Foi-se o tempo em que ser corrupto no Brasil estava ao alcance de qualquer um.
Numa das fabulosas boates do Rio nos anos 50, um boêmio sentado ao lado da mesa de um assessor do ministro da Agricultura, por exemplo, ouvia-o dizer que o governo iria fazer uma importação de tratores. O sujeito puxava conversa e convencia o assessor de que, se essa importação incluísse discretamente 50 Cadillacs rabo-de-peixe, eles poderiam ganhar um bom dinheiro revendendo-os na praça e dividindo a féria. Era assim nos governos Dutra, Getúlio, Juscelino.
No tempo da ditadura, muitos generais trocaram a agrestia dos quartéis, com seu perfume de estrebaria, pela presidência de órgãos públicos, com salários que lhes permitiam pedir reforma do Exército e trocar a casinha no Maracanã pelo apartamento em Copacabana. As obras do "Brasil grande" também podiam não sair das pranchetas, mas, enquanto estavam em estudos, socorriam muitos coronéis desamparados.
Nos governos Sarney, Collor e FHC, foi preciso ser mais criativo para ser corrupto.
Políticos e empresários desenvolveram afinidades jamais sonhadas, donde surgiram as concorrências com cartas marcadas, o loteamento dos cargos públicos e as privatizações marotas. Ali a corrupção começou a encarecer.
Sob Lula e Dilma, explodiu. Nunca neste país foi preciso pagar tanta propina, superfaturar transações, investir em refinarias falidas, subornar políticos, nomear ministros, lubrificar tribunais, silenciar aliados, socorrer amigos, comprar medidas provisórias, pagar por palestras fantasmas e bancar a tomada do Estado por um partido. Para não falar nas boquinhas -é um filho aqui, outro ali, um instituto, um sítio, um tríplex, um pedalinho. E tudo em milhões, nada abaixo de sete dígitos.
Haja dinheiro. Hoje, só bacana pode ser corrupto.
10 de março de 2016
Ruy Castro, Folha de SP
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