Pesquisa realizada pela Confederação Nacional da Indústria – reportagem de Eliane Oliveira, O Globo, de sexta-feira – revela que 34 por cento dos brasileiros se viram obrigados a cancelar seus planos de saúde, em decorrência, é claro, da impossibilidade de pagar as mensalidades. O presidente da CNT, Robson Andrade, afirmou que tal panorama é reflexo da crise que atinge todas as camadas da população.
Crise geral, sim, digo eu, mas que alcança principalmente os trabalhadores e servidores públicos, porque seus salários estão perdendo seguidamente para a inflação oficial do IBGE. A taxa inflacionária de 10,6 por cento, por exemplo, registrada em 2015, ainda não foi compensada. Este ano, até julho, os índices mensais já se elevam a 4 pontos. Portanto, as perdas continuam se acumulando, agora numa escala de 15 por cento. Quer dizer: em agosto de 2016 os salários valem menos 15 degraus do que significam em janeiro do ano passado.
Tem que se acrescentar à crise o desemprego ininterrupto. É um fantasma social gravíssimo. Está na realidade dos quase 12 milhões de atingidos diretamente. Está no temor de todos nós a ameaça de sermos alcançados a qualquer momento. Assim a crise eleva-se ainda mais, levando à retração do consumo e ao medo de assumir novos compromissos.
IMPOSSIBILIDADE – Nos casos dos planos de saúde, inclua-se a impossibilidade de pagar contratos existentes. E ter um plano de saúde é algo essencial para todas as famílias, Mais de um terço, como revela a CNT, desistiram deles e passaram a jogar com a sorte e com a remota perspectiva de, em casos de doença, serem atendidos pela rede do SUS. Mas os cortes não se limitaram aos seguros de saúde. Nada disso. Formam uma cadeia de retrações.
Quarenta e oito por cento passaram a utilizar transportes públicos, 14 por cento trocaram os colégios particulares que pagavam para os seus filhos e filhas por escolas públicas. Dezenove por cento mudaram de residência em face das despesas com aluguel. Sessenta e sete por cento encontram dificuldades para pagar dívidas.
Trata-se de um quadro dramático, que está exigindo rápida reversão. Mais uma vez fica comprovado que os salários são a base de toda a economia. Se eles perdem a corrida contra a inflação, o país recua. Como está recuando, processo inegável comprovado pela redução do Produto Interno Bruto, agravado naturalmente pelo aumento da população.
RENDA DIMINUI – Para calcularmos o efeito exato do declínio, temos que adicionar à queda do PIB, no total de 5,6 trilhões de reais por ano, o aumento demográfico na escala anual de 1 por cento. Portanto,a renda per capita (divisão do PIB pelo número de habitantes) está encolhendo em face dos fracassos que marcaram o governo Dilma Rousseff e ainda não foram concretamente equacionados pelo governo Michel Temer.
Com isso, o impasse permanece. Se houve cortes de 34 por cento nos planos de saúde, facilmente pode-se imaginar os cortes no setor da alimentação, essencial à existência humana.
Some-se a tudo isso a falta de saneamento e a porta fechada para o mercado de trabalho e poderemos chegar a uma visão ainda mais clara da tempestade que desabou sobre o Brasil.
28 de agosto de 2016
Pedro do Coutto
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