógica da cooperação e a um Estado mínimo. Quem olha numa perspectiva minimamente ética já poderia saber que um sistema montado sobre um vício (a cobiça), e não sobre uma virtude (o bem comum), jamais poderia dar certo.
A implosão começou com a falência de um dos maiores bancos norte-americanos, o Lehman Brothers, levando todo o sistema bancário e financeiro a uma incomensurável crise. Em poucos dias, pulverizaram-se trilhões de dólares.
Curiosamente, os que desprezavam o Estado, reduzindo-o ao mínimo, tiveram que recorrer a ele, de joelhos e mãos juntas. Os bancos centrais dos Estados tiveram que despejar trilhões de dólares para salvar as instituições financeiras falidas. A máquina de fazer dinheiro rodava em máxima velocidade.
MUITAS FALÊNCIAS – Houve como consequência da crise, até hoje ainda não superada também entre nós, a quebra de milhares de empresas e até de países, como a Grécia, com altíssimo grau de desemprego. Destruíram-se fortunas, mas, mais que tudo, criou-se um mar de sofrimento humano.
Piamente se acredita ainda que esse sistema continua bom e válido, a despeito da devastação ecológica que produz, pondo em risco as bases que sustentam a vida. Ele é bom e válido para os especuladores que estão acumulando uma riqueza absurda.
A despeito de todas as reuniões para buscar alternativas, a política econômico-financeira continua a mesma: fazer mais do mesmo. Isso está desestruturando os países e poderá levar a uma revolta popular mundial, com consequências funestas.
INJEÇÃO DE RECURSOS – Duas estratégias foram usadas. A primeira foi a injeção de trilhões de dólares por parte dos Estados para impedir a falência total do sistema. Ocorre que esse dinheiro novo, em vez de ser investido na produção e na criação de empregos, foi jogado na corrente especulativa das finanças mundiais, na qual se ganha muito mais rapidamente do que num investimento produtivo. Dessa forma, os ganhos vão para os já bilionários, sem solucionar a crise, ao contrário, agravando-a.
O outro expediente foram as políticas de ajustes, vindas sob o nome de “austeridade”. Para garantir os ganhos dos capitais, organizou-se um ataque sistemático aos direitos sociais, aos serviços públicos de saúde e de educação, ao sistema de previdência e às aposentadorias. Isso se inaugurou primeiro na zona do euro e agora, na mesma lógica, no Brasil. Fragilizou-se a já frágil democracia, e a diminuição do gasto público está provocando recessão e desemprego.
UMA ALTERNATIVA – Se tivesse havido pensamento e um mínimo de senso humanitário, uma possível saída poderia ter sido aquilo que incansavelmente vem propondo há muitos anos o ex-senador Eduardo Suplicy: a renda mínima cidadã. Pelo fato de alguém ser humano, tem direito a uma renda cidadã que lhe garanta uma vida digna, embora frugal. Esse dinheiro circularia no consumo, nos benefícios públicos e superaria o grave padecimento humano pelo desemprego e pela fome.
Essa seria uma solução viável, mais ética e mais humana. Ela pode ser ainda realizada. Quem sabe, com o agravamento da crise mundial, não seremos obrigados a essa solução verdadeiramente salvadora.
07 de agosto de 2016
Leonardo Boff
O Tempo
A implosão começou com a falência de um dos maiores bancos norte-americanos, o Lehman Brothers, levando todo o sistema bancário e financeiro a uma incomensurável crise. Em poucos dias, pulverizaram-se trilhões de dólares.
Curiosamente, os que desprezavam o Estado, reduzindo-o ao mínimo, tiveram que recorrer a ele, de joelhos e mãos juntas. Os bancos centrais dos Estados tiveram que despejar trilhões de dólares para salvar as instituições financeiras falidas. A máquina de fazer dinheiro rodava em máxima velocidade.
MUITAS FALÊNCIAS – Houve como consequência da crise, até hoje ainda não superada também entre nós, a quebra de milhares de empresas e até de países, como a Grécia, com altíssimo grau de desemprego. Destruíram-se fortunas, mas, mais que tudo, criou-se um mar de sofrimento humano.
Piamente se acredita ainda que esse sistema continua bom e válido, a despeito da devastação ecológica que produz, pondo em risco as bases que sustentam a vida. Ele é bom e válido para os especuladores que estão acumulando uma riqueza absurda.
A despeito de todas as reuniões para buscar alternativas, a política econômico-financeira continua a mesma: fazer mais do mesmo. Isso está desestruturando os países e poderá levar a uma revolta popular mundial, com consequências funestas.
INJEÇÃO DE RECURSOS – Duas estratégias foram usadas. A primeira foi a injeção de trilhões de dólares por parte dos Estados para impedir a falência total do sistema. Ocorre que esse dinheiro novo, em vez de ser investido na produção e na criação de empregos, foi jogado na corrente especulativa das finanças mundiais, na qual se ganha muito mais rapidamente do que num investimento produtivo. Dessa forma, os ganhos vão para os já bilionários, sem solucionar a crise, ao contrário, agravando-a.
O outro expediente foram as políticas de ajustes, vindas sob o nome de “austeridade”. Para garantir os ganhos dos capitais, organizou-se um ataque sistemático aos direitos sociais, aos serviços públicos de saúde e de educação, ao sistema de previdência e às aposentadorias. Isso se inaugurou primeiro na zona do euro e agora, na mesma lógica, no Brasil. Fragilizou-se a já frágil democracia, e a diminuição do gasto público está provocando recessão e desemprego.
UMA ALTERNATIVA – Se tivesse havido pensamento e um mínimo de senso humanitário, uma possível saída poderia ter sido aquilo que incansavelmente vem propondo há muitos anos o ex-senador Eduardo Suplicy: a renda mínima cidadã. Pelo fato de alguém ser humano, tem direito a uma renda cidadã que lhe garanta uma vida digna, embora frugal. Esse dinheiro circularia no consumo, nos benefícios públicos e superaria o grave padecimento humano pelo desemprego e pela fome.
Essa seria uma solução viável, mais ética e mais humana. Ela pode ser ainda realizada. Quem sabe, com o agravamento da crise mundial, não seremos obrigados a essa solução verdadeiramente salvadora.
07 de agosto de 2016
Leonardo Boff
O Tempo
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