Dilma Rousseff faz uma proposta ao Senado que ninguém poderia recusar. Mas quem recusou antes foi o PT. Por 14 a 2. Um 7 a 1 dobrado. |
O PT recusou uma proposta da própria Dilma Rousseff, a presidente afastada, por 14 votos a 2, na Executiva Nacional do partido. Dilma Rousseff e seus dois votos pretendiam publicar um documento propondo um plebiscito por novas eleições.
A proposta de Dilma não é por novas eleições, mas criar um plebiscito para averiguar perante a população se o povo quer novas eleições. As pessoas, então, votariam para definir se gostariam de votar de novo.
O PT, portanto, estava votando para definir se proporia uma votação para o povo, então, votar.
Dilma Rousseff, dentro do PT, perdeu por fragorosos 14 a 2 (montante que é exatamente o dobro de 7 a 1). Ao contrário da análise costumeira, portanto, a presidente afastada Dilma é mais bem tratada e levada a sério na imprensa, na academia, na sociedade, na Lava Jato, no TSE, no STF e até no Twitter do que dentro do PT.
A proposta irrecusável de Dilma de haver novas eleições é retirada ex nihil, como se uma cartola mágica de funcionamento político e institucional do país fosse controlada, por coincidência cirúrgica, pelo que querem os petistas. Ou ao menos era assim, antes de a proposta de Dilma ser rechaçada acachapantemente até por seus apaniguados.
O PT sempre chama o impeachment de “golpe”, mas sabe que tal narrativa tem o mesmo valor de uma nota de 3 reais, e a mesma capacidade de convencer a população (sobretudo, a mesma parcela população). O impeachment segue a Constituição, rito a rito. “Novas eleições” não seguem nada, senão o idioma de Dilma Rousseff. Qualquer presidente eleito por “novas eleições” entraria, portanto, por um golpe.
A mudança se deu porque o PT tem uma narrativa a ser vendida de que representa o povo, e tal confirmação se daria por suas seguidas vitórias “nas urnas” – ainda que as sejam as urnas da Smartimatic ou eleições com “recursos” advindos de propina, troca de favores multimilionários com empreiteiras e contas recusadas por unanimidade pelo Tribunal Superior Eleitoral.
Pedir por novas eleições seria uma forma de atacar o vice de Dilma, hoje muito menos recusado pela população do que a própria Dilma – o famoso “efeito Itamar” do PMDB. Contudo, apesar do desejo do PT de ser adorado, bendito e glorificado pelo povo, Michel Temer é muito mais benquisto pela população, que nem sequer votou nele, do que Dilma Rousseff ou qualquer petista. Incluindo Lula.
Como o PT concorreria em tais eleições, se a popularidade de Lula hoje não transcende as fronteiras dos militantes petistas mais ortodoxos, e mal teria chance de segundo turno? Como ficaria sua narrativa?
“Disputa de narrativas” foi o nome do artigo que o blogueiro Leonardo Sakamoto escreveu para a Caros Amigos deste mês, justamente conclamando por uma operação abafa, um apagar de incêndio, sobre uma esquerda envergonhada de ter votado em Dilma e Temer, para continuar mandando e desmandando no imaginário coletivo brasileiro mesmo assim. Sakamoto, por sinal, é um dos que recebem dinheiro de George Soros para influenciar a opinião pública brasileira.
Dilma, crendo que ao menos seus acólitos poderiam sustentar suas vontades, acabou derrotada pela realidade: nem mesmo o PT tem coragem de se associar à sua triste e macambúzia figura. É o que fazem os candidatos às prefeituras do PT: fingem que nada têm a ver com Dilma Rousseff.
O PT tem como plano de ação, hoje, sobreviver e não ir parar na cadeia. Para isso precisa de uma narrativa com alguma capacidade de chegar a um capítulo 2. O malogro do partido e de figuras como Dilma e Lula é que precisariam de força para isso. Atualmente, os petistas estão em peso apostando que a melhor chance de sobrevivência futura é ser lembrado ao menos como o último a abandonar o barco antes de ter afundado.
24 de agosto de 2016
Flávio Morgenstern
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