"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

terça-feira, 7 de junho de 2016

MORENO FICOU BRANCO DE SUSTO, QUANDO VIU QUE TEMER NÃO IRIA DEMITIR OSÓRIO


Por sua amizade com Temer, Moreno foi usado e se deu mal


















Jorge Bastos Moreno é um dos jornalistas mais conhecidos de Brasília. Tem trânsito livre nas esferas do poder e se orgulha de receber telefonemas do atual presidente da República, Michel Temer.  Embora esteja há mais de 30 anos na estrada da política, o consagrado Moreno ainda demonstra uma certa ingenuidade que os jornalistas veteranos e famosos decididamente não podem cultivar.
Neste sábado, por exemplo, o colunista de O Globo embarcou numa canoa furada, ao anunciar que o ministro Fábio Medina Osório, da Advocacia-Geral da União, estava sendo demitido em situação desonrosa, por ter dado uma “carteirada” para viajar num jatinho da FAB e por ter sido omisso no processo da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), em que o governo foi derrotado na fase liminar.
INFORMANTE MAL INTENCIONADO
Moreno acreditou no informante, não se deu ao trabalho de checar a notícia com a FAB nem com a AGU, foi logo publicando a nota, sob o título “Queda a jato”. O fato é que o ministro Medina Osório realmente corria o risco de ser demitido, mas as alegações acolhidas pelo jornalista eram levianas e mentirosas.
Na própria manhã de sábado, Moreno foi informado de que nada disso acontecera, porque Osório não dera nenhuma “carteirada”, viajara num voo normal, previamente requisitado, e a AGU nada tinha a ver com o processo da EBC, que estava a cargo da Subchefia Jurídica da Casa Civil.
Mesmo assim, apesar de ter recebido esclarecimentos sobre a versão verdadeira, Moreno insistiu em confirmar a demissão de Medina Osório e ainda ironizou: “Se ele soubesse quem me passou essa informação…”
DIFAMAÇÃO PERMANENTE
Inicialmente, os outros jornais acreditaram na nota de Moreno, que se recusou a publicar a versão de Medina Osório, e a intriga palaciana dominou a mídia. Mas pouco a pouco a verdade foi surgindo. Primeiro, saiu a nota da Aeronáutica, no próprio sábado, esclarecendo que o voo fora requisitado legitimamente, para que o ministro cumprisse compromisso oficial, na forma da lei e tudo o mais. Ou seja, não houve “carteirada”.
O Correio Braziliense então se deu ao trabalho de entrevistar Medina Osório, e o ministro explicou que o presidente Temer não consultara a AGU sobre a questão da EBC, preferindo ser defendido pela Casa Civil. Quer dizer, a AGU nada tinha a ver com o processo, Osório ainda tentou ajudar e até orientou a defesa, que depois soube ter sido elaborada equivocadamente pela Subchefia Jurídica da Casa Civil.
Mesmo assim, Moreno continuou “bancando” a informação no site de O Globo. Outros jornalistas da Folha e do Estadão, por saberem que o jornalista global é íntimo de Temer, não somente continuaram a confirmar os termos da matéria furada de Moreno (“carteirada no aeroporto” e “omissão no processo da EBC”), como também acrescentaram outros detalhes depreciativos, tais como “ministro deslumbrado”, “criticado por integrantes da AGU”, “exigiu uma sala no Planalto” e muito mais. Ou seja, ocorreu um verdadeiro festival de difamação, e tudo partia do próprio Planalto, mostrando o alto índice de esculhambação reinante.
APOIO A MEDINA
Como diz o velho ditado, a mentira tem perna curta e a verdade foi aflorando. Depois da nota da FAB, desmentindo a “carteirada”, e da explicação sobre o processo da EBC, Medina Osório foi ganhando total apoio das mais importantes entidades jurídicas, como a Associação dos Juízes Federais do Brasil (AJUFE), o Movimento de Defesa da Advocacia (MDA), o Movimento dos Advogados Públicos Aposentados (MAPA), a Associação Nacional dos Advogados da União (ANAUNI) e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
Na verdade, o ministro da AGU estava sendo demitido por seu incondicional apoio à Lava Jato. Viajara a Curitiba na quarta-feira, junto com um procurador da União e dois assessores, para participar de encontros com a força-tarefa, reforçar a participação da AGU na Lava Jato e fazer uma palestra em evento da Associação dos Juízes Federais do Brasil, em que foi entusiasticamente saudado pelo juiz Sérgio Moro e aclamado pela seleta platéia.
Este era o verdadeiro motivo da demissão de Medina Osório – sua intransigente defesa da Lava Jato e os processos que a AGU está movendo para que os empreiteiros reembolsem os cofres públicos. Apenas isso.
TEMER RECUA
Diante dessa reação avassaladora, Temer não tinha mais condição de demitir Medina Osório, que é um dos ministros que ainda dão uma certa dignidade a um governo repleto de corruptos.
Além disso, o autor da defesa equivocada na Subchefia Jurídica da Casa Civil, Gustavo do Vale Rocha, é figura altamente controversa, para dizer o mínimo. Era advogado do PMDB em Brasília e foi nomeado com apoio dos caciques do partido, como Renan Calheiros, Romero Jucá, Jáder Barbalho, Henrique Eduardo Alves, Edison Lobão e, especialmente, Eduardo Cunha, de quem era advogado particular. Todos eles, altamente envolvidos na Lava Jato.
O pior é que Gustavo Rocha está acumulando ilegalmente a Subchefia Jurídica do Planalto com as funções de integrante do Conselho Nacional do Ministério Público e a atividade de advogado, em afronta direta à legislação, comprometendo a imagem da Casa Civil e da Presidência da República.
Portanto, Temer deveria ter demitido o incompetente Gustavo Rocha e não o jurista Medina Osório. Mas como enfrentar os caciques do PMDB?
MORENO EMBRANQUECEU
Quando viu que Temer não ia mais demitir Medina Osório, o colunista Jorge Bastos Moreno ficou branco de susto (nota da redação: a gente perde o amigo, mas não perde a piada) e enfim percebeu que estava sendo usado pelo Planalto.
Moreno entrou em parafuso, mas teve uma reação altamente irracional. Ao invés de investir contra o informante mal intencionado, manteve fogo cerrado contra Medina Osório, passando a usar repórteres de O Globo em seu blog pessoal, para dizer que Medina Osório estava “passeando” de jatinho, quando todos já sabiam que o ministro apenas cumprira um compromisso oficial, e também para afirmar que o chefe da AGU não foi demitido apenas “por enquanto”. Bem, isso não é jornalismo e pode ser classificado como falta de caráter.
MORENO E MERVAL
No artigo de segunda-feira, aqui na Tribuna da Internet, afirmamos que Dilma Rousseff (a assessoria dela, é claro, porque a presidente afastada não lê jornais há meses, não sabe de nada) anunciou que vai processar Merval Pereira, porém jamais o fará.
Explicamos que a qualidade e o esmero de sua atuação profissional e pessoal transformaram Merval Pereira numa espécie de jornalista imune a processos judiciais. Ninguém consegue usá-lo para “plantar” notícias, tudo o que ele publica é fato comprovado, não há especulação em suas análises políticas.
Esta é a diferença entre Merval e Moreno, que embarcou numa furada dessas, mas continuou tentando difamar Medina Osório, ao invés de fustigar seu leviano “informante”.
CONTRA E A FAVOR DA LAVA JATO
O fato concreto que resta desse inquietante imbróglio é que hoje o governo se divide entre os que estão a favor da Lava Jato e os que estão contra. Portanto, o presidente Temer precisa decidir de que lado pretende ficar, para então mandar que o informante acione seu amigo Moreno e o jornalista possa publicar a notícia em primeiríssima mão, com um mínimo de credibilidade.
O resto, como dizia Érico Veríssimo, é apenas silêncio.

07 de junho de 2016
Carlos Newton

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