Sempre negamos a realidade, mesmo quando ela vem de pau para cima de nós. Com tal mentalidade, não há país que se desenvolva
Na primeira metade do século 20, o ofício predileto da elite intelectual e política brasileira era especular sobre nosso atraso como país. Instigados pelo vertiginoso avanço dos Estados Unidos, dedicavam-se a tal tarefa com um afinco admirável.
Alguns diziam que o problema era nossa origem portuguesa: fomos colonizados pelo menor e mais atrasado país da Europa. Outros jogavam a culpa na abolição da escravatura: que esperar de um país que passara a depender do trabalho de negros livres? Alguns, mais sinceros, diziam que o problema estava em todos nós: éramos um país de preguiçosos.
Depois da Segunda Guerra, tivemos uma ideia genial. As causas do nosso atraso estavam no exterior. Eram os estrangeiros: primeiro os ingleses, depois os americanos, as “sete irmãs” petrolíferas, o FMI etc. Essa é que era a verdadeira raiz do mal.
Mas a verdade é que nunca chegamos ao âmago do problema. O problema é que sempre fomos uns tremendos cabeças-duras. A teimosia, eis o elemento que antes nos escapava. Sempre negamos a realidade, mesmo quando ela vem de pau para cima de nós. Com tal mentalidade, não há país que se desenvolva. Dou dois exemplos.
Hoje a economia brasileira está em escombros, numa crise tremenda, que se explica principalmente por nossa mania estatizante. Sempre vimos a empresa estatal como o suprassumo da sabedoria econômica, símbolo de eficiência e imunidade à corrupção. Tanto assim que odiamos o verbo “liberalizar”; o máximo que topamos é “flexibilizar” algumas coisas. Sempre costeando o alambrado. Pois aposto que vamos continuar assim.
Segundo, o sistema presidencialista de governo. Nos convencemos de que se tratava de outra maravilha, o único modelo capaz de assegurar a estabilidade, a eficiência, a unidade de comando etc. E o único congruente com nossas tradições culturais, quero dizer, com nosso velho gosto por líderes “machos”. É verdade que ele às vezes obriga o País a esperar uma eternidade para defenestrar um “presidento” ou uma “presidenta” que prá começo de conversa nunca deveria ter sido eleito(a). Aqui também, aposto que vamos deixar tudo do mesmo jeito. Cabeça dura não tem conserto.
07 de agosto de 2016
Bolivar Lamounier, Resvista IstoÉ
Na primeira metade do século 20, o ofício predileto da elite intelectual e política brasileira era especular sobre nosso atraso como país. Instigados pelo vertiginoso avanço dos Estados Unidos, dedicavam-se a tal tarefa com um afinco admirável.
Alguns diziam que o problema era nossa origem portuguesa: fomos colonizados pelo menor e mais atrasado país da Europa. Outros jogavam a culpa na abolição da escravatura: que esperar de um país que passara a depender do trabalho de negros livres? Alguns, mais sinceros, diziam que o problema estava em todos nós: éramos um país de preguiçosos.
Depois da Segunda Guerra, tivemos uma ideia genial. As causas do nosso atraso estavam no exterior. Eram os estrangeiros: primeiro os ingleses, depois os americanos, as “sete irmãs” petrolíferas, o FMI etc. Essa é que era a verdadeira raiz do mal.
Mas a verdade é que nunca chegamos ao âmago do problema. O problema é que sempre fomos uns tremendos cabeças-duras. A teimosia, eis o elemento que antes nos escapava. Sempre negamos a realidade, mesmo quando ela vem de pau para cima de nós. Com tal mentalidade, não há país que se desenvolva. Dou dois exemplos.
Hoje a economia brasileira está em escombros, numa crise tremenda, que se explica principalmente por nossa mania estatizante. Sempre vimos a empresa estatal como o suprassumo da sabedoria econômica, símbolo de eficiência e imunidade à corrupção. Tanto assim que odiamos o verbo “liberalizar”; o máximo que topamos é “flexibilizar” algumas coisas. Sempre costeando o alambrado. Pois aposto que vamos continuar assim.
Segundo, o sistema presidencialista de governo. Nos convencemos de que se tratava de outra maravilha, o único modelo capaz de assegurar a estabilidade, a eficiência, a unidade de comando etc. E o único congruente com nossas tradições culturais, quero dizer, com nosso velho gosto por líderes “machos”. É verdade que ele às vezes obriga o País a esperar uma eternidade para defenestrar um “presidento” ou uma “presidenta” que prá começo de conversa nunca deveria ter sido eleito(a). Aqui também, aposto que vamos deixar tudo do mesmo jeito. Cabeça dura não tem conserto.
07 de agosto de 2016
Bolivar Lamounier, Resvista IstoÉ
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